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Documentos de coronel morto comprovam operações da ditadura

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O Ministério Público Federal (MPF) do Rio de Janeiro revelou nesta segunda-feira o que pode ser a maior prova já obtida de colaboração efetiva entre os regimes ditatoriais da América do Sul para a prática de crimes contra a humanidade. Os documentos foram obtidos pelo Grupo de Trabalho de Justiça e Transição do MPF na casa do coronel Paulo Malhães, assassinado em abril deste ano. 

Segundo o MPF, a documentação foi compartilhada formalmente com a Argentina e já foi anunciada uma Reunião Especializada dos Ministérios Públicos do Mercosul, em Buenos Aires. Essa é a prova mais contundente até agora da 'Operação Condor', episódio histórico de cooperação entre as ditaduras latino-americanas.

Os documentos recolhidos na casa do coronel Malhães comprovam a existência da 'Operação Condor', que até então teve a existência negada pelas Forças Armadas e pelo Ministério das Relações Exteriores, que se recusam, até hoje, a cooperar com a apresentação de documentos requisitados pelo Ministério Público Federal.

De acordo com o Procurador-Geral da República, Rodrigo Janot, a descoberta desses documentos é um marco histórico para revelar os responsáveis por crimes durante a ditadura militar. "As investigações do Ministério Público Federal revelaram a maior prova até hoje obtida da colaboração efetiva entre os regimes ditatoriais do Cone Sul para a prática de crimes de lesa-humanidade. A chamada Operação Gringo, um braço da Operação Condor, foi ocultada da população durante muitos anos e só agora veio a público pelo trabalho do MPF”, disse.

Operações Gringo e Congonhas 

Os documentos comprovam também a existência da “Operação Gringo”, deflagrada durante a ditadura militar. Ela foi arquitetada e executada pelo Centro de Informações do Exército (CIE) do Rio de Janeiro, que monitorava e prendia estrangeiros que demonstrassem qualquer atividade considerada ofensiva pelo regime.

Os relatórios trazem informações das atividades de diversas organizações brasileiras e estrangeiras e brasileiras contrárias ao regime militar. Destacam-se o monitoramento de reunião e atividades de políticos e ativistas da época, como Leonel Brizola, Darcy Ribeiro, Dante de Oliveira, Francisco Julião, Antonio Carlos Nunes de Carvalho e Francisco Buarque de Hollanda. Segundo o MPF, o CIE analisava alianças políticas, como as que envolveram Tancredo Neves, Miguel Arraes, o ex-presidente Lula, além do já mencionado Leonel Brizola.

Outra operação secreta deflagrada na época foi a ”Operação Congonhas”, referente à estrutura e organização de diversas organizações de militância e guerrilha contra a ditadura argentina. “O informe provavelmente foi produzido por militares argentinos e compartilhado com a ditadura brasileira. Embora não assinado, é datado a partir da cidade de São Paulo, relatando diversas atividades de infiltração de militares argentinos operando no Brasil para monitorar, contatar e prender os 'inimigos' do regime argentino. Todas essas informações vem sendo há décadas escondidas da população", detalha o Grupo de Trabalho Justiça de Transição.