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'NYT': O mercado da morte no Brasil

Reportagem fala que o país é o segundo maior produtor de armas brancas do hemisfério ocidental

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O jornal norte-americano The New York Times traz em sua edição desta segunda-feira (24) um artigo sobre o mercado de armas do Brasil. 

No início do texto, o jornalista diz que mesmo vivendo uma de suas piores crises políticas e econômicas, os brasileiros deixam de dar a devida importância a certos pontos de discussão, mas existe um tema pouco falado pelo país: a  indústria de armas sem controle e seu envolvimento em conflitos estrangeiros em todo o mundo. O autor acrescenta que este fator não expõe somente a segurança dos cidadãos brasileiros, mas também coloca em risco a reputação internacional do Brasil como um defensor da paz e da diplomacia. 

A publicação do New Yor Times observa um crescente aumento das impressões digitais das maiores empresas de armas do Brasil em pontos de atrito do mundo, incluindo o Iémen, onde milhares de civis estão perecendo em uma guerra sem fim à vista. Uma investigação no mês passado a Forjas Taurus, fabricante de armas de fogo no Brasil, revelou que a empresa forneceu armas a um notório traficante de armas do Iémen. Dois executivos da empresa - a maior da América Latina - foram acusados de tráfico de armas ilegais, embora o caso permanece sob sigilo. A Taurus negou qualquer irregularidade e diz que está trabalhando para "esclarecer os fatos."

> > The New York Times Brazil’s Merchants of Death

O editorial do Times menciona que a guerra civil no Iêmen já matou cerca de 10.000 pessoas desde o início de 2015 e desabrigou mais de três milhões. Os Estados Unidos, que tem prestado apoio material e logístico para a campanha de bombardeio da Arábia Saudita, tem estado sob intensa pressão para esclarecer o seu envolvimento na guerra civil, assim como sua responsabilidade cada vez mais direta no conflito.

Os dois executivos da Taurus foram acusados de negociar uma segunda venda de 11.000 armas em 2015, quando a Polícia Federal do Brasil foi até lá, fala o noticiário.

Esta não é a primeira vez que as armas brasileiras apareceram em conflitos no Iémen, ressalta Robert Muggah para o New York Times. No ano passado os pesquisadores descobriram munições e bombas de fragmentação no Iêmen, possivelmente compradas da Avibras Indústria Aeroespacial, uma empresa baseada em São José dos Campos que fabrica foguetes de fragmentação e sistema de lançamento múltiplo de foguetes. Mais de 100 países já proibiram a fabricação, armazenagem e utilização dessas armas por conta de seu potencial de causar danos indiscriminados à população civil e infra-estrutura. O Brasil não é um deles.

O diário revela que o Brasil autoriza rotineiramente vendas de armas para países com históricos de direitos humanos. O país assinou importantes acordos não só com a Arábia Saudita, mas também com o Egipto, Líbia, Irã, Iraque, Emirados Árabes Unidos, Zimbabwe e dezenas de países em todo o Oriente Médio e África desde a década de 1980. As empresas brasileiras também têm contrato de venda de armas "não letais", como gás lacrimogêneo, spray de pimenta e granadas. Alguns deles vieram à tona no Bahrein, Turquia e Egito, muitas vezes, na sequência dos esforços de policiais para conter manifestações pró-democracia.

O autor destaca que muitos dos fabricantes de armas do Brasil foram fortemente subsidiados pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico, ou BNDES. Liberdade de pedidos de informação revelam que a Taurus recebeu US $ 16,7 milhões em empréstimos a juros baixos, entre 2008 e 2015. Só em 2013, a empresa teria vendido 8.000 pistolas ao Mana'a, a empresa beneficiou de $ 10 milhões em empréstimos do BNDES. O cartucho da empresa Brasileira, um dos maiores produtores mundiais de munição (e acionista majoritário da Taurus), recebeu US $ 2,9 milhões em empréstimos durante o mesmo período de oito anos. O setor de defesa do Brasil, com exceção de aeronáutica, recebeu US $ 70,5 milhões em empréstimos do BNDES de 2008 a 2015. Agora o BNDES está envolvido no maior escândalo de corrupção do Brasil.

Uma razão para a exportação de armas brasileiras estar aumentando em uma velocidade vertiginosa é porque o Congresso do Brasil aprovou uma lei para promover a inovação e a concorrência neste setor de defesa. O imposto do Brasil em cima destes produtos é bem significativo e hoje o país é o quarto maior fornecedor de armas brancas e munições do mundo, em segundo lugar no Hemisfério Ocidental, atrás apenas dos Estados Unidos.

O fato é que ninguém realmente sabe quantas armas o Brasil vende em todo o mundo, seja pela lei ou fora dela. As políticas de exportação de armas do país são confusas, sem supervisão e mecanismos adequados para garantir que as pessoas que usam as armas respeitem o direito internacional. O Brasil está ao lado de China e da Ucrânia, quando se trata de relatar suas transferências de armas para as autoridades internacionais. Embora diplomatas brasileiros discordem. Talvez isso não seja tão surpreendente, dado que a política oficial de armas do Brasil ainda é amplamente baseado em decretos da época ditadura militar dos anos 1960 e 70, finaliza o New York Times.