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Procuradores apontam novas denúncias contra Odebrecht e João Santana

Coordenador da força-tarefa diz que sistema político gera corrupção a todo momento

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Procuradores da Operação Lava Jato detalharam nesta quinta-feira (28) duas novas denúncias contra Marcelo Odebrecht, o publicitário João Santana, a mulher Mônica Moura e o ex-tesoureiro do PT, João Vaccari Neto, entre outros já citados -- e alguns já condenados -- nas investigações. As informações, que dizem respeito a 23ª e 26ª fase, foram passadas durante coletiva de imprensa em Curitiba. 

Outro alvo é o lobista Zwi Skornicki, que representava o estaleiro asiático Keppel no Brasil. Ele é suspeito de fazer pagamentos para o casal fora do país.

Deltan Dellagnol, coordenador da força-tarefa da Operação, fez questão de salientar que a corrupção é endêmica no país há décadas, e que é preciso reformar todo o sistema. "O sistema político gera corrupção a todo momento", disse. 

"A nossa investigação é técnica, imparcial e apartidária", assegurou o coordenador. Para Dallagnol, contudo, a partir de 2004 e 2005, a propina era "presumida" em todos os contratos da estatal. "A corrupção na Petrobras era a regra do jogo." O valor total bloqueado, segundo o procurador, é de R$ 2,4 bilhões. O JB já havia adiantado sobre a semana de novas denúncias.

>> Novo escândalo a caminho

O procurador Antonio Carlos Weltwer apontou na ocasião que, logo no início das investigações, se identificou a utilização de operadores do mercado para realizar atividades ilícitas, mas havia uma incerteza sobre a forma como a Odebrecht atuava no esquema. A partir de 2015, porém, com informações que teriam vindo do exterior, ficou certo que a empreiteira tinha um setor específico que realizava o pagamento a agentes políticos e funcionários da Petrobras. Este setor, feito durante a gestão de Marcelo Bahia Odebrecht, se relacionava com doleiros e operadores para concluir pagamentos.

O setor de "pagamentos paralelos" tinha muitas cautelas para evitar que a irregularidade dos pagamentos fosse descoberta. Ele tinha um sistema próprio, executado por cada pessoa em um outro computador, e lidava com codinomes. Com a prisão de Marcelo Odebrecht, houve uma orientação para aos poucos "desmontar" o setor de pagamento de propinas e para que os envolvidos fossem mandados para o exterior, em uma tentativa de atrapalhar as investigações. "A lavagem de dinheiro hoje é sofisticada."

Laura Tessler, procuradora da República, se referindo sempre ao esquema como "diabólico", comentou que considera "estarrecedor" o volume de recursos movimentados pela Odebrecht, e o profissionalismo como isto era feito, em uma "verdadeira indústria de propina". Ela destacou a contribuição da ex-funcionária Maria Lucia Tavares, que informou que logo ao entrar no setor foi informada de que cuidaria dos pagamentos paralelos.  

A procuradora reforçou que a forma como a empresa de sondas Sete Brasil foi constituída, em uma "estratégia quase diabólica", com nomes que já tinham "forte envolvimento com a corrupção" indicados para cargos estratégicos, favoreceu a expansão do esquema. "O mercado de sondas envolve valores milionários, bilionários, foi uma extensão bastante expressiva, que causou certamente um prejuízo enorme, causaria um dano maior ainda, aos cofres da Petrobras, e de toda a sociedade."

O coordenador Dallagnol detalhou a participação do engenheiro Zwi Skornicki no esquema, e também as relações entre o estaleiro Keppel Fels e a Petrobras. Ele ressaltou que Mônica Moura, João Santana e Zwi Skornicki tinham "plena consciência" da prática criminosa. De acordo com ele, foram feitos 45 depósitos em favor de João Santana e Mônica Moura mesmo com as investigações em curso.

De acordo com ele, a propina era de 1%. Metade iria para o PT, e metade para os funcionários da Petrobras como Renato Duque e Pedro Barusco. Ele indicou que houve pagamento de propina ao marqueteiro João Santana e a sua mulher e sócia, Mônica Moura, Os pagamentos, de R$ 4,5 milhões, foram feitos em contas na Suíça, indicou Dallagnol.

O procurador apresentou um e-mail para indicar a relação entre a empresa de sondas Sete Brasil e a Petrobras, e mostrou ainda uma planilha que seriam de depósitos a João Santana e Mônica Moura, em 2013 e 2014, e um bilhete de Mônica para Zwi Skornicki, em que ela mostraria um modelo de "contrato de fachada".

A procuradora Laura Tessler chamou a atenção para o conteúdo do e-mail, que para ela comprova que recursos eram direcionados ao Partido dos Trabalhadores. "O Rogério Araujo, que era um dos principais diretores da Odebrecht [o remetente da mensagem], tinha interesse nos negócios da sonda."

No total, serão 20 denúncias, que envolvem 17 pessoas investigadas na 23ª e 26ª fases da Lava Jato. A primeira investigou pagamentos feitos ao marqueteiro de campanhas do PT João Santana e a outra apurou o pagamento de vantagens indevidas pela Odebrecht a funcionários públicos. Também estão entre os denunciados o ex-tesoureiro do PT, João Vaccari Neto, e o ex-presidente da Odebrecht, Marcelo Odebrecht. São 14 atos de corrupção, e 12 de lavagem de dinheiro.

O coordenador mostrou um balanço dos trabalhos da força-tarefa. Até agora, por exemplo, 191 pessoas foram acusadas, divididas igualmente entre executivos; operadores financeiros e pessoas ligada a eles; e agentes políticos. As acusações serão protocoladas na 13ª Vara Federal de Curitiba, do juiz Sérgio Moro.

Primeira denúncia

Zwi Skornicki

Pedro José Barusco Filho

Renato de Souza Duque

Monica Regina Cunha Moura

João Cerqueira de Santana Filho

João Vaccari Neto

João Carlos de Medeiros Ferraz

Eduardo Costa Vaz Musa

Segunda denúncia

Marcelo Bahia Odebrecht

Hilberto Mascarenhas Alves da Silva Filho

Luiz Eduardo da Rocha Soares

Fernando Migliaccio da Silva

Maria Lúcia Guimarães Tavares

Angela Palmeira Ferreira

Isaias Ubiraci Chaves Santos

Monica Regina Cunha Moura

João Cerqueira de Santana Filho

João Vaccari Neto

Livio Rodrigues Junior

Marcelo Rodrigues

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* Com Agência Brasil