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Na ONU, Dilma diz que "povo saberá impedir qualquer retrocesso"

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A presidente Dilma Rousseff abordou, em seu discurso nas Nações Unidas (ONU) nesta sexta-feira (22), o momento político do país e reforçou a importância da luta pela liberdade. “Não posso terminar minhas palavras sem mencionar o grave momento que vive o Brasil. A despeito disso, quero dizer que o Brasil é um grande país com uma sociedade que soube vencer o autoritarismo e construir uma pujante democracia. Nosso povo é um povo trabalhador e com grande apreço pela liberdade. Saberá, não tenho dúvidas, impedir qualquer retrocesso. Sou grata a todos os líderes que expressaram a mim sua solidariedade."

Entre os líderes que já manifestaram apoio a Dilma estão José “Pepe” Mujica, ex-presidente do Uruguai, Cristina Kírchner, ex-presidenta da Argentina, e Felipe González, ex-presidente de governo da Espanha, além de Juan Manuel Insulza, secretário geral da OEA.

Dilma abordou a crise política ao final de seu discurso na cerimônia de assinatura do Acordo de Paris. Havia grande expectativa de que a presidente denunciasse a "tentativa de golpe" para tirá-la da presidência, ratificando o que já vem falando em seus últimos discursos. Dilma deverá dar entrevistas a jornais estrangeiros em Nova York, e deverá reforçar esta tese.

Na maior parte de seu discurso, Dilma destacou a importância do acordo climático e o esforço do Brasil para cumprir as metas estabelecidas.

"Golpe"

A presença da mandatária na ONU gerou preocupação entre políticos da oposição e também entre ministros do STF, em meio a publicações na imprensa estrangeira que se referem ao processo de impeachment aprovado na Câmara contra ele como "golpe".  Com a viagem, seu vice-presidente Michel Temer assumirá o posto.

Na quarta-feira, a presidente afirmou, em entrevista a blogueiros no Palácio do Planalto, que vai lutar em todos os níveis contra o que chamou de “eleição indireta travestida de impeachment”. De acordo com ela, o governo, apesar de respeitar a legislação e a representatividade do Congresso, considera ilegítima e distorcida a forma como se deu o rito do pedido de interrupção do seu mandato.

“O que está em questão não é o meu mandato, está em questão o processo democrático. Ou seja, está em questão aquilo que a gente dava como garantido. Eu nunca achei que outra vez eu ia estar lutando por democracia. Então, como isso está em jogo eu vou lutar em todas as trincheiras que eu puder para derrotar esse golpe, onde for necessário eu vou", ressaltou a presidente Dilma.

A viagem foi decidida na noite de terça-feira (19). No domingo (17), o JB já havia antecipado que, caso o impeachment fosse aprovado na Câmara, Dilma e o ex-presidente Lula iniciariam viagens ao exterior com o objetivo de denunciar uma tentativa de golpe para tirá-la da Presidência.

>>Manifestantes vão às ruas em Nova York contra e a favor do impeachment

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Na terça-feira, Dilma deu entrevista a jornais internacionais destacando que está sendo vítima de um processo de impeachment baseado em uma injusta fraude jurídica e política. A mandatária ressaltou que, nos períodos democráticos do país, todos os presidentes enfrentaram processos de impedimento no Congresso Nacional.

“O Brasil tem um veio que é adormecido, um veio golpista adormecido. Se nós acompanharmos a trajetória de presidentes no meu País, do regime presidencialista a partir de Getúlio Vargas, nós vamos ver que o impeachment sistematicamente se tornou um instrumento contra os presidentes eleitos”, destacou Dilma. 

>> Brasil tem um 'veio golpista adormecido', diz Dilma Rousseff

>> Dilma recebe “abraçaço da democracia” de mulheres no Palácio do Planalto

Veja, na íntegra, o discurso de Dilma na ONU:

Senhor secretário-geral das Nações Unidas, Ban Ki-moon,

Senhor presidente da França e presidente da COP21, presidente François Hollande,

Senhoras e senhores chefes de Estado e de governo participantes dessa cerimônia de assinatura do Acordo de Paris,

Senhoras e senhores integrantes de delegações,

Senhoras e senhores,

Com imensa honra e emoção, venho a Nova Iorque, hoje, no Dia da Terra, assinar o Acordo de Paris sobre a Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre a Mudança do Clima, um acordo universal.

Sua conclusão exitosa, em dezembro de 2015, representou um marco histórico na construção do mundo que queremos: um mundo de desenvolvimento sustentável para todos, com o cumprimento das metas estabelecidas na Agenda 2030. O êxito deve muito à atuação do governo francês, à judiciosa e paciente construção do acordo pelo presidente François Hollande e também ao secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon.

