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Lula defende ajuste fiscal, mas alerta que ele "está demorando demais"

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O ex-presidente Lula concedeu entrevista exclusiva ao jornalista Roberto D'Ávila, da Globonews, com a condição de que o programa fosse exibido às 19h30. Segundo o ex-presidente, esse é o horário em que o trabalhador que acorda cedo pode acompanhar a programação da televisão. Em seu pedido, Lula acrescentou que gostaria de falar a todo o país. Tradicionalmente, as entrevistas com o jornalista são exibidas às 23h30.

Na entrevista, com duração de 30 minutos, Lula defendeu a política econômica do governo da presidente Dilma Rousseff, mas disse que o ajuste fiscal "está demorando demais" para ser colocado em prática por conta da batalha que o Planalto vem travando com o Congresso Nacional para aprovar as medidas.

"Responsabilidade fiscal não é mérito, é obrigação. A companheira Dilma está correta de fazer o ajuste fiscal, o que está errado é que ele está demorando demais, e isso não é culpa dela. A coisa mais importante agora é aprovar as medidas do ajuste que o governo está pedindo há um ano e fazer o país voltar a crescer", afirmou o ex-presidente, negando que tenha pressionado pela saída do ministro da Fazenda, Joaquim Levy.

"Vejo muitas bobagens, muitos boatos, vejo coisas escritas que me deixam pasmo. Não quero tirar o Levy nem colocá-lo (Henrique Meirelles). Isso é problema da Dilma. Fiquei cinco anos sem dar entrevista para não ficar dando palpite. Eu disse, no início do governo dela, que se houvesse divergência entre nós, a Dilma é quem estaria certa. O Brasil está passando por dificuldades e essa dificuldade não é da Dilma, é nossa".

O ex-presidente afirmou que a situação econômica do Brasil é desdobramento da crise econômica internacional, mas admitiu, também, que ela é decorrente de "erros nossos".

"Cometemos erros, sim, e um dos erros da Dilma foi manter a política de subsídios (de 2014) em muitas coisas para manter o nível do emprego. Desoneramos mais de R$ 400 bilhões para continuar crescendo, chegamos a dezembro com o menor nível de desemprego desse país, eu me sentia um norueguês. Dilma manteve 2011, 2012 e 2013 com o PIB em crescimento. A crise de 2014 vem por problemas internacionais e por erros nossos", disse ele.

Ao jornalista, Lula negou que tenha se recusado a conversar com a oposição e com líderes como o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso ou com a ex-ministra Marina Silva. Segundo ele, é preciso saber se o PSDB tem também interesse em dialogar com o governo e é preciso saber, ainda, se o governo tem interesse nessa conversa e se delegaria a ele esse papel de interlocutor.

"Não quero conversar com eles? sou o maior conversador desse planeta. Em primeiro lugar, é preciso saber se os partidos combinam com os ex-presidentes. Depois, se as propostas tem respaldo, se a presidente Dilma tiver interesse, chamar as lideranças..."

O ex-presidente comentou, também, sua reação às primeiras denúncias do esquema de corrupção das empreiteiras na Petrobras que se desdobrou na operação Lava Jato. "Foi um susto para mim e para o mundo. Me parece que a história da quadrilha é antiga, são pessoas com mais de 30 anos de Petrobras, antes do governo do Fernando Henrique, são dos anos 70, 80", disse ele, ressaltando que "a coisa mais fantástica no Brasil" é que acabou o cerceamento às investigações.

"Não escolhi nenhum Procurador-Geral da República que fosse um engavetador. Poderia ter indicado um amigo, mas indiquei a pessoa que a corporação indicou. Eu acho que a coisa mais fantástica do Brasil é que acabou o cerceamento à investigação. O que eu acho grave é o vazamento seletivo. Mesmo assim, o resultado final seá benéfico para o país, outras leis virão, outras investigações serão feitas, do presidente da República, passando por mim e por você, todos terão que cumprir a lei".

Lula afirmou que só o fim do financiamento empresarial de campanha pode acabar com a relação entre partidos, políticos e empresas e que nenhum partido, seja PT ou PSDB, está livre até que o sistema eleitoral seja modificado. "Pega a quantidade de dinheiro que as empresas da Lava Jato ou fora da Lava Jato contribuíram para PT e PSDB. É o mesmo dinheiro, do mesmo cofre. A reforma a política não sairá pelo Congresso. Só haverá reforma se houver uma Constituinte exclusiva", argumentou.

O líder petista comentou, ainda, as acusações direcionadas contra um de seus filhos e afirmou que seus familiares têm tratamento diferente dos de outros ex-presidentes. 

"Meu filho tem que provar que fez a coisa certa, porque ele está subordinado à mesma constituição que eu. É chato? É. Mas é bom. Agora, o que eu vejo é que o mesmo critério adotado pela imprensa comigo nao é o adotado com os outros. Mas eu digo que só tenho um valor na minha vida, não tenho dois: é vergonha na cara, aprendida com mãe analfabeta", enfatizou Lula.