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Ex-diretor da Petrobras diz estar arrependido e culpa "maus políticos"

Paulo Roberto Costa afirma que CPI tem oportunidade ímpar de mudar o país

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Paulo Roberto Costa, ex-diretor de Abastecimento da Petrobras, começou seu depoimento à CPI da Petrobras se dizendo arrependido pelos atos ilícitos que cometeu na empresa e isentando a estatal de responsabilidade pelo esquema de desvio de dinheiro e pagamento de propina.“Nada disso teria acontecido se não fossem alguns maus políticos. A origem do que aconteceu na Petrobras foi maus políticos, que fizeram tudo isso acontecer”, disse. Ele afirmou que os deputados têm agora a oportunidade de romper com o que chamou de “sistema podre”.

Segundo o ex-diretor da estatal, dos 35 anos em que trabalhou na Petrobras, apenas nos últimos sete ele teve contatos e envolvimento com políticos, o que fez com que ele fosse nomeado diretor. “Não se chega à diretoria da Petrobras sem apoio político. Tive a infelicidade de aceitar apoio político para chegar lá e me arrependo”, disse.

"Espero que o meu sacrifício, e de muitos outros, não tenha sido em vão", disse o ex-diretor de Refino e Abastecimento. Ele explicou que a sua vida foi revirada do avesso, após as denúncias de corrupção na estatal, e espera que as investigações sejam aprofundadas "em todos os níveis". Paulo Roberto afirmou ainda que os integrantes da Comissão Parlamentar de Inquérito têm a "oportunidade ímpar de melhorar este país".

Costa reafirma que propina saía da margem de lucro de empresas

Paulo Roberto Costa disse à CPI que investiga irregularidades na estatal que a propina paga por empresas a diretores, operadores e partidos políticos saía da margem de lucro das contratadas.

Segundo ele, as empresas embutiam um adicional que podia chegar a 3% a mais na sua margem de lucro para o pagamento de propina. Ele explicou isso ao responder pergunta do relator da CPI, deputado Luiz Sérgio (PT-RJ), que o questionou a respeito de variações em seus depoimentos sobre a origem da propina: se saía da margem de lucro ou se era derivada de sobrepreço nas licitações. “Se a empresa achava que, para ela, era confortável ganhar 12%, ela acrescentava 3% de propina dentro da margem de lucro”, disse. 

Costa atribuiu o sucesso do esquema à formação de cartel pelas empresas contratadas. “Se não tivesse a formação de cartel, [o sobrepreço] não existiria”, disse. Ele negou que as propinas fossem fruto de “achaque” por parte dos diretores da Petrobras, como afirma a defesa das empresas acusadas.

Ex-diretor da Petrobras diz que houve propina para PP e PSDB

O ex-diretor de Abastecimento da Petrobras Paulo Roberto Costa confirmou à CPI da Petrobras teor de depoimento que havia prestado à Justiça Federal, em que acusa o deputado Eduardo da Fonte (PP-PE) e o ex-presidente do PSDB Sérgio Guerra, já falecido, de cobrança de propina para evitar investigações de uma comissão parlamentar de inquérito no Congresso.

Ele disse não saber se era uma CPI da Câmara ou CPI Mista – com participação de senadores – mas afirmou que o pagamento foi feito. Costa não mencionou a quantia, nem a maneira como esse dinheiro teria sido pago, mas garantiu ter sido informado do pagamento pela empresa Queiroz Galvão.

Segundo ele, o encontro com Sérgio Guerra foi intermediado por Eduardo da Fonte e teria ocorrido em um hotel no Rio de Janeiro. “Recebi um pedido do deputado Eduardo da Fonte, do PP de Pernambuco, que pediu para se encontrar comigo e, chegando lá, estava também o senador Sérgio Guerra. Eles me disseram que estava ocorrendo uma CPI sobre a Petrobras e que isso poderia ser minorado ou postergado, mas que precisava ter um ganho, um ajuste financeiro”, disse.

Costa diz ter repassado dinheiro a campanha de Eduardo Campos

Paulo Roberto Costa afirmou que repassou recursos para a campanha eleitoral do ex-governador de Pernambuco Eduardo Campos, morto no ano passado.

