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Mesa de debate em Fórum Mundial de Direitos Humanos termina sob protestos

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A principal mesa de discussão com a participação do Brasil no 2º Fórum Mundial de Direitos Humanos, no Marrocos, terminou nesta sexta-feira (28) sob protestos. O problema ocorreu depois que o representante da Unesco no Marrocos, Phinith Chanthalangsy, apresentou um documento pronto, de conteúdo desconhecido, para que os países participantes subscrevessem. Surpresos, debatedores da mesa sobre Educação e Direitos Humanos reclamaram que nem sequer receberam cópias do texto e que entre as poucas que foram distribuídas, a maioria estava em árabe e somente alguns exemplares em francês.

“No Brasil nós não construímos pratos prontos. Quando a gente realiza um fórum dessa magnitude, com a diversidade, com as diferenças existentes entre os países, entre as culturas e entre as práticas de políticas públicas e direitos humanos, tudo tem que ser construído, tem que ser conversado. Não houve uma recusa em assinar, mas assinar algo que você não teve oportunidade de participar, não faz parte da tradição brasileira”, disse a ministra da Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República, Ideli Salvatti.

Organizado por entidades marroquinas e pela Faculdade Latino-Americana de Ciências Sociais (Flacso), que coordena no evento as entidades que representam a sociedade civil brasileira, a mesa de debate era para ser um espaço de troca de experiência entre países. “O que aconteceu hoje foi que, de forma muito autoritária, o representante da Unesco interveio na organização, desmontou praticamente a mesa pensada e introduziu um novo debate”, disse o secretário de Direitos Humanos e Cidadania da prefeitura de São Paulo, Rogério Sottili. Ele classificou como uma manifestação inoportuna a atitude do representante da Unesco, acrescentando que, diante do ocorrido, seria legítima uma manifestação da delegação brasileira junto às Nações Unidas.

Assim que percebeu o que estava ocorrendo, a diretora da Flacso, Salete Valesan Camba, foi a primeira a externar a posição de protesto da delegação brasileira ao repudiar a conduta da Unesco e sugerir que as delegações ficassem livres para abandonar a discussão diante do que estava sendo proposto. Além da Palestina, a estratégia foi apoiada por representantes da sociedade civil de todos os países presentes na sala, como Argentina, Líbano, Tunisía, França e Marrocos. “A gente não tinha como apoiar um documento final que não atende aos princípios e aos critérios que a gente tem no Brasil. Minimamente uma participação social no debate e algo mais construído entre todos, e não deliberado de cima para baixo”, disse.

Apesar de não estar previsto um documento final sobre a mesa de Educação e Direitos Humanos, com o texto apresentado pela Unesco rejeitado, a expectativa é que, depois do fórum, possa ser elaborado algo nesse sentido, mas desde que haja concordância de todos os países interessados nesse tema.