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Cardozo se emociona e fala em injustiça contra Dilma

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Ao deixar o plenário do Senado para o intervalo do almoço, José Eduardo Cardozo, advogado de defesa da presidenta afastada Dilma Rousseff, foi às lágrimas ao conversar com jornalistas. “Nunca deixei de me emocionar diante da injustiça. Aquele que perde a emoção diante da injustiça se desumanizou”, disse.

Cardozo disse que as palavras da acusação foram “muito duras”. “Para quem conhece Dilma Rousseff, pedir sua acusação para defender seus netos é algo que me atingiu muito fortemente”, disse ao se referir à fala final da colega Janaina Paschoal (acusação) que pediu desculpas à presidente da República afastada por saber que a situação que ela vive não é fácil e, como uma das autoras do processo, ter causado sofrimento à petista. "Peço que ela um dia entenda que eu fiz isso pensando também nos netos dela", disse Janaína.

“Achei profundamente injusta a menção aos netos. Eu não condeno alguém dizendo que vou resolver o futuro dos netos”, disse Cardozo.

Sobre o resultado do julgamento que deve ser conhecido amanhã (31), o líder do PT no Senado, Humberto Costa (PE), disse que ontem estava muito desanimado, mas hoje está otimista. Segundo Costa, cerca de dez senadores ainda estão indecisos e podem votar favoravelmente à Dilma. O petista, no entanto, não arriscou o placar. Ele acrescentou que a presidenta está acompanhando hoje o julgamento do Palácio do Alvorada e que, nos bastidores, muitas conversas estão sendo travadas com os indecisos.

O presidente do Supremo Tribunal Federal, Ricardo Lewandowski, que comanda a sessão, suspendeu os trabalhos para o almoço por uma hora e retomará o julgamento as 14h10. No retorno, acusação e defesa voltam a ter a palavra para fazer a réplica e a tréplica. Para cada um desses passos, eles terão mais uma hora.

Defesa

Cardozo, em sua fala, afirmou que a petista está sendo afastada “sem que o povo que a elegeu tenha entendido minimamente o crime que tenha praticado”. Durante o quinto dia de julgamento pelo Senado, Cardozo, em uma hora e meia, insistiu na falta de provas sobre a prática de qualquer crime e afirmou que Dilma é honesta.

“Me dói, não como advogado, mas como ser humano. Não é justo falar o que falaram aqui de Dilma Rousseff. Querem condenar, condenem, mas não enxovalhem a reputação de uma mulher digna”, pediu. Segundo ele, bastava Dilma “cheirar” algo errado que ela “ia na jugular dos seus ministros”, o que lhe conferiu adjetivos como autoritária e dura. “Mulheres que são corretas são duras”, afirmou.

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Reforçando as alegações usadas pela presidenta afastada e os mesmos pontos que vem apresentando ao longo do processo de impeachment, Cardozo ressaltou que as acusações contra Dilma são confusas e, no fundo, não passam de pretextos. “A maior parte da população brasileira não saberá quais foram as reais acusações. São pretextos. Pretextos irrelevantes”, afirmou. Segundo ele, os partidos favoráveis ao impeachment estão afastando a petista por ela ser “uma mulher que incomoda” e que todo o trabalho de desestabilização de seu governo começou a partir da sua reeleição.

“Talvez daqui a um tempo ninguém mais lembre das acusações dirigidas a Dilma. Porque ela ousou ganhar uma eleição afrontando interesses dos que queriam comandar o país”, afirmou. Cardozo disse ainda que o trabalho para desestabilizar o governo dela começou no minuto seguinte em que Dilma ganhou as eleições presidenciais, em 2014.

“Uma eleição legitima, em que houve uma vencedora e derrotados”, disse, citando as acusações de que houve compra de votos em troca do benefício do Bolsa Família, seguido do pedido de auditoria das urnas eletrônicas e uma denúncia para impugnar as contas da presidente afastada. “Diante da inconsistência em se deslegitimar sua reeleição começou a se procurar fatos do impeachment a todo momento. Além da dificuldade em se achar um fato, havia um problema. Naquele momento, a oposição não havia força para fazer nada."

José Eduardo Cardozo também insistiu na tese de que o responsável pelo andamento do processo de afastamento tem nome e sobrenome: Eduardo Cunha. “Cunha, contra a posição de Dilma, assume a presidência da Câmara e começa o processo de desestabilizar a presidência. Pare a Lava Jato, porque se não esse governo será desestabilizado. Dilma se recusou e encarou Cunha, como encarou seus algozes em sua juventude. E disse: 'Me enfrente!' ao deputado", relatou.

Na abertura da sua fala, o advogado da petista lembrou que esta não é a primeira vez que Dilma sentará no banco dos réus. Ele lembrou que na ditadura militar, Dilma foi julgada três vezes por lutar a favor da democracia e contra a ditadura. “Era essa a acusação formal? Não. Eram pretextos, que estavam lá nos dispositivos. Talvez ela nem se lembre, porque era irrelevante", disse, sugerindo uma analogia ao julgamento atual.

Ainda em tom de crítica às manifestações de senadores defensores do impeachment, Cardozo disse que, também na ditadura, o julgamento se baseava no “conjunto da obra”. "É pelo conjunto da obra que se punia a dedo as pessoas que se queria punir, pois se precisava matar a obra. Dilma Rousseff passou três anos presa, teve seus direitos suspensos e foi brutalmente torturada”, lembrou.

Janaína chora e diz que faz a acusação "pelos netos" de Dilma Rousseff

A advogada da acusação Janaína Paschoal foi a primeira a falar nesta terça-feira (30), durante sessão de julgamento do impeachment da presidente Dilma Rousseff.  A advogada destacou que o "impeachment é um remédio constitucional, ao qual nós precisamos recorrer quando a situação se revela especialmente grave, que é o que aconteceu".

Janaína afirmou ainda que processo segue todos os ritos legais "para que o povo brasileiro tenha consciência tranquila de que nada fora do que é legal e do é legítimo está sendo feito nesta oportunidade."

Janaína pediu também desculpas à presidente afastada por "ter lhe causado sofrimento" e chegou a chorar no fim do discurso. "Estou fazendo isso também pelos seus netos."

A advogada afirmou que, como mulher, sofreu "mais que ninguém" por ter solicitado o afastamento de Dilma, pelo fato de ser a primeira mulher na Presidência da República. "Ninguém pode ser perseguido por ser mulher. No entanto, ninguém pode ser protegido por ser mulher. Fosse um homem, eu pediria o impedimento. Não seria justo que eu assim não procedesse pelo fato de ser mulher”, afirmou

A advogada disse que foi Deus quem fez com que juristas e outros segmentos do país percebessem o momento que o Brasil atravessava. “Foi Deus que fez com que várias pessoas, ao mesmo tempo, cada uma com sua competência, percebessem o que estava acontecendo ao nosso país e conferissem a coragem para se levantarem e fazerem alguma coisa a respeito”, completou.

Com Agência Brasil