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Áudio mostra políticos do PMDB discutindo saída de Dilma e criticando Judiciário

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Novos áudios de conversas entre líderes do PMDB e o ex-presidente da Transpetro Sérgio Machado mostram discussões sobre a saída da então presidente Dilma Rousseff e críticas ao Judiciário. Machado, citado em delações da Operação Lava Jato, teve acordo de delação premiada homologado pela Justiça na quarta-feira (25). 

Em trecho gravado entre fevereiro e março, Machado e o ex-presidente José Sarney especulam sobre política e dizem que Dilma Rousseff vai acabar caindo, principalmente depois de o seu marqueteiro João Santana ter sido preso. Eles falam também sobre a possível queda do então vice-presidente Michel Temer.

MACHADO –  Estamos num momento, numa quadra, presidente, complicadíssima.

SARNEY –  Eu não vejo solução nenhuma.

MACHADO – Só tem uma solução, presidente: é ela sair. 

SARNEY – Ah! Sim.

MACHADO – A única solução que existe. E ela vai sair por bem ou por mal  porque economia nenhuma não vai aguentar.

SARNEY –- Não. Ela vai sair de qualquer jeito.

MACHADO – Qualquer jeito.

SARNEY – Agora não tem jeito. Depois desse negócio do Santana não tem jeito.

MACHADO –  Vai sair do Michel, o que é o pior.

SARNEY – Michel vai sair também.

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A conversa continua com especulações sobre quem venceria uma eventual eleição. Eles dizem que no final  quem vai assumir a Presidência será o presidente afastado da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ).

MACHADO – Saindo o Michel, e aí como é que fica? Quem assume?

SARNEY – [...] Eleição. E vai ter muito, um Joaquim Barbosa desses da vida. 

MACHADO – Ou um Moro... O Aécio pensa que vai ser ele, não vai ser não.

SARNEY – Não, não vai ser ele, de jeito nenhum!

MACHADO – E quem que assume a presidência, se não tem ninguém?

SARNEY – O Eduardo Cunha.

MACHADO – E ele não vai abrir mão de assumir, não.

SARNEY –- Não... No Supremo não tem . Não tem ninguém que tenha competência pra tirá-lo. Só se cassarem o mandato dele. Fora daí, não tem. Como é que o Supremo vai tirar o presidente da Casa?

Em conversa entre Machado e o senador Romero Jucá (PMDB-RR), o agora ex-ministro do Planejamento relata como teria convencido o PSDB a aderir ao impeachment.

JUCÁ – Falar com o Tasso, na casa do Tasso. Eunício, o Tasso, o Aécio, o Serra, o Aloysio, o Cássio, o Ricardo Ferraço, que agora virou psdbista histórico. Aí, conversando lá, que é que a gente combinou? Nós temos que estar junto para dar uma saída pro Brasil (inaudível). E, se não estiver, eu disse lá, todo mundo, todos os políticos (inaudível), tão f***, entendeu?  Porque (inaudível) disse: 'Não, TSE, se cassar...'. Eu disse: 'Aécio, deixa eu te falar uma coisa: se cassar e tiver outra eleição, nem Serra, nenhum político tradicional ganha essa eleição, não. (inaudível) Lula, Joaquim Barbosa... (inaudível) Porque na hora dos debates, vão perguntar: 'Você vai fazer reforma da previdência?' O que que que tu vai responder? Que vou! Tu acha que ganha eleição dizendo que vai reduzir aposentadoria das pessoas? Quem vai ganhar é quem fizer maior bravata. E depois, não governa, porque a bravata, vai ficar refém da bravata, nunca vai ter base partidária...' (inaudível) Esqueça!

Outra conversa mostra Sarney e Machado reclamando que Dilma insiste em permanecer no governo diante da crise política e econômica. 

SARNEY - Ela não sai.(...) Resiste... Diz que até a última bala.  

MACHADO - Não tem rabo, não tem nada.

SARNEY - Acha que não tem rabo. Tudo isso foi ... é o governo, meu Deus! Esse negócio da Petrobras. São os empresários que vão pagar, os políticos! E o governo que fez isso tudo?

MACHADO - Acabou o ‘Lula presidente’.

SARNEY - O Lula acabou. O Lula, coitado, ele está numa depressão tão grande.

MACHADO - O Lula. E não houve nenhuma solidariedade da parte dela.

Eles também criticam as nomeações feitas pelo governo de ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) e o juiz Sérgio Moro.

