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Para sociólogo, impeachment não enfraquece esquerda no Brasil

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O processo de impeachment que continua em debate até domingo pela Câmara dos Deputados, atinge o governo do PT, mas não enfraquece a esquerda brasileira. A opinião é do sociólogo e professor de Ciência Política da Faculdade de Direito da Estácio do Ceará, Fernando de la Cuadra. Ele proferiu palestra nesta sexta-feira (15), em seminário promovido pelo Fórum 21, em Fortaleza.

“As forças sociais às vezes ganham eleições, mas ainda perdendo elas se mantêm como forças sociais. Um revés eleitoral não significa que se vai abdicar de toda essa força. Avanços em conquistas sociais não têm retorno e o Brasil está nesse processo. Pessoas que nunca conseguiram entrar na universidade e são os primeiros membros em gerações que conseguiram ingressar na universidade: isso não se vai reverter, é um processo que avança. A tendência é que o mundo da justiça social, da democracia e da liberdade vá primar.”

Chileno e morando no Brasil há 10 anos, Cuadra analisa que o momento atual faz parte de um movimento de refluxo parecido com o vivido por outros países da América Latina, a exemplo da Argentina, que transcendeu do kirschnerismo para o centro-direita com a eleição de Maurício Macri. No entanto, para ele, isso faz parte de um processo para que a esquerda siga avançando. “A história é pendular, não tem direção linear com ciclos que se fecham. Esses ciclos são abertos”

Para o professor, o desafio da esquerda brasileira é retomar o relacionamento com setores que defendem uma política progressista, que foram, aos poucos, sendo deixados de lado pelo PT depois que a sigla assumiu a Presidência da República. Para ele, isso significou um abandono dos princípios iniciais do partido e da prática de formar politicamente os cidadãos. 

“Os partidos de esquerda, não só o PT, precisam recuperar essa relação virtuosa com os movimentos sociais e criar um momento de bloco histórico, pela transformação, que permitam somar pessoas que estão num projeto progressista, de igualdade e de justiça social,” indica, acrescentando que essa reaproximação ocorre atualmente a partir das ameaças de impeachment.

A partir das informações sobre as indicações de votos na Câmara dos Deputados, Cuadra traça um cenário pessimista para um possível impeachment da presidenta Dilma Rousseff. “Não sabemos se Temer ou Cunha ficam efetivamente no poder. Sabemos que Temer vai ficar, mas, pelo controle que tem sobre o parlamento, pode ser o Cunha e Temer virar um fantoche. Temer fala de um governo de unidade nacional, mas vejo um futuro cinzento.” O professor considera que, com a possibilidade do impeachment, o ideal seria a convocação de novas eleições.

Apesar de enxergar esse panorama, o professor ressalta que a esquerda no Brasil deve se reconstituir e se reinventar e aprofundar a democracia. “O cenário não é como o do golpe de 1964. As forças vão recuar. É um golpe, mas a esquerda tem muita capacidade de se recuperar.”

O Fórum 21 é formado por ativistas, militantes de partidos de esquerda e progressistas, organizações sociais e cidadãos e promove debates em várias cidades sobre temas ligados à conjuntura política, econômica e social do país.

O Fórum 21 é formado por ativistas, militantes de partidos de esquerda e progressistas, organizações sociais e cidadãos. que promove debates em várias cidades sobre temas ligados à conjuntura política, econômica e social do país.