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Haddad diz que Brasil vive "guerra civil fria" e alerta para convulsão social

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O prefeito de São Paulo, Fernando Haddad, disse ter dúvidas se o presidente Michel Temer terá condições de atravessar 2017 e chegar ao final de 2018 para promover as eleições gerais. Em entrevista à Carta Capital deste fim de semana, Haddad afirmou, ainda, que a expectativa de eleições indiretas pelo Congresso Nacional será "um tiro no pé" e que já está estabelecido um ambiente de "guerra civil fria" no país.

"A grande dúvida é se o governo atual reúne condições para atravessar 2017 e 2018, até as eleições gerais previstas. Se alguém na política estiver no aguardo da virada do ano à espera de eleições indiretas, dará um segundo tiro no pé. Uma eleição indireta, com este Congresso e por conta dos possíveis desdobramentos das investigações contra parlamentares, não terá legitimidade. Estamos em uma situação realmente delicada. A saída não está prevista na Constituição. O ambiente foi criado pela guerra civil fria que se estabeleceu no país", analisou Haddad.

A citada guerra civil fria, em alusão ao período em que Estados Unidos e União Soviética travaram por quase meio século uma batalha ideológica com ameaças, mas sem chegar ao enfrentamento com armas, pode evoluir, segundo Haddad, para a convulsão social. Como agravante, ele acredita que "é cada vez menor a margem para o surgimento de uma liderança" capaz de conduzir um arranjo institucional.

"Tudo pode acontecer. O povão não foi para as ruas protestar, ainda aguarda os acontecimentos. Acho possível (uma convulsão social). De forma desorganizada, infelizmente, caótica e violenta. Faltam canais de superação da crise. Os estados enfrentam enormes dificuldades financeiras, as empresas estão endividadas e são obrigadas a demitir".

O prefeito de São Paulo disse que era cético quanto à proposta de antecipar as eleições presidenciais, mas que hoje não vê alternativas. Para Haddad, "a solução é radicalizar a democracia", passando ao largo dos que pedem a volta da ditadura. "Nenhum país saiu de uma crise por esse caminho", avalia a proposta de militares no poder.

Haddad defendeu que os partidos de esquerda no Brasil realizem prévias para a escolha de um único candidato, mas concluiu que "a tendência geral neste momento é de fragmentação, em proveito de interesses de grupos".

"A esquerda precisa dar um contraexemplo: aglutinar, estimular um campo comum no qual cidadãos solidários, democráticos e republicanos possam defender um projeto nacional. (...) sou a favor da realização de prévias para a escolha de um candidato. Ela resultaria em um processo de troca de experiências para a construção de uma plataforma comum. Não adiantaria voltar ao poder sem clareza do que fazer", disse Haddad.

Para o petista, o Brasil, como reflexo do mundo, corre o risco de ter em 2018 uma disputa entre um candidato da direita e outro da extrema-direita. Ele cita os discursos de intolerância, nacionalistas e xenófobos como tópicos das próximas eleições.

"A situação mundial é de desencanto com a globalização. Os trabalhadores europeus e americanos não estão satisfeitos com a distribuição de renda. A globalização vendeu-se como uma socialização do bem-estar, mas promoveu a concentração da riqueza. Há uma retomada dos discursos xenófobos, nacionalistas, intolerantes. Esse clima planetário reflete-se no Brasil. Fiz um alerta, na verdade. Se nada for feito para aglutinar as forças progressistas, a tendência é de que o diálogo se dê entre a direita e a extrema-direita", analisou.

Veja a entrevista de Fernando Haddad na Carta Capital