SARNEY – E com esse Moro perseguindo por besteira.

MACHADO – Presidente, esse homem tomou conta do Brasil. Inclusive, o Supremo fez porque é pedido dele. Como é que o Toffolil e o Gilmar fazem uma p*** dessa? Se os dois tivessem votado contra, não dava. Nomeou uns ministro de m*** com aquele modelo.

SARNEY – Todos.

MACHADO – Não teve um jurista que se manifestasse. E a mídia tá parcial assim.  Eu nunca vi uma coisa tão parcial. Gente, eu vivi a revolução [...]. Não tinha esse terror que tem hoje, não. A ditatura da toga tá f***.

SARNEY – A ditadura da Justiça tá implantada, é a pior de todas!

MACHADO – E eles vão querer tomar o poder. Pra poder acabar o trabalho.

MACHADO –  Faz uma ponte que eu possa, que é melhor porque tá tudo grampeado. Tudo, essas coisas. Isso é ruim.

Respostas

Em nota, a assessoria do ex-presidente José Sarney deu a seguinte resposta:

Conheço o Senador Sérgio Machado há muitos anos. Fomos colegas no Senado Federal e sempre tivemos uma relação de amizade que continuou depois que deixei o Parlamento.

As conversas que tive com ele nos últimos tempos foram sempre marcadas, de minha parte, pelo sentimento de solidariedade, característica de minha personalidade. Nesse sentido, muitas vezes, procurei dizer palavras que, em seu momento de aflição e nervosismo, levantassem sua confiança e a esperança de superar as acusações que enfrentava.

Lamento que conversas privadas tornem-se públicas, pois podem ferir outras pessoas que nunca desejaríamos alcançar.

O senador Romero Jucá disse que considera que apenas uma reformulação da política e a valorização de quem não tem crime poderá construir uma saída para o Brasil.

Segundo ele, o país esta vivendo uma crise de representatividade, e que era sobre isso que ele queria tratar na reunião referida nos diálogos.

Em relação ao ex-senador Delcídio, o presidente do Senado, Renan Calheiros, disse que ele acelerou o processo de cassação, cujo desfecho é conhecido. O senador afirmou ainda que não pode ser responsabilizado por considerações de terceiros e que suas opiniões sobre aprimoramentos da legislação foram públicas.

A presidente afastada Dilma Rousseff divulgou a seguinte nota:

NOTA DE ESCLARECIMENTO

Acerca da divulgação do teor de conversas gravadas em que se atribui à presidenta Dilma Rousseff a solicitação de pagamento ao publicitário João Santana pela empresa Odebrecht, cumpre esclarecer que:

1. Todos os pagamentos feitos ao publicitário João Santana na campanha da reeleição de Dilma Rousseff totalizaram R$ 70 milhões (R$ 50 milhões no primeiro turno e R$ 20 milhões no segundo turno). Os referidos pagamentos foram regularmente contabilizados na prestação de contas aprovadas pelo TSE.

2. Os valores destinados ao pagamento do publicitário, conforme indica a prestação de contas, demonstram por si só a falsidade de qualquer tentativa de que teria havido outro pagamento não contabilizado para a remuneração dos serviços prestados.

3. É curioso que pessoas que estiveram distantes da coordenação da campanha presidencial, de sua tesouraria, possam dar informações de como foram pagos e contabilizados os recursos arrecadados legalmente para a sua realização. Comentários feitos em conversas entre terceiros e que não apontam a origem das informações não têm nenhuma credibilidade.

4. As tentativas de envolver o nome da presidenta Dilma Rousseff em situações das quais ela nunca participou ou teve qualquer responsabilidade são escusas e direcionadas. E só se explicam em razão de interesses inconfessáveis.

Assessoria de Imprensa

Presidenta Dilma Rousseff

O Instituto Lula divulgou a seguinte nota:

As arbitrariedades e violências cometidas contra Lula  são de conhecimento público: a condução coercitiva ilegal para o Aeroporto de Congonhas, escutas telefônicas, quebra de sigilo bancário e invasão da sua casa e de seus filhos. O diálogo citado, fruto de mais um vazamento ilegal, apenas confirma o clima de perseguição contra o ex-presidente. Como em todos os outros vazamentos, não traz nada contra Lula. Dentro do Estado Democrático de Direito, o ex-presidente sempre colaborou com as autoridades para esclarecer a verdade. Lula sempre agiu dentro da lei, por isso não tem nada a temer.

Assessoria de Imprensa do Instituto Lula