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Organizadores de festa que teve morte são soltos em Bauru

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A Justiça da cidade de Bauru, interior de São Paulo, decidiu liberar os dois organizadores de uma festa em que um jovem de 23 anos morreu por coma alcoólico, no último sábado (28).

A decisão, do juiz da 4ª Vara Criminal Fábio Correia Bonini, foi confirmada pelo advogado de defesa dos suspeitos, Luiz Celso de Barros.

“Os organizadores da festa são os membros de cada república (estudantil). Os meus clientes foram responsáveis apenas pela parte operacional. Contrataram som, enfermeiro, ambulância e fizeram a compra de bebidas. Em linhas gerais, o delegado quis que eles previssem o imprevisível”, avaliou o advogado, referindo-se a morte do universitário.

Os suspeitos são acusados pela Polícia Civil por homicídio simples com dolo eventual em relação ao estudante Humberto Moura Fonseca, de 23 anos, que morreu por coma alcoólico, e por lesão corporal, no caso de duas jovens e um rapaz que seguem internados em estado grave.

Gabriela Alves Correia, 23 anos, está na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) do Hospital Estadual, Juliana Tibúrcio Gomes, 19, está na UTI do Hospital de Base e Matheus Pierri Carvalho, foi transferido para o hospital da Unimed.

“No caso de homicídio simples, se condenados eles pegariam seis anos, no máximo, de prisão. Pela lei, quem é condenado há seis anos cumpre pena em regime semiaberto. Então não haveria motivo para mantê-los presos”, justificou o advogado reforçando que os rapazes envolvidos estão à disposição da Justiça para esclarecer o que for necessário.

De acordo com o delegado plantonista, Milton Bassoto, que recebeu o mandado de soltura do juiz, os envolvidos não têm passagens pela polícia e possuem residência fixa, o que pode ter contribuído para a decisão. Eles assinaram um termo em que se comprometem a comparecer sempre que forem chamados.

Os suspeitos foram liberados, no final da tarde, da Central de Polícia Judiciária (CPJ) onde estavam desde a noite deste sábado e prestaram depoimento. Eles não chegaram a ser transferidos para uma cadeia da região, pois os delegados que coordenam as investigações aguardavam análise das prisões pelo judiciário.

O laudo do Instituto Médico Legal (IML) que irá apontar a causa da morte do universitário deve ficar pronto em até 30 dias e pode apontar se ele consumiu outras substâncias, além do álcool.

Premiação 

Apesar das bebidas alcoólicas serem servidas à vontade no evento, as garrafas de 500 ml de água eram vendidas a R$ 2 cada, contou um estudante do 1º ano do curso de Jornalismo da Unesp ao Terra. Ele preferiu não ser identificado, mas relatou que participou da competição de vodca e estava sentado ao lado do jovem que morreu.

Segundo ele, 15 universitários estavam na disputa. Ao término do evento, havia a promessa de que a república que ficasse em primeiro lugar em todas as competições ganharia um aparelho de DVD, além de um churrasco com todas as despesas pagas. A equipe campeã seria anunciada no final da comemoração, pelo sistema de som.

“Eu participei pela minha república dessa competição e fui o primeiro a sair. Tinha tomado uns seis copos quando desisti. O Humberto, que faleceu, estava do meu lado. Ele que participou pela república dele. Ele, assim como eu e outras pessoas que participaram desse evento, reclamou do sol, da temperatura da vodca, de várias coisas”, revelou o rapaz.

“O pior, na minha opinião (sic), é que a festa era ‘open de cerveja’ (consumo liberado da substância, sem barreiras), mas não de água. Então, por exemplo, um competidor que tivesse ido despreparado e bebesse muito no evento não ia poder tomar um gole de água se não pagasse”, criticou a fonte em sigilo.

O jovem classifica como um problema cultural a ingestão de bebidas alcoólicas pelos estudantes e cobra providências das universidades.

“É uma cultura de autoafirmação através de bebida. Existe também a cultura do tratamento com os ‘bixos’, com o pessoal que chega à faculdade, tem cursos que tratam eles muito mal”, explica a testemunha.

“As universidades estaduais tratam esses casos que ocorrem com os alunos fora do campus como se não fossem influenciá-las, e no final das contas deixam correr solta essas questões que acabam com morte. Se for pra acontecer uma mudança na cultura dos alunos, a universidade tem que incentivar essa mudança”, completou.