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Carlinhos Cachoeira e Fernando Cavendish são alvos de operação da PF

Policiais cumprem mandados de prisão e de busca no Rio, Goiânia e São Paulo

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Policiais federais cumpriram nesta quinta-feira (30) cinco mandados de prisão de acusados de participar em um esquema de desvio de verbas públicas e lavagem de dinheiro, no valor de R$ 370 milhões. De acordo com o Ministério Público Federal (MPF), os principais acusados são Fernando Cavendish, ex-presidente e principal acionista da empreiteira Delta Construções, e o bicheiro Carlos Augusto Ramos, conhecido como Carlinhos Cachoeira.

Cachoeira já foi preso em Goiânia, juntamente com o ex-diretor da Delta Construções Cláudio Abreu. Agentes federais estiveram no apartamento de Cavendish, no Leblon, Zona Sul do Rio de Janeiro, durante a manhã, mas o empresário não foi encontrado. Os policiais saíram do local levando um cofre.

>>Cachoeira, Assad e ex-diretor da Delta depõem na PF no Rio de Janeiro

O chefe da delegacia de Repressão à Corrupção e Crimes Financeiros, Tácio Muzzi, explicou que Cavendish viajou para Europa no dia 22 último e ainda não foi localizado. Segundo a Folha de S.Paulo, Cavendish está em Ibiza e sua volta estaria programada para a próxima segunda-feira (4). Amigos afirmam que o empresário viajou para a ilha depois de participar de um casamento na ilha de Miconos, na Grécia, no sábado.

"Estamos esperando uma resposta dos advogados, mas se não houver contato, certamente vamos acionar a Interpol e tomar outras medidas", disse. As duas pessoas que não foram presas ainda não são consideradas foragidas.

Também foi expedido mandado de prisão contra o empresário Adir Assad, já condenado na Lava Jato por lavagem de dinheiro e associação criminosa. No total, o Ministério Público Federal denunciou 23 pessoas no âmbito na Operação Saqueador –- entre executivos, diretores, tesoureira e conselheiros da empreiteira, além de proprietários e contadores de empresas fantasmas, criadas por Carlinhos Cachoeira, Adir Assad e Marcelo Abbud.

Aproximadamente 100 policiais dão cumprimento a 20 mandados de busca e apreensão  nos Estados do Rio de Janeiro, São Paulo e Goiás, envolvendo sede e filial de empresa de engenharia, seu controlador e pessoas relacionadas ao suposto esquema criminoso.

Em entrevista ao jornal O Globo, o procurador da República Leandro Mitidieri disse que a força tarefa da Lava Jato no Rio de Janeiro já investiga a possibilidade do envolvimento de políticos no esquema.

Empresas fantasmas e obras inexistentes

Entre 2007 e 2012, 96% do faturamento da Delta veio de verba pública -- R$ 11 bilhões. De acordo com o Ministério Público, desse valor, R$ 370 milhões foram "lavados" pelos operadores do esquema com contratos com 18 empresas de fachada. O dinheiro era usado para pagar propina a agentes públicos, a maior parte em anos de eleição.

As empresas não existiam, assim como os serviços e os funcionários. A receita também era incompatível com a despesa. Foram feitos repasses, por exemplo, de R$ 80 milhões para uma obra inexistente chamada Transposição do Rio Turvo, no Rio.

As empresas de Assad e Abbud emitiam notas frias não só para a Delta, mas para muitas outras empresas. De acordo com as investigações, o esquema também serviu de suporte à corrupção na Petrobras.

A investigação contou com o auxílio da força-tarefa da Lava Jato, já que o esquema também foi usado para lavar dinheiro. O STF, por sua vez, autorizou o uso de trechos da delação de executivos da Andrade Gutierrez. O juiz responsável pelo caso é Marcelo Bretas, da 7ª Vara da Justiça Federal do Rio de Janeiro, que também comanda ações da Eletronuclear, em desmembramento da Lava Jato.

A Delta é citada em irregularidades em obras do Dnit (Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes) e na construção do parque aquático Maria Lenk, obra de 2006 para os Jogos Pan-americanos de 2007, segundo o procurador Leandro Mitidieri. O MPF constatou fraudes em licitações, superfaturamento, desvios de dinheiro público e pagamentos indevidos em projetos.

"Em cada uma das obras que conseguimos identificar, a Delta obteve alguma vantagem. No caso do parque Maria Lenk houve uma dispensa indevida de licitação. Há casos em que as obras sequer foram feitas", disse Mitidieri.

Investigações

As investigações da PF, que duraram aproximadamente três anos, resultaram no indiciamento de 29 pessoas suspeitas de desvios de recursos federais destinados para diversas obras públicas. Com base no Inquérito Policial da PF, 23 pessoas foram denunciadas pelo Ministério Público Federal (MPF). 

No decorrer das investigações, a PF já havia efetuado o cumprimento de 20 mandados de busca e apreensão nos três Estados para a obtenção dos elementos de prova.

CPI

O trabalho teve origem  a partir do envio de documentação pela Comissão Mista Parlamentar de Inquérito instaurada no ano de 2012 para investigar Organização Criminosa que atuava no Estado de Goiás.

A Polícia Federal destaca que o material foi imprescindível para o início das investigações na medida em que as informações nominaram as empresas de fachada que supostamente recebiam valores desviados da pessoa jurídica investigada no presente apuratório.

Comprovada a suspeita, os responsáveis irão responder pelo crime de lavagem de dinheiro, formação de quadrilha, corrupção ativa e passiva, peculato, entre outros.

Delação premiada

Para Leandro Mitidieri, o esquema começou a ser desvendado na Operação Vegas, foi melhor identificado na Operação Monte Carlo e finalmente elucidado pela Operação Saqueador, tendo alimentado a Operação Lava Jato, por meio de compartilhamento de provas.

Ainda segundo Mitidieri, a recente delação premiada dos prepostos da empresa Andrade Gutierrez S/A confirmou que a investigação estava no caminho certo.

Com Agência Brasil