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'Clarín': Macri e Temer terão primeiro encontro nas Olimpíadas

Jornal argentino questiona: que mudou entre Brasil e Argentina?

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Matéria publicada neste sábado (23) no jornal argentino Clarín conta que o presidente argentino participará da abertura dos Jogos Olímpicos, no dia cinco de agosto. Algo mudou na relação entre os dois países nos últimos tempos. Será o primeiro encontro entre Mauricio Macri e o presidente interino Michel Temer. A expectativa, até o momento, é que será um encontro rápido porque outras autoridades estrangeiras são esperadas para a mesma cerimônia, no Maracanã, no Rio de Janeiro. Mas as equipes dos dois governos têm se falado com frequência sobre temas que envolvem de economia à área de defesa – os ministros argentinos da Produção e da Defesa visitaram o Brasil recentemente e o ministro brasileiro das Relações Exteriores José Serra esteve na Argentina, na sua primeira visita internacional após ter sido empossado.

O Clarín lembra que Macri esteve em Brasília, em dezembro passado, para encontro com a presidente Dilma Rousseff, agora afastada até a votação prevista para o fim de agosto, que definirá por seu impeachment ou sua recondução à Presidência. A Argentina, como outros países, enviará comitivas de policiais para trabalhos conjuntos com a segurança oficial brasileira durante os jogos. Mas essa participação já tinha sido definida antes do afastamento de Dilma, em maio, contaram negociadores brasileiros.

O que mudou na relação entre os dois países?

O Clarín fala que segundo fontes de Brasília, foi a “fluidez do diálogo” entre autoridades dos dois países. Reuniões, telefonemas e recepções fazem parte das agendas bilaterais, contaram. Quando Cristina Kirchner era presidente, o governo brasileiro encontrava dificuldades para falar com ministros e assessores argentinos, mesmo durante a gestão de Lula e de Dilma Rousseff, definidos pela então presidente argentina como “amigos”. Eram tempos de “minha querida amiga Cristina” pra cá e “meu amigo Lula” e “minha amiga Dilma” pra lá, como se definiam publicamente. No entanto, era comum que telefonemas de Brasília para assessores do governo de Cristina não fossem retornados. A relação era entre os presidentes, mas os subordinados de Cristina ficavam paralisados à espera de orientação da chefia e mesmo acordos assinados não saiam do papel à espera de ordens superiores, lembraram negociadores brasileiros. “Imperava o silêncio”, recordam.

O jornal argentino acrescenta que caso seja confirmado no cargo, como esperam seus aliados, Temer faria uma viagem em setembro à China e provavelmente – ainda sem data certa – a Argentina. País que é acompanhado atentamente por autoridades e investidores brasileiros.

“Macri está nos surpreendendo como político. Mesmo sem maioria no Congresso tem aprovado os projetos do governo. Mas é realmente preocupante o nível de inflação e o custo para os argentinos e o investidor”, disseram, sob a condição do anonimato.

Clarín questiona o caso de visitas frequentes de autoridades estrangeiras à Argentina e não sempre ao Brasil, ao contrário do que ocorreu durante o kirchnerismo? Caso de Obama que veio a Buenos Aires, mas não foi a Brasília?

“Não existe isso de ciúmes na área de relações internacionais. A Argentina é um país importante e é natural que receba estas visitas. O mesmo não ocorreu quando o presidente do Paraguai tomou posse. Além disso, o Brasil está em uma situação diferente (Dilma afastada e Temer de interino”, disse uma fonte de Brasília, sob a condição do anonimato.

O jornal ressalta que para evitar ser acusado de tentar “qualquer ingerência”, como afirmaram diplomatas argentinos nas questões internas do Brasil, Macri não teria falado com Dilma ou com Temer durante os dias que antecederam a votação sobre a admissibilidade do processo de impeachment da presidente e seu afastamento em maio passado.

“Nossas equipes se falam mas os presidentes não”, disseram.

O Clarín aponta que os dois países encaram hoje uma recessão econômica – aqui na Argentina atribuem parte deste quadro aos efeitos da retração brasileira – e uma série de pautas que aguardam as definições políticas no Brasil. A reunião do Mercosul, por exemplo, foi adiada por falta de acordo para que a Venezuela assuma a presidência temporária e semestral do bloco. Os ministros das Relações Exteriores do Mercosul – Brasil, Argentina, Paraguai, Uruguai e Venezuela – devem voltar a se reunir em agosto, em Montevidéu. Enquanto isso, aqui na Argentina, passou a ser frequente ouvir de investidores do setor de agronegócios que a relação com o governo nacional “voltou à normalidade”.

“Não existia diálogo, não existia relação, somente criticas e barreiras comerciais”, disse o vice-presidente da Sociedade Rural Argentina, Daniel Pelegrina, durante almoço na feira anual do setor, no bairro de Palermo, aqui em Buenos Aires.

“No Brasil, no Uruguai, no Chile, é normal que presidentes e ministros compareçam às exposições de agronegócios. É uma forma de apoio. Aqui não foi assim (durante os anos do Kirchnerismo – 2003-2015”, disse.

Para finalizar, o Clarín afirma que Macri é esperado para a abertura do encontro no dia 30 de julho próximo. Mas nem tudo são flores. A inflação, como observaram negociadores brasileiros, é o desafio do governo Macri. O índice chegaria a cerca de 40% este ano, segundo especialistas. Os ajustes aplicados nos primeiros sete meses de gestão – como o aumento das tarifas dos serviços públicos – pressionou o bolso dos argentinos. O comércio despencou e a invasão de investimentos esperados ainda não aconteceu. O governo Macri agora espera que a decolagem econômica ocorra em 2017. No Brasil, também.