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Banco Central reduz projeção de crescimento do crédito para 1%

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Com queda da atividade econômica e taxas de juros mais altas, o crédito no país deve crescer apenas 1%, este ano, de acordo com projeção do Banco Central (BC), divulgada hoje (27). A estimativa anterior da instituição, divulgada em março, era de crescimento do saldo das operações de crédito concedido pelos bancos de 5%.

Essa taxa de crescimento do saldo total de crédito só será possível devido à expectativa de expansão do crédito direcionado (empréstimos com regras definidas pelo governo, destinados, basicamente, aos setores habitacional, rural e de infraestrutura), que, na previsão do BC, deve apresentar expansão de 3% este ano. A projeção anterior era 7%. No crédito direcionado estão financiamentos como o da casa própria, crédito rural, microcrédito e empréstimos com recursos do Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).

No caso do crédito livre, em que os bancos têm autonomia para emprestar o dinheiro e definir as taxas de juros, a expectativa agora é de queda do saldo, este ano, em 1%. A estimativa anterior era crescimento de 2%. No crédito livre, estão empréstimos como os de cartão de crédito para a compra de veículos, crédito consignado (com prestações descontadas em folha de pagamento) e cheque especial. No caso das empresas, estão incluídos no crédito livre capital de giro, desconto de cheques e antecipação de faturas de cartão, por exemplo.

Em maio deste ano, o saldo de todas as operações de crédito chegou a R$ 3,144 trilhões. Desse total, R$ 1,579 trilhão era de crédito livre e R$ 1,565 trilhão de empréstimos direcionados.

Segundo o chefe do Departamento Econômico do BC, Tulio Maciel, a projeção foi revista depois da queda inédita no saldo do crédito nos primeiros quatro meses deste ano. Em maio, houve uma interrupção desse encolhimento do saldo de crédito no país, mas a expansão ficou em apenas 0,1% em relação a abril. De acordo com Maciel, esse pequeno aumento teve influência das vendas para o Dia das Mães, em maio.

Maciel destacou que a queda na atividade econômica, em um ambiente de incertezas no início deste ano, afetou o mercado de crédito. Sem confiança, os bancos evitam emprestar e os clientes não procuram empréstimos devido à incerteza se terá renda para pagar o financiamento no futuro. “Indicadores de confiança vem mostrando alguma recuperação, mas o movimento ainda é muito incipiente para que vejamos alguma reação no mercado de crédito”, disse.

Brexit

De acordo com Maciel, as novas projeções do Banco Central levaram em consideração todas as informações disponíveis até a última sexta-feira (24), incluindo a decisão dos britânicos de deixar a União Europeia. O chamado Brexit – união das palavras Britain (Grã-Bretanha) e exit (saída, em inglês) tem levado a oscilações no mercado financeiro, com queda das ações de bancos.

Maciel destacou que a fonte de recursos dos bancos no Brasil para ofertar crédito é “em grande parte” doméstica. Por isso, não há influência do Brexit no mercado de crédito no país. “O mercado financeiro se encontra com fundamentos sólidos em termos de indicadores de liquidez, de capital, de provisionamento. Isso contribui muito para enfrentar movimentos de incertezas”, disse.

Bancos

A projeção do BC para o crescimento do saldo do crédito ofertado por bancos públicos este ano foi cortada pela metade, para 4%. No caso dos bancos privados nacionais, a estimativa de queda no saldo passou de 1% para 4%. Já a projeção para a expansão do saldo do crédito de bancos privados estrangeiros foi reduzida de 4% para 1%.

Em relação a tudo o que o país produz – Produto Interno Bruto (PIB), o saldo de todas as operações de crédito deve representar 52%. A projeção anterior do BC, divulgada em março, era 54%. Em 2015, o saldo em relação ao PIB ficou em 54,5%.

Empresas

Maciel destacou que o crédito às empresas está “frágil”. Em maio, o saldo do crédito com recursos livres para as empresas recuou 0,1%. “Desde 2009, auge da crise [financeira internacional], a gente não tinha um recuo mensal de crédito livre às empresas em maio. Isso ilustra a fragilidade em que se encontra o mercado de crédito às empresas, puxando principalmente pelo capital de giro, uma modalidade muito vinculada à atividade econômica”, disse. Ele afirmou ainda que o capital de giro representa quase 50% dos empréstimos às firmas. Em 12 meses, o saldo dessa modalidade de crédito caiu 8,9% e no mês o recuo ficou em 1,5%. “É o quinto recuo mensal no capital de giro”, disse.

Taxas de juros

Para Maciel, os juros estão subindo de acordo com a trajetória de aumento consistente e lento da inadimplência e com o ambiente de incertezas no país. Ele destacou que as taxas de juros estão subindo “puxadas” pelas modalidades de maior risco de inadimplência, como rotativo do cartão de crédito e cheque especial.