Tenho orgulho do trabalho desenvolvido pelo meu governo e pelo meu país para que, coletivamente, chegássemos a esse acordo. Tenho orgulho de nossa contribuição e da contribuição de todos os países e da sociedade internacional. Agradeço o esforço e o trabalho incansável da equipe de negociadores do Brasil, chefiada pela nossa ministra do Meio Ambiente, Izabella Teixeira.

Nós, países participantes, demos respostas firmes e decisivas aos imensos desafios apresentados pela construção de um amplo consenso, consenso necessário para o enfrentamento das mudanças do clima.

Hoje, ao lado de todos os chefes de Estado e de governo aqui presentes, assumo o compromisso de assegurar a pronta entrada em vigor do Acordo no Brasil e mais uma vez saúdo a todos por essa histórica conquista da humanidade.

O caminho que teremos de percorrer agora será ainda mais desafiador: transformar nossas ambiciosas aspirações em resultados concretos. Realizar os compromissos que assumimos irá exigir a ação convergente de todos nós, de todos os nossos países e sociedades, rumo a uma vida e a uma economia menos dependentes de combustíveis fósseis, dedicadas e comprometidas com práticas sustentáveis na sua relação com o meio ambiente.

Países em desenvolvimento, como o Brasil, têm apresentado resultados expressivos na redução das emissões e se comprometeram  com metas ainda mais ambiciosas.

O desafio de enfrentar a mudança do clima torna imprescindível o aumento progressivo do nível de ambição dos países desenvolvidos. Exige, de forma contínua, a mobilização de meios de implementação adequados, para que os países em desenvolvimento tenham suporte e sigam contribuindo para os esforços globais de mitigação e adaptação.

É fundamental ampliar o financiamento do combate à mudança do clima para além do compromisso de US$ 100 bilhões anuais.

É indispensável criar meios de reorientar os fluxos financeiros internacionais de modo permanente para apoiar ações que representem soluções para o problema global e promovam também benefícios de adaptação, saúde pública e desenvolvimento sustentável.

É necessário, ainda, que o setor privado desenvolva um esforço robusto de redução de emissões.

Senhoras e senhores,

Ao reiterar o compromisso do Brasil com os objetivos do Acordo de Paris, quero assegurar que estamos perfeitamente cientes que firmá-lo é apenas o começo.  A parte mais fácil.

Meu país está determinado a intensificar ações de mitigação e de adaptação. Anunciei aqui, durante a Cúpula da Agenda de Desenvolvimento 2030, a contribuição brasileira de 37% de redução dos gases de efeito estufa até 2025, assim como a ambição de alcançarmos uma redução de 43% até 2030 – tomando 2005 como ano-base em ambos os casos.  

Alcançaremos o desmatamento zero na Amazônia e vamos neutralizar as emissões originárias da supressão legal de vegetação. Nosso desafio é restaurar e reflorestar 12 milhões de hectares de florestas e outros 15 milhões de hectares de pastagens degradadas. Promoveremos também a integração de 5 milhões de hectares na relação lavoura-pecuária e florestas.

Todas as fontes renováveis de energia terão sua participação em nossa matriz energética ampliada até alcançar 45% em 2030.

Continuaremos contando com a contribuição e a participação de todos os setores de nossa sociedade, que estão conscientes da amplitude do desafio, e com a necessidade de deixar este legado às futuras gerações.

Senhoras e senhores,

Meu governo traçou metas ambiciosas e ousadas porque sabe que os riscos associados aos efeitos negativos recaem fortemente sobre as populações vulneráveis de nosso país e do mundo quando nós não tomamos medidas corretas para a contenção da mudança do clima.

Essa preocupação deve ser compartilhada agora e por todos nós. Sem a redução da pobreza e da desigualdade não será possível vencer o combate à mudança do clima. E esse combate tampouco pode ser feito à custa dos que menos têm e menos podem.

Essa é uma das razões pelas quais o conceito de desenvolvimento sustentável precisa ser referência permanente de nosso projeto comum. Incluir, crescer, conservar e proteger: eis a síntese alcançada na Conferência Rio+20, realizada no Brasil em 2012.

Senhoras e senhores,

Não posso terminar minhas palavras sem mencionar o grave momento que vive o Brasil. A despeito disso, quero dizer que o Brasil é um grande país, com uma sociedade que soube vencer o autoritarismo e construir uma pujante democracia. Nosso povo é um povo trabalhador e com grande apreço pela liberdade. Saberá, não tenho dúvidas, impedir quaisquer retrocessos.

Sou grata a todos os líderes que expressaram a mim sua solidariedade.

Muito obrigada.