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Executivo da Sanko admite repasse de R$ 33 mi a doleiro, mas nega propina

De acordo com ele, Youssef teria intermediado 12 negócios com a importadora

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O executivo Márcio Andrade Bonilho, sócio responsável pela administração da importadora Sanko-Sider, admitiu que pagou R$ 33 milhões em comissão ao doleiro Alberto Youssef pela intermediação de negócios entre a empresa e construturas como Camargo Corrêa, UTC, OAS e Odebrecht. Ele foi ouvido na manhã desta quinta-feira (27) na CPMI da Petrobras. Ele é um dos investigados na Operação Lava Jato a Polícia Federal, suspeito de ter participado do esquema de lavagem de dinheiro e pagamento de propina chefiado na estatal. 

Para Bonilho, contudo, não há irregularidades nos pagamentos realizados ao doleiro, aos quais se referiu como "serviço de comissão". Youssef recebia uma comissão de 3% a 15% nos contratos. Bonilho informou que a empresa nunca fechou contrato direto com a Petrobras, mas admitiu que 98% dos negócios da Sanko são com empreiteiras envolvidas em obras da estatal, como as da Refinaria Abreu e Lima. Segundo ele, as vendas diretas para a estatal não chegam a representar 2% do faturamento total.

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Ele ressaltou que há cerca de quatro anos a empresa fechou um contrato com o doleiro para que ele atuasse como um representante da Sanko no fechamento de alguns negócios e que esses serviços foram prestados por cerca de quatro anos. Pelos levantamentos apresentados durante o depoimento à CPMI, foram firmados 12 contratos por intermédio de Youssef e a Sanko pagou mais de R$ 30 milhões em transferências para as empresas do doleiro.

“Todo o montante era comissão”, disse. “Não tenho negócios com [as empresas] MO ou GFD. Paguei R$ 33 milhões pelos serviços de Youssef, por comissão. Ele apresentou essas notas [fiscais] por exigência minha e com contas correntes dessas notas”, explicou.

Márcio Andrade acrescentou que, no caso de construtoras, têm representantes que “nunca tiveram a performance do senhor Youssef [e] que recebem comissão”. Enquanto esses representantes da Sanko recebiam entre 3% e 5% dos valores fechados, as comissões para Youssef eram de cerca de 15% em alguns contratos, considerando serviços e materiais vendidos.

Bonilho afirmou diversas vezes que a empresa segue a legalidade e que a perícia da Polícia Federal na sede da Sanko não identificou irregularidades. Ele ainda negou a falsidade das notas fiscais entregues por Youssef, que teriam sido checadas pessoalmente por ele. Entre os negócios fechados por Youssef, o maior contrato foi com o consórcio CNCC, que inclui a Camargo Corrêa na atuação nas obras da Refinaria Abreu e Lima.

“O primeiro negócio [com o consórcio] foi em 2010. Foram mais de 280 contratos em pouco mais de quatro anos”, disse, reforçando que a Sanko não é uma empreiteira mas uma importadora de insumos siderúrgicos. O contrato com a Camargo Corrêa incluiu a entrega de quase 20 mil toneladas de materiais, 200 mil conexões de um quarto de polegada e de 32 polegadas. “Foram 900 carretas [de material] entregues. Todas com conhecimento, canhoto e, como a empresa é de São Paulo, as notas passaram pelas barreiras e foram carimbadas pelas barreiras. O contrato foi previamente registrado na Receita Federal e os documentos foram anexados aos processos”, frisou.

Segundo Bonilho, foram assinados dois contratos com o doleiro em nome de suas empresas, apenas informalmente, para garantir que o dinheiro das comissões fosse repassado. No início dos trabalhos feitos pelo doleiro, Bonilho entregou uma planilha dos negócios e, alguns meses depois, Alberto Youssef pediu que fosse incluída uma coluna nas planilhas para o valor das comissões e repasses.

“[A coluna] era administrada por ele. Tudo o que pagava a ele era comissão por produtos e serviços. Nenhum centavo foi direcionado a absolutamente nenhum funcionário público. Os únicos que receberam, pela afirmação dele, eram esses dois executivos [da Camargo Corrêia]. Eu pagava a ele”, declarou o empresário.

Bonilho negou qualquer negócio fechado diretamente com funcionários da Petrobras e afirmou que conheceu o ex-diretor de Abastecimento da empresa, Paulo Roberto Costa, dois anos depois de se desligar da estatal. “Conheci quando ele abriu a empresa de consultoria. Tive um único contrato com a empresa Global que durou quatro meses. Estabeleci contrato de representação para que ele apresentasse empresas do exterior”, disse.

O deputado Onyx Lorenzoni (DEM/RS) acusou o empresário de mentir e questionou a contratação de Youssef que era “um doleiro famosíssimo”. “Quando o senhor contrata Youssef, o senhor sabia que ele podia ajudar na obtenção de contratos rentáveis. Todas as empresas que o senhor relatou participavam desse conluio. Havia o clube do milhão”, ressaltou. Márcio Bonilho respondeu que cada um tem “seu mundo”. “Não entrei no Google para checar o nome dele”, disse.

Ao orientar Bonilho a pensar em um acordo de leniência com a Justiça brasileira, nos mesmos moldes do firmado pela holandesa SBM que pagará parcela do valor que recebeu indevidamente com os contratos com a Petrobras, Lorenzoni foi enfático: “seria muito bom se o senhor viesse a esta CPMI e falasse a verdade. O senhor tentou, aqui, nos enrolar, nos enganar e está usando da mentira”.

*Com Agência Brasil