Em depoimento prestado para a Polícia Federal nesta segunda-feira (24), o diretor da Polícia do Senado, Pedro Ricardo Araújo Carvalho, afirmou que, quando presidia a Câmara, o deputado cassado Eduardo Cunha (PMDB-RJ) pediu uma varredura na residência oficial da presidência da Casa. O pedido foi atendido na ocasião pela polícia legislativa.
Carvalho acrescentou que a varredura foi realizada na residência oficial depois que Cunha teve a casa vasculhada pela Polícia Federal em dezembro do ano passado, em uma das etapas da Lava Jato autorizada pelo Supremo Tribunal Federal.
Os outros três policiais legislativos presos - Geraldo Cesar de Deus Oliveira, Everton Taborda e Antonio Tavares - já prestaram depoimento na sexta-feira e foram liberados.
Na decisão que autorizou a operação no Senado, o juiz federal Vallisney de Souza Oliveira apontou Pedro Carvalho como "principal responsável" e afirmou que ele "exerce a liderança da associação criminosa".
A PF apreendeu 15 equipamentos de varredura que passam por perícia. Os aparelhos têm capacidade tanto para identificar quanto para realizar grampos e escutas ambientais.
Com a perícia, a PF quer saber exatamente de que forma os aparelhos foram usados. O laudo deve revelar locais, datas e serviços realizados por cada um dos equipamentos. A perícia ainda deve durar alguns dias.
>> PF prende policiais legislativos suspeitos de obstruir investigações da Lava Jato
>> MPF diz que varreduras da Polícia Legislativa são ilegais; senadores contestam
>> Renan defende Polícia Legislativa e diz que independência dos poderes precisa ser reiterada
Operação Métis
A Polícia Federal cumpriu, na sexta-feira (18), mandados judiciais no Senado Federal ligados à Operação Métis, que apura a atuação de agentes da Polícia Legislativa para atrapalhar as investigações da Operação Lava Jato e também de outros casos envolvendo políticos.
Quatro mandados foram de prisão temporária de membros da Polícia Legislativa. A PF aponta o diretor da Polícia do Senado, Pedro Ricardo Araújo de Carvalho, como líder do grupo que utilizava a estrutura de inteligência da Polícia Legislativa para atrapalhar investigações contra senadores e ex-senadores. Carvalho foi preso temporariamente, junto com os agentes Everton Taborda, Geraldo Cézar e Antônio Tavares. Todos foram levados para a Superintendência da PF em Brasília.
A ação da PF foi autorizada pelo juiz Vallisney de Souza Oliveira, da 10ª Vara da Justiça Federal, no Distrito Federal, que ordenou também a suspensão das atividades funcionais dos acusados.
No pedido de prisão temporária, o Ministério Público Federal afirma ter obtido provas de que os policiais legislativos realizaram ações de contrainteligência em busca de escutas instaladas pela PF nos endereços de três senadores e de um ex-parlamentar. Os parlamentares beneficiados teriam sido a senadora Gleisi Hoffman (PT-PR), os senadores Fernando Collor (PTC-AL) e Edison Lobão (PMDB-MA) e o ex-senador José Sarney.
>> Advogados pedem a liberdade de Eduardo Cunha
Os agentes permaneceram por cerca de três horas nos gabinetes da Polícia Legislativa do Senado, no subsolo da Casa, de onde retiraram dez malas de documentos e equipamentos utilizados para rastrear grampos. A Polícia Federal negou que estejam sendo cumpridos mandados em gabinetes ou endereços de políticos.
De acordo com a PF, Pedro Ricardo Araújo de Carvalho “ordenou a prática de atos de intimidação à Polícia Federal, no cumprimento de mandado expedido pelo Supremo Tribunal Federal em apartamento funcional de senador”. Ele é homem de confiança do presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL) que encontra-se em Maceió nesta sexta-feira, segundo a assessoria.
O grupo vai responder pelo crimes de associação criminosa armada, corrupção privilegiada e embaraço à investigação de infração penal. Somadas, as penas podem chegar a 14 anos de prisão, além de multa.