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Manifestação de aeroviários provoca atrasos no aeroporto de Brasília

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Passageiros descendo dos táxis a mais de dois quilômetros do aeroporto e levando as malas nas costas, muito bate-boca, irritação e atrasos marcaram a manhã de tumulto no Aeroporto Internacional de Brasília. Uma manifestação de aeroviários por ganhos salariais e melhoria nas condições de trabalho ocorreu na manhã desta segunda-feira (22).

De acordo com a Inframérica, empresa que administra o terminal, 12 dos 94 voos previstos para decolar entre as 6h e as 10h da manhã atrasaram. Um voo foi cancelado mas, segundo a concessionária, o cancelamento foi programado e não teve relação com a manifestação.

>> Aeroviários fazem manifestação relâmpago no Aeroporto de Brasília

Desde as 8h da manhã, o saguão do aeroporto de Brasília ficou tumultuado devido à manifestação. Acompanhado de dois filhos, um aposentado que preferiu não se identificar estava inconformado com o ato dos aeroviários. “Eles não podem impedir o nosso direito de ir e vir. É um absurdo”, reclamou. Por conta da manifestação, ele e os filhos perderam o voo no qual iriam para a Bahia. A companhia aérea se comprometeu a realocar o grupo em outro voo, até o fim do dia.

A servidora pública Hildegard Farias disse à Agência Brasil que compreende o momento escolhido pelos aeroviários para protestar por melhores salários. “Se não for nesta época, eles não são ouvidos. Desde que não atrapalhem o aeroporto a ponto de cancelar voos, eles podem se manifestar. Apenas atrasar, não vejo problema”, declarou. 

Acompanhada da filha, a servidora disse que se programou para chegar mais cedo ao aeroporto, prevendo que poderia haver dificuldade por causa da grande movimentação nesta época do ano.

“Meu voo é às 11h e saí de casa às 7h. Infelizmente, tivemos dificuldade com o trânsito e estamos chegando agora, por volta das 9h”, contou. Em vários momentos da manhã, passageiros na fila de check-in vaiaram o ato dos sindicalistas. Houve empurra-empurra e a Polícia Militar interveio em momentos de maior agitação.

Com microfones e caixas de som, os sindicalistas tentavam explicar aos passageiros prestes a embarcar os motivos da manifestação. Por volta do meio-dia, os sindicalistas, que tiveram o apoio de integrantes do Movimentos dos Trabalhadores Sem Terra, deixaram o terminal principal do Aeroporto de Brasília e se deslocaram para o Terminal 2. No trajeto, os sindicalistas discutiram com policiais militares, que tentaram dispersar os manifestantes com spray de pimenta.

De acordo com o presidente do Sindicato Nacional dos Aeroviários e diretor da Federação Nacional dos Trabalhadores em Aviação Civil, Luiz Pará, a manifestação surpresa é resultado “da intransigência” do Sindicato das Empresas Aéreas, que representa as companhias aéreas.

“Nosso dissídio coletivo é em dezembro, entregamos nossa pauta de reivindicações em setembro e até hoje não tivemos avanços. A mesa patronal não quer negociar e estamos fazendo esse ato pacífico. Oferecer 6% [de reajuste] é uma covardia, atribuímos esses transtornos aos representantes das companhias aéreas e pedimos desculpas aos passageiros”, disse Pará.

Além de reajuste do piso salarial de diversos segmentos dos trabalhadores aeroviários em 11%, os sindicalistas reivindicam a criação do piso para agente de check-in, seguro de vida no valor de R$ 20 mil, fornecimento de cosméticos quando exigido pela empresa, cesta básica de R$ 326,67.

Luiz Pará não descartou novos protestos caso não haja contraproposta das empresas. "Nossa próxima reunião é no dia 7 de janeiro, mas se não houver avanço [nas negociações] vamos ver quais os aeroportos que podemos parar. Pode ser o Galeão, Guarulhos, Fortaleza ou até o de Brasília novamente”, ameaçou.

Segundo a Inframérica, o aeroporto de Brasília deve receber 117 mil passageiros nos dias 22 e 23 de dezembro, um aumento de 7% na comparação com mesmo período do ano passado. Nessas datas estão programados 1.014 voos comerciais entre pousos e decolagens. Por volta do meio-dia, o movimento no terminal voltou a normalidade. A concessionária não informou se o atraso ocorrido na manhã de hoje causará impacto em outros voos durante o dia.

A Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) informou, em nota, que o Tribunal Regional Federal da 1ª Região expediu hoje liminar determinando que aeronautas e aeroviários se abstenham de promover qualquer ação organizada que, direta ou indiretamente, interfira nas rotinas, condutas e protocolos estabelecidos e normalmente adotados nos aeroportos.

Ainda segundo a Anac, as companhias aéreas não são obrigadas por lei a realocar os passageiros que, eventualmente, tenham perdido o voo. No entanto, da mesma forma como ocorre em situações atípicas como chuva e enchentes, as companhias têm realocado clientes sem ônus.