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'Financial Times': Escândalo Odebrecht coloca líderes latino-americanos sob vigilância

Reportagem diz que Michel Temer corre o risco de ter seu mandato cassado

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O jornal Financial Times traz nesta terça-feira (21) uma matéria sobre o escândalo da Odebrecht, empresa de construção brasileira, que vem abalando a classe política e executiva da América Latina. 

Segundo a reportagem quando o presidente peruano, Pedro Pablo Kuczynski, telefonou para o presidente dos EUA, Donald Trump, na semana passada, uma de suas intenções era pedir a extradição do ex-presidente. Suspeita-se que Alejandro Toledo, presidente de 2001 a 2006,tenha recebido 20 milhões de dólares em fundos ilícitos do grupo brasileiro Odebrecht. Acredita-se que Toledo esteja na Califórnia. 

Dois outros ex-presidentes peruanos também estão enfrentando acusações por ligações com a Odebrecht, e o próprio Kuczynski está enfrentando uma investigação preliminar por concordar com uma lei que elimina obstáculos à concessão de contratos rodoviários quando ele era o primeiro-ministro de Toledo, acrescenta o Times.

> > Fincnail Times Odebrecht scandal puts Latin America’s leaders on watch

Mas o Peru é apenas um dos países afetados pela onda de escândalos da Odebrecht, a maior construtora da América Latina, que pagou US $ 788 milhões em subornos em 12 países da região. por conta disto, a Interpol emitiu avisos para os dois filhos de Ricardo Martinelli, ex-presidente do Panamá.

O caso já levou o grupo brasileiro a fechar um acordo com as autoridades dos EUA, Brasil e Suíça para fazer o maior pagamento relacionado à corrupção na história, de cerca de US$ 3,5 bilhões. Mas as repercussões políticas do caso estão se espalhando, abalando governos e políticos em toda a América Latina, descreve o diário britânico.

A ascensão dos governos populistas de esquerda em toda a região na virada do século foi impulsionada pela pobreza e desigualdade, aponta o Financial Times. As autoridades venezuelanas invadiram os escritórios da Odebrecht de Caracas, depois da empresa ter admitido o pagamento de US $ 98 milhões em subornos para funcionários socialistas - o valor mais alto fora do Brasil.

O noticiário afirma que Juan Carlos Varela, líder do Panamá, negou receber doações da Odebrecht, alegado por Ramón Fonseca, do escritório de advocacia no centro do escândalo Panamá Papers e ex-conselheiro. Mas Ramón Arias da Transparência Internacional no Panamá disse que Varela estava "perdendo apoio e legitimidade".

Como a crise econômica continua em toda a região, "as pessoas estão cada vez mais associando o fato de que há uma desaceleração com a corrupção. Eles sentem que se não há dinheiro agora, significa que é porque alguém do governo roubou ", diz Paulina Recalde de uma consultoria no Equador.

"A corrupção era algo presente, mas abstrato. Agora as pessoas realmente sentem que os políticos estavam roubando de seus bolsos. Isso certamente terá conseqüências eleitorais ", explica Luis Benavente, analista político da consultoria Vox Populi, com sede em Lima. "Poderia alimentar facilmente a ascensão de candidatos do anti-estabelecimento."

Já no México, onde a petrolífera estatal Pemex está sendo investigada pela controladora estadual por seus vínculos com a Odebrecht, o populista Andrés Manuel López Obrador está prometendo acabar com a corrupção e varrer a "máfia do poder" em mais uma tentativa de ganhar A presidência no próximo ano, de acordo com o Financial Times.

No Brasil, a investigação abrangente que levou à queda da Odebrecht está entrando em seu quarto ano. A sonda, conhecida como Lava Jato, foi inicialmente focada na estatal Petrobras, um dos principais clientes da Odebrecht, antes de se espalhar para o grupo, contribuiu para a queda da ex-presidente Dilma Rousseff em 2016.

Seu substituto, Michel Temer, também está lutando contra alegações de receber fundos ilegais. Com testemunho de 77 executivos da Odebrecht que deverão ser divulgados em breve pela Suprema Corte, Temer corre o risco de ter seu mandato cassado. 

O escândalo, juntamente com a pior recessão do Brasil em mais de um século, caminha para eleições presidenciais antes do próximo ano. Isso também pode ser o caso na Colômbia, onde o presidente Juan Manuel Santos e um oponente político foram manchados por acusações.