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Pedro Corrêa faz delação premiada e cita diversos políticos como corruptos

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O ex-deputado federal pelo PP Pedro Corrêa, preso pela Operação Lava Jato, cita em delação premiada vários deputados, senadores, ministros, ex-ministros e, pelo menos, um governador, como corruptos. Corrêa afirma ainda que o ex-presidente Lula articulava o esquema de corrupção na Petrobras. A delação de Pedro Corrêa aguarda a homologação do ministro Teori Zavascki, relator da Lava Jato no Supremo Tribunal Federal.

De acordo com reportagem da Veja deste fim de semana, Pedro Corrêa deu detalhes da primeira vez que embolsou propina por contratos no extinto Inamps, ainda na década de 70. E admitiu, segundo a Veja, ter recebido dinheiro desviado de quase 20 órgãos do governo.

O ex-deputado afirma também ter conhecimento de que o esquema de corrupção na Petrobras desde os governos militares. Ele menciona o ex-diretor da estatal Shigeaki Ueki.

Lula

Na delação, Pedro Corrêa afirma que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva sabia do esquema de desvio de dinheiro dentro da Petrobras. De acordo com a revista, o ex-deputado disse que Lula gerenciou pessoalmente o esquema de corrupção da Petrobras - da indicação dos diretores corruptos da estatal à divisão do dinheiro desviado entre os políticos e os partidos.

Ainda de acordo com a Veja, Correa teria contado que parlamentares do PP reclamaram do avanço do PMDB nos contratos da diretoria de abastecimento da Petrobras, comandada por Paulo Roberto Costa. Lula teria afirmado que eles "estavam com as burras cheias de dinheiro" e que a diretoria era "muito grande " e tinha que "atender os outros aliados" pois o orçamento era muito grande. 

Pedro Corrêa então teria se reunido com membros graúdos do PMDB para tratar da partilha. Segundo a reportagem, um dos primeiros a ser procurados "para buscar o melhor entendimento na arrecadação", teria sido o senador Renan Calheiros acompanhado do deputado Anibal Gomes do Ceará. E fez o mesmo com o deputado Eduardo Cunha e com o senador Romero Juca, do PMDB.

De acordo com a revista, o delator teria contado sobre um encontro dos senadores Renan Calheiros, Romero Jucá, Jader Barbalho e Henrique Eduardo Alves com diretores Paulo Roberto Costa e Nestor Cerveró e o lobista Jorge Luz. Segundo a Veja, os caciques do PMDB cobraram alto para apoiar a permanência de Costa e Cerveró na Petrobras: 18 milhões de dólares em propina que deveria ser paga a tempo de financiar a campanha do ano – receberam 6 milhões de dólares.

De acordo com a revista, Pedro Corrêa disse que atual ministro do Turismo, Henrique Eduardo Alves, ficava com parte de tudo o que era arrecadado pelo esquema do PMDB. Eduardo Cunha recebeu parte dos 6 milhões de dólares e o ex-ministro e atualmente senador Edison Lobão tinha participação nos contratos com as grandes empreiteiras.

Ainda segundo a Veja, o senador cassado Delcidio do Amaral cobrava propina junto às empresas que tinham negócios na diretoria e depois repassava uma parte para o PMDB e outra parte para o PP.

Conforme publicado pela Veja, Corrêa também acrescentou que o laboratório SEM pagava propina para os ex-ministros José Dirceu e Alexandre Padilha. E que vantagens também eram cobradas das empresas que se habilitavam a participar do programa Minha Casa Minha Vida, uma das marcas do governo Dilma. O senador Aécio Neves, presidente do PSDB, também teria negociado pagamentos para seu partido numa obra de Furnas.

O ex-deputado também citaria que a presidente afastada Dilma Rousseff se comprometeu a ajudar na nomeação de Paulo Roberto Costa para o cargo de diretor de Abastecimento da Petrobras. A promessa teria sido feita em 2003, quando Dilma era ministra de Minas e Energia, em meio a uma reunião na casa de João Claudio Genu marcada para discutir reforma no setor elétrico. 