Ele disse que o pedido foi feito a ele por “um secretário dele [Campos], que ocupa hoje uma vaga no Senado. [Ele disse] que seria importante ter ajuda financeira para a campanha. Esse contato foi feito e esse recurso foi repassado para ele”, disse.

Ao responder pergunta do deputado Luiz Sérgio (PT-RJ), relator da CPI, Costa disse que nunca esteve pessoalmente com o ex-tesoureiro do PT João Vaccari Neto.“Eu o vi uma vez em um restaurante, onde eu estava com o (doleiro Alberto) Youssef, e ele me mostrou Vaccari, que estava em outra mesa”, disse.

Em depoimentos à Justiça, Costa disse que propinas pagas por empresas contratadas pela Petrobras eram repassadas ao PT por intermédio de Vaccari – acusação reforçada nos depoimentos de Youssef.

Doação de campanha feita por empresa é “empréstimo”, diz Costa

Costa disse à CPI que doações de campanha feitas por empresas a partidos políticos não passam de uma espécie de “empréstimo” – como já tinha dito em depoimentos de delação premiada.

“Não existe doação que depois a empresa não queira recuperar. Isso foi dito a mim por empresários”, disse. “Várias doações oficiais vieram de propina. Está claro na operação Lava Jato”, acrescentou.“Por que uma empresa vai doar R$ 20 milhões para uma campanha, se lá na frente ela não vai querer isso de volta? Não existe almoço grátis”, concluiu.

Costa responsabiliza diretoria executiva da Petrobras por contratos e aditivos

Costa disse que toda a diretoria executiva deveria ser responsabilizada por eventuais erros nas contratações ou assinaturas de aditivos com empresas vencedoras de licitação. Segundo ele, nenhum diretor tinha autonomia para decidir sobre projetos, contratos e aditivos. “A diretoria executiva aprovava os projetos, a licitação e os contratos. Nenhum diretor especificamente (tinha esse poder)”, disse.

Ele relatou como funciona o processo de contratação e, principalmente, os aditivos celebrados com as empresas contratadas.“Quem fiscaliza o contrato? O gerente da obra. A fiscalização era da área de engenharia. Nós, das outras diretorias, éramos donos do orçamento, mas a fiscalização não era nossa”, ressaltou. “Qual era a origem do aditivo? Na obra. A necessidade disso era negociada entre a empresa e o gerente da obra. Isso era encaminhado para o diretor de serviços. Ou isso era mandado para a diretoria ou, se o valor era muito alto, era encaminhado a mim. Mas quem aprovou todos os aditivos? Foi a diretoria executiva da Petrobras”, relatou.

Costa voltou a dizer que os aditivos eram feitos devido a inconsistências dos projetos básicos de engenharia. Ele atribuiu as falhas dos projetos à pressa da diretoria da Petrobras. “O Brasil estava importando muita gasolina e diesel, e isso foi o que motivou a pressa nas contratações”, disse, ao se referir à construção de refinarias, gasodutos e navios-plataforma.

Histórico

Paulo Roberto Costa foi preso na Operação Lava Jato, da Polícia Federal. A última vez em que o ex-diretor esteve no Congresso foi em dezembro, durante acareação na Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) da Petrobras com o ex-diretor da Área Internacional Nestor Cerveró.

Na ocasião, ele confirmou tudo o que falou na delação premiada acertada com o Ministério Público e a Polícia Federal. Segundo o ex-diretor, foram 80 depoimentos em mais de duas semanas de delação.

Paulo Roberto Costa denunciou um esquema de suborno em diretorias da estatal para beneficiar partidos políticos, com propina correspondente a 3% do valor dos contratos com empreiteiras. Segundo ele, desse total, 2% ficavam com o PT e 1% com o PP - esse 1% era usado às vezes para pagar o PMDB e o PT, e uma vez o PSDB.

Costa integrou a diretoria da estatal entre 2004 e 2012, nos governos Lula e Dilma. Foi escolhido diretor por indicação do PP.