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Áreas nobres de Brasília gastam até 4 vezes mais água que o razoável

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Em estado de alerta com relação aos níveis dos reservatórios que fornecem água para a região, a população da área mais nobre do Distrito Federal tem o maior consumo de água do país. Segundo o professor da Universidade de Brasília, Sérgio Koide, doutor em Recursos Hídricos, a Asa Norte e a Asa Sul consomem o dobro do considerado razoável. Já o Lago Norte e o Lago Sul gastam quatro vezes mais.

Para a Agência Reguladora de Águas, Energia e Saneamento do DF (Adasa), 150 litros diários por pessoa é um consumo considerado razoável. Já a média recomendada pela Organização Mundial da Saúde (OMS) é 100 litros por habitante.

Enquanto isso, a população das Asas Norte e Sul gasta cerca de 400 litros de água por pessoa ao dia, e a dos Lagos Norte e Sul, com suas piscinas e gramados, chega a consumir mais de 800 litros de água por pessoa diariamente.

“Se pegar a população das regiões administrativas, como Ceilândia e Samambaia, o consumo é igual ao do restante do Brasil. Porém, a população mais abastada tem esse gasto exorbitante, perdulário”, explicou o professor.

O Distrito Federal é abastecido de água por dois diferentes esquemas: 85% da população recebem água de dois reservatórios, o do Descoberto e o de Santa Maria; e os outros 15% e parte dos produtores agrícolas consomem água de pelo menos cinco córregos. Esta última foi afetada este mês pelo rodízio de suspensão de água.

A parcela dos brasilienses que recebe água dos reservatórios não passou por racionamento, porém, precisa economizar para evitar a falta do líquido. Dados da Adasa mostram que o principal reservatório do Distrito Federal, o Descoberto, responsável pelo abastecimento de cerca de 65% da população, estava em estado de alerta, com pouco menos de 37% da sua capacidade de armazenamento na sexta-feira, dia 23.

Segundo Koide, esta reserva só abastece sua região por menos de dois meses, se a situação de consumo não mudar e as chuvas não vierem com boa intensidade. Enquanto isso, o Santa Maria, que abastece a outra parte da população, está com 48% da capacidade, em estado de atenção. O ideal é que as reservas fiquem acima dos 60%, para uma situação mais confortável.

“Essa população (da região central de Brasília) tem que se conscientizar que está no momento de começar a rever esse consumo. Muitas dessas atitudes nem são tão difíceis, começam com um investimento pequeno como trocar o vaso antigo, colocar torneira eficiente. Para essa população do Plano Piloto e dos Lagos isso não custa caro”, frisou Koide.

Risco de Desabastecimento

De acordo com Sérgio Koide, se não chover e o consumo no Distrito Federal não diminuir, a previsão é a barragem do Descoberto só seria capaz de fornecer água por, no máximo, dois meses. Porém, as chuvas, que começaram a molhar a região na última sexta-feira (23), podem reverter a situação. Neste sábado (24), choveu em várias regiões do Distrito Federal (DF).

Em Brasília, a atual preocupação das autoridades é encontrar alternativas para aumentar a captação de água, já que a população da região é uma das que mais cresce no país. A redução das perdas no sistema e a conscientização da população também estão entre as prioridades.

Para especialistas, “um sinal amarelo está aceso” na região. Segundo eles, nos horários de pico, o sistema de abastecimento de água chega a operar no limite. A previsão é que, com o aumento da população e, consequentemente, da demanda, o DF poderá sofrer com a falta de água a partir de 2018, caso não sejam tomadas medidas que aumentem a disponibilidade de água.

Segundo o presidente da Adasa, Paulo Salles, como forma de economia, a agência autorizou a Caesb (Companhia de Saneamento Ambiental do DF) a diminuir a pressão da água dos moradores durante a noite, entre 22h e 5h. “A pessoa continua recebendo água, mas com pressão menor, então não faz aquele jato forte na torneira, dependendo do lugar que está”, disse Salles à Agência Brasil.

Novas fontes

A solução para aumentar a quantidade de água disponível está na conclusão de três projetos liderados pela Caesb: a captação de água do Lago Paranoá, localizado no centro de Brasília, do reservatório Corumbá 4, situado no estado de Goiás, e do Ribeirão Bananal, ao norte da capital. Segundo a Caesb, quando concluídas as obras para captação nesses locais, será possível obter mais 6,5 mil litros de água por segundo para o DF – o suficiente para abastecer a população até 2040.

A obra de Corumbá 4 está em execução e é feita em parceria com a Saneamento de Goiás S/A (Saneago). Segundo o presidente da Adasa, Paulo Salles, a estimativa é que até 2019 a população possa contar com essa fonte.

“Até essas obras terminarem, tudo indica que não antes de dois ou três anos, nos anos próximos anos, se tivermos períodos de seca como esse ano, a gente pode repetir o problema de 2016. Não é uma situação tranquila”, disse Koide.

Segundo o especialista, as novas fontes devem fornecer a Brasília uma situação mais confortável em aproximadamente cinco anos. “Mas isso só dura outros cinco anos. A gente não pode esquecer que o que está por trás desses problemas todos é o crescimento populacional do Distrito Federal, que é maior que do resto do país. O crescimento populacional aqui está completamente fora do padrão brasileiro”.