Ainda segundo a Veja, Corrêa também afirma que Lula interferiu diretamente na nomeação de Paulo Roberto Costa para a diretoria, por indicação do PP. Na delação, o ex-deputado descreve um diálogo entre Lula e o ex-presidente da Petrobras José Eduardo Dutra, já falecido.

"Oh, Dutra, nós não nos comprometemos com o PP, que indicou o Dr. Paulo Roberto, já há algum tempo, para a Diretoria de Abastecimento da Petrobras. Por que até agora ele não foi nomeado?", teria perguntado Lula.

"Porque esta mudança de diretor é um assunto complicado dentro da Petrobras. Estão (sic) havendo resistências, além de a competência não ser só minha para nomeá-lo", respondeu Dutra, segundo Corrêa.

Lula, então, teria dito: "E quem nomeou a maioria dos conselheiros, Dutra?"

"Você, Lula!", respondeu Dutra.

"Então, quero que você diga aos conselheiros que nomeei que se o doutor Paulo Roberto não estiver nomeado daqui a uma semana eu vou demitir e trocas esse conselheiros que nomeei", teria dito o ex-presidente.

Delcídio

A indicação de Delcídio do Amaral para a Diretoria de Gás e Energia da Petrobras no governo de Fernando Henrique Cardoso (FHC) partiu, de acordo com o ex-deputado Pedro Corrêa, de Geddel Vieira Lima, que hoje é ministro da Secretaria de Governo. Corrêa teria presenciado uma conversa em viva-voz entre Gedel e o ex-presidente FHC.

Trecho da conversa disponível na pré-delação

FHC: Geddel, eu preciso de um novo nome, um nome mais técnico para a Diretoria de Gás e Energia.

Geddel: Presidente, o Delcídio foi Diretor da Eletrosul, da Eletrobrás, Secretário Executivo de Minas e Energia e Ministro de Minas e Energia. Ninguém é mais técnico do que o Delcídio para esta função.

FHC: Mas eu gostaria de mais um nome.

Geddel: Então o senhor escolha um Reischul (genro de FHC e Presidente da BR Distribuidora) da vida, que nós não temos outro nome. Só temos o de Delcídio.

FHC: (após alguns segundos): Está bem, até logo Gedel.

De acordo com Corrêa, após Delcídio assumir o cargo, o ex-deputado José Janene ficou encarregado de receber a parte do PP da propina, que era repassada por deputados que haviam saído do PP e ido para PMDB.

“Delcídio cobrava a propina junto às empresas que tinham negócios na diretoria, repassava uma parte ao PMDB que, através dos quatro deputados que tinham ido PP para o PMDB, repassava um pedaço menor ao deputado Janene. O valor entrava no caixa dois do PP para pagar as despesas e repassar aos parlamentares”, diz trecho do anexo.

De acordo com Corrêa, o ex-presidente da Petrobras José Eduardo Dutra recebia R$ 1 milhão de propina por mês do ex-diretor Rogério Manso.

Ainda de acordo com Corrêa, Delcídio do Amaral indicou Nestor Cerveró para a Diretoria Internacional da Petrobras no primeiro governo Lula. O ex-deputado afirma ainda que houve um entendimento entre o ex-ministro José Dirceu e o PMDB de “que a Diretoria Internacional seria do partido”.

Coube ao deputado Fernando Diniz (PMDB-MG), segundo Corrêa, as tratativas de negociação da propina junto a Cerveró. Ficou estabelecida, disse Corrêa, propina de U$S 700 mil por mês para o PMDB.

Segundo Corrêa, ele soube destes fatos pelo ex-deputado José Janene. Tudo teria sido confirmado por Paulo Roberto Costa.

Cunha

Corrêa ainda afirmou que, com a saída de Nestor Cerveró do cargo, o nome de Jorge Zelada foi indicado com o aval do presidente afastado da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB).

