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'El País': Dilma e Marina são dois símbolos quebrados?

É urgente que as duas mulheres de maior peso na política deste país demonstrem força

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A edição desta quarta-feira (15) do jornal espanhol El País, traz uma análise sobre duas mulheres importantes no cenário político brasileiro: Dilma Rousseff e Marina Silva.

> > El País Dilma y Marina, ¿dos símbolos quebrados?

Em seu artigo, Juan Arias, diz que Dilma Rousseff e Marina Silva são duas mulheres-símbolo da política brasileira que se veem atualmente arrastadas pelo turbilhão das suspeitas de corrupção. Rousseff foi a primeira mulher a alcançar a Presidência da República, depois de ter dirigido nos governos Lula dois ministérios de prestígio, o de Minas e Energia e o da Casa Civil. vale destacar que durante seu primeiro mandato, as revistas internacionais a colocaram entre as mulheres “mais poderosas do mundo”, lembra o colunista de El País.

De acordo com o periódico, Marina Silva, a ecologista, foi a primeira mulher ministra de Meio Ambiente no Brasil. Lula a escolheu em seu primeiro Governo como símbolo da defesa da Terra. Mais tarde, deixou o Governo alegando que seus projetos eram boicotados e se lançou sozinha à conquista da Presidência. É a política que mais prêmios internacionais acumula por seu empenho em prol do meio ambiente.

El País lembra que, ambas as políticas, Dilma e Marina, se enfrentaram duas vezes na corrida pela Presidência. Nas duas ocasiões, Dilma venceu a disputa. Em 2014, o duelo entre as duas políticas-símbolo foi feroz. Dilma, aconselhada por seu marqueteiro João Santana, hoje preso por corrupção, acusou a rival de querer acabar com as conquistas sociais, arrancando a comida do prato dos pobres, caso chegasse à Presidência. Dilma ganhou essa eleição que acabou sendo um sinal de discórdia e que a levou a um julgamento político sob a acusação de crime fiscal.

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El País analisa que é provável que Dilma não recupere o mandato do qual foi afastada por até seis meses. E é possível que Marina, que hoje aparece nas pesquisas empatada com o carismático Lula, volte a tentar ganhar o Planalto.

As duas mulheres-símbolo, Dilma e Marina, sempre alegaram que são limpas, que nunca enriqueceram pessoalmente, como outros políticos: “Não tenho contas na Suíça”, proclama Dilma, enquanto Marina foi o símbolo da política que não admite compromissos e que sempre viveu com austeridade.

É provável que sejam duas mulheres que nunca enriqueceram ilegalmente. Entretanto, na política, isso não basta, comenta El País.

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Usar, por exemplo, dinheiro ilegal, proveniente da corrupção, para financiar uma reeleição mancha igualmente sua biografia. Segundo a reportagem, Dilma jura de pés juntos que suas campanhas foram feitas com dinheiro legalmente declarado à Justiça Eleitoral, embora, segundo várias acusações de implicados na trama, seus colaboradores mais próximos tenham pedido e até exigido dinheiro de vários empresários hoje detidos por corrupção. Dilma se defende dizendo que nunca autorizou ninguém a receber dinheiro ilegalmente. Os tribunais terão a última palavra. Enquanto isso, o mito de Dilma, a mulher poderosa – de quem Lula dizia a um amigo ministro: “É mais homem que nós dois juntos” –, rompeu-se.

A reportagem fala que o problema de Marina é mais grave, se é que isso é possível, já que ela se apresentou como o emblema da limpeza política e da alternativa ética. Segundo as informações, que Marina desmente, ela teria aceitado ajuda financeira da empreiteira OAS, mas sem que figurasse oficialmente, já que ela e seu grupo político se posicionavam naquele momento contra o financiamento empresarial das campanhas. Se for verdade, será ainda pior, por se tratar de uma dissimulação para manter uma aparência ética que não existia.

No texto, o aviso de que é importante e urgente que ambas, Dilma e Marina, que eram um símbolo da novidade e da ética da presença feminina na política, sejam capazes de dissipar todas as nuvens de possíveis desvios éticos em suas condutas não só pessoais, mas também políticas.

Temer, o presidente da República interino, foi acusado de ter se esquecido de incluir mulheres entre seus ministros. É urgente, portanto, que as duas mulheres de maior peso na política deste país demonstrem que a presença feminina acrescenta um plus à envelhecida política masculina ou não? - finaliza Juan Arias para El País.

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