ASSINE
search button

'El País': Vencedores e perdedores da lista do ‘caso Petrobras’

Governo e classe política saem prejudicados do escândalo, enquanto que democracia ganha prestígio

Compartilhar

O jornal espanhol El País, publicou na quinta-feira (05/03) um artigo em um momento de expectativa com a divulgação da lista dos nomes envolvidos no escândalo do Petrolão. O correspondente Juan Arias faz uma análise sobre as possíveis conseqüências. “O Procurador Geral da República, Rodrigo Janot, finalmente enviou a misteriosa e temida lista dos políticos que serão investigados pelas acusações que pesam sobre eles no maior escândalo de corrupção da história democrática do país: o ‘caso Petrobras’.

A caixa de Pandora será aberta pelo magistrado do Supremo Tribunal da República, Theodori Zavaski. Dos nomes, no entanto, saltaram já da lista, dois pesos pesados: o presidente do Senado da República, Renan Calheiros, até ontem fiel escudeiro do ex-presidente Lula e da atual mandatária, Dilma Rousseff, e o presidente do Congresso, Eduardo Cunha, ambos do maior partido aliado do governo, o PMDB, que tem sido o fiel da balança em todos os governos da democracia e ambos recém-eleitos pelo Parlamento”, escreve Arias.

“No resto da lista vão figurar outros nomes de grande destaque na política brasileira. Juntos formam essa espécie de maldição que foi gerada no rico e apetitoso ventre da Petrobras, a maior e mais prestigiosa empresa brasileira, orgulho nacional e internacional, hoje vendida a preço irrisório.

Hoje os brasileiros já colocam pela primeira vez em segundo lugar de suas prioridades, depois da saúde, o tema da corrupção política

A pergunta que muitos se fazem, assustados e indignados, é: quem ganha e quem perde neste carrossel de corrupção político-empresarial que conseguiu despedaçar a maior jóia industrial do país?”

Sem dúvida, perde a Petrobras, mas também toda a economia do país, da qual a petroleira representa boa parcela do PIB nacional. Perde credibilidade a classe política, começando pelo partido no governo, o PT, sob cuja responsabilidade a empresa se encontrou nos últimos 12 anos, os anos em que foi sistematicamente saqueada. Perdem credibilidade vários partidos aliados ao governo que participaram ativamente do banquete e talvez tenha salpicado até sobre algum partido da oposição.

Sem que ainda se conheça oficialmente a lista dos que poderiam acabar na prisão, não existe dúvida que, ao final, como um feliz paradoxo, quem ganha é a democracia brasileira na que tanto o poder e independência da Procuradoria Geral do Estado como da Policia Federal — junto com a tenaz atuação do jovem juiz Moro —, foram capazes de revelar o tumor incrustado nas entranhas da Petrobras que, de ser uma empresa exemplo de tecnologia avançada, acabou sendo invadida e violada pelo poder político em conivência com importantes empresas nacionais.

Agora é a vez do Supremo Tribunal Federal atuar com a mesma independência, seriedade e coragem. E por último, ou talvez antes de tudo, pelo menos boa parte do mérito de ter podido chegar até aqui na investigação valente e independente se deve à maior consciência que a sociedade brasileira está revelando que tem vigiado e estimulado durante todo o tempo da investigação à justiça e à polícia para que descobrissem os culpados sem deter-se nem diante dos políticos mais ilustres.

Hoje os brasileiros já colocam pela primeira vez em segundo lugar de suas prioridades, depois da saúde, o tema da corrupção política. Os governantes sabem e temem isso e de agora em diante a vida dos corruptos e corruptores será mais difícil.

“Assim, no momento mais crucial da crise política e econômica que sacode o país, poderia - com a força da opinião pública cada dia mais exigente e indignada -  ressurgir depois do escândalo, uma maior estima e um reforço dos poderes independentes do Estado. Poderá ser uma vacina que impeça o país de mergulhar mais fundo em tentações populistas de querer domar os poderes independentes do Estado, cujas consequências são cada dia mais palpáveis em países onde esses poderes, junto com a liberdade de expressão, estão sendo pisoteados.

No final, um a zero para o Brasil, que está sendo capaz de defender e reforçar os valores de sua democracia, às vezes ferida, mas que luta para seguir viva”, conclui Juan Arias.

>> Ganadores y perdedores de la lista del ‘caso Petrobras’