De acordo com a reportagem, o ex-deputado afirmou que Nestor Cerveró não estava cumprindo com o pagamento mensal de US$ 700 mil e por isso o PMDB deixou de apoiá-lo. O novo nome indicado pelo partido foi o de João Augusto Henriques, que não pode assumir o cargo em virtude de condenação no Tribunal de Contas da União (TCU).

Ainda segundo a Veja, Pedro Corrêa afirmou que foi procurado para interferir junto ao TCU para resolver a questão de Henriques, mas o julgamento já havia ocorrido. Quem assumiu o cargo, então, foi Jorge Zelada, igualmente com a indicação do PMDB.

“Em função deste fato, João Henriques não pode ser nomeado e indicou para o seu lugar a pessoa de Jorge Zelada, com o aval do PMDB e de Eduardo Cunha, que manteve negócios com o PMDB, PT e com o Senador Delcídio Amaral”, diz trecho.

Sem dar maiores detalhes, a Veja afirmou que outros políticos também foram citados na delação de Corrêa: o ex-ministro Aldo Rebelo; o ex-ministro Alfredo Nascimento; o ex-ministro Aloizio Mercadante; o ministro do TCU Augusto Nardes; o deputado José Guimarães; o deputado Paulo Maluf; a ex-governadora do Maranhão Roseana Sarney e o senador Valdir Raupp.

O Instituto Lula divulgou nota sobre a reportagem:

Nota para Rede Globo sobre novas calúnias da revista Veja

Há mais de dois anos o ex-presidente Lula tem suas contas, impostos, viagens e conversas devassadas e não se encontrou nenhum fato que o associe aos desvios da Petrobrás, porque Lula sempre agiu dentro da lei.

O ex-presidente não participou, não foi conivente e muito menos organizou qualquer tipo de ação ilegal, e a os investigadores da LavaJato sabem disso.

Não se pode tomar como verdade a palavra de réus confessos, que negociam acusações sem provas em troca de sair da cadeia.

Nem se pode levar a sério mais uma reportagem caluniosa da revista Veja, que há décadas mente e faz campanha contra o ex-presidente.

Diante da evidência de mais um vazamento ilegal, os advogados do ex-presidente Lula vão requerer acesso ao suposto depoimento do réu Pedro Correia, para tomar as medidas cabíveis diante de mais uma arbitrariedade contra Lula.

Assessoria de imprensa do Instituto Lula

A assessoria do senador Renan Calheiros também divulgou nota:

O Senador Renan Calheiros assegura que não se reuniu com Pedro Correa e nunca o faria por se tratar de pessoa que  não é de suas relações, nem políticas ou pessoais.

Todas as doações de campanha recebidas foram legais e aprovadas pela Justiça. O Senador lembra ainda que não foi candidato em 2006.

“Chega de delação de bandidos citando relações inexistentes ou fictícias para sair da cadeia e expor terceiros. A delação que não for confirmada deve agravar a pena dos autores e não livrá-los da cadeia”, disse o senador.

A assessoria da presidente afastada Dilma Rousseff também divulgou nota:

Acerca da matéria "Decanato da Corrupção", publicada pela revista Veja, em 27 de maio, em que se divulga trechos de uma suposta delação premiada do ex-deputado Pedro Correa, cumpre esclarecer que:

1. Ao contrário do afirmado em Veja, a presidenta Dilma Rousseff JAMAIS se reuniu, em 2010 ou em qualquer outro momento, com o senhor Paulo Roberto Costa para fins de solicitar qualquer espécie de apoio financeiro.

2. Esta afirmação é absolutamente mentirosa e absurda, sendo desmentida inclusive por outras evidências e depoimentos divulgados ao longo da Operação Lava-Jato.

3. Vemos, mais uma vez, uma nova tentativa de se tentar envolver o nome da presidenta Dilma Rousseff em versões fantasiosas, inconsistentes e que serão desmentidas pelos fatos.