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'Les Echos': A corrupção multinacional da Odebrecht

Reportagem descreve escândalo que  tomou conta da América Latina

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Milhares de manifestantes marcharam nas ruas Lima na última quinta-feira (16) denunciando escândalos de corrupção. Na bandeira, estavam ex-presidentes do Peru, Alberto Fujimori, Alejandro Toledo, Alan Garcia, a ex-"primeira-dama" Nadine Heredia e o marido Presidente Ollanta Humala, e o atual líder do país, Pedro Pablo Kuczynski

O jornal francês Les Echos trouxe em sua edição de segunda-feira (20) uma matéria onde conta que vários líderes do continente latino-americano estão agora na mira dos juízes que uniram suas forças para investigar a ligação destes com o caso de corrupção da Odebrecht. 

O povo de Lima chama de "o pequeno Corcovado." Mas a réplica do Cristo Redentor, ícone do Rio de Janeiro, com vista para a capital peruana, já foi renomeado pelos peruanos de "Cristo da corrupção." Motivo? A estátua imponente, com vista para o Pacífico, foi erguida em 2011, com uma doação de US$ 800.000 do grupo brasileiro Odebrecht, que ganhou vários contratos no país andino. O mesmo grupo que recentemente confessou ter pago subornos de U $ 29 milhões para vários funcionários peruanos.

> > Les Echos Odebrecht : le scandale embrase l’Amérique latine

Um mandado de prisão contra o ex-presidente do Peru

Várias manifestações anti-corrupção foram realizadas no país na semana passada, quando um mandado de captura internacional foi emitido contra o ex-presidente Alejandro Toledo, atualmente na Califórnia. Um ex-diretor da Odebrecht do Peru, Jorge Barata, disse que pagou US$ 20 milhões para a comitiva de Toledo aterrar uma construção de uma mega-rodovia entre Peru e Brasil. O recorrente nega qualquer envolvimento no escândalo, mas as provas são cada vez mais contundentes. Um contrato de US $ 7,3 bilhão para a construção de um gasoduto no sul do Peru também foi cancelado. 

Assim, o escândalo da Petrobras, que começou no Brasil com relações fraudulentos entre a empresa estatal de petróleo e grandes grupos de construção da Odebrecht, encontrou a sua continuação no Peru, bem como em outros dez países da região, em Angola e Moçambique. Os presidentes do Panamá e Colômbia, onde um grande contrato  de estrada foi suspenso, também foram implicados, descreve Les Echos.

Corrupção multinacional

Originalmente, a Odebrecht foi criada por um pequeno grupo de familiares brasileiros. Setenta anos mais tarde, tornou-se uma grande multinacional. Após a explosão do escândalo Petrobras, o grupo brasileiro, listado em Wall Street, foi investigado nos Estados Unidos. Promotores norte-americanos estimam que foram pagos cerca de US$ 800 milhões em subornos. Após se declarar culpada, a Odebrecht tem agora de pagar uma multa de US $ 3,5 bilhões.

"Isso demonstra que a Odebrecht do Brasil, é a penetração da corrupção neste país como em toda a América Latina", disse Michael Shifter, presidente do Diálogo Interamericano, um centro de estudos em Washington. Vários governos da região têm reagido, proibindo toda a entrada de novas concessões para a Odebrecht. A extensão das ramificações deste escândalo é tão grande que levou os representantes do Ministério Público de doze países, incluindo Portugal, a se unirem em um acordo firmado no final da semana passada em Brasília para intensificar o intercâmbio de informações. Uma maneira de apertar o cerco em torno da corrupção multinacional.

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