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'Financial Times' destaca crise na Petrobras: "Asfaltada por corrupção"

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Reportagem do Financial Times desta segunda-feira (11) destaca a crise na Petrobras, maior empresa do país. de acordo com a reportagem, depois de anos de negociações supostamente secretas, "os homens no centro do que é potencialmente maior caso de corrupção do Brasil cometeram um erro descuidado." 

O texto lembra a prisão do doleiro Alberto Youssef e sua ligação com Paulo Roberto Costa, um ex-executivo da Petrobras. De acordo com o FT, a descoberta de seus nomes em um documento aparentemente inofensino, relacionado à compra de um Range Rover, levou a Polícia federal a descobrir "montanhas de documentos" comprometedores. 

A reportagem relembra a ação da PF, que invadiu a casa de Costa, confiscando o veículo e mais de meio milhão de dólares em dinheiro. "Os promotores alegam que a medida mais ampla de corrupção que afeta Petrobras, incluindo subornos e doações políticas desleais, ascende a mais de R $ 1 bilhão em contratos inflacionados", diz o texto.

O FT destaca ainda que o caso teve forte impacto nas eleições, "que parecia ser uma corrida de um cavalo para a presidente Dilma Rousseff mas passou a ser a disputa mais acirrada da história recente." 

O jornal destaca que os advogados de Youssef afirmam que a compra do veículo não era ilegal e os advogados de Costa acrescentaram que o veículo era o pagamento por serviços de consultoria prestados de boa fé a  Youssef. Ambos os homens estão sob custódia acusado de lavagem de dinheiro, corrupção e abuso de cargo público. 

De acordo com o FT, os brasileiros estão chocados com as acusações de que criminosos se infiltraram na Petrobras, maior empresa do seu país, um ícone nacional e líder mundial em exploração de petróleo em águas profundas.  

"Este escândalo tem contribuído grandemente para a queda na popularidade da presidente", diz o senador Álvaro Dias, do PSDB oposição, que está participando de um dos inquéritos parlamentares sobre o caso, diz o FT. O índice de aprovação da presidente caiu de mais de 60 por cento no ano passado para menos de 40 por cento. De acordo com o jornal, o Partido dos Trabalhadores rejeita alegações de que os problemas da Petrobras têm prejudicado suas chances de ganhar um segundo mandato, dizendo que a presidente foi inocentada de qualquer irregularidade nos escândalos. 

O jornal prossegue afirmando que, além dos partidos políticos, analistas destacam uma "falha perigosa em instituições nacionais do Brasil: a facilidade com que os políticos são capazes de usar empresas estatais como uma fonte de fundos de campanha ilegais."

 "A verdade é que a maioria dos partidos tentam usar empresas estatais em seu benefício", disse Sérgio Lazzarini, professor da escola de negócios, Insper, em São Paulo, ao FT

O preço das ações da Petrobras 

O texto lembra que projeto da Petrobras que está no centro do escândalo envolvendo o Costa e Youssef é uma refinaria perto de Abreu e Lima no nordeste do Brasil. 

Encarada como uma parceria entre o Brasil e a Venezuela, o projeto tornou-se o foco de uma investigação policial sobre lavagem de dinheiro, conhecida como Lava Jato, em que Youssef e Costa estão implicados. 

De acordo com o FT, Em 2006, quando o projeto começou a construção, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, antecessor e mentor de Dilma Rousseff, foi fotografado com o presidente venezuelano Hugo Chávez apertando as mãos no local. A refinaria foi concebido para ser uma joint venture de negócios que iria processar petróleo pesado da Venezuela. Mas Caracas nunca colocou um centavo nele. 

De um orçamento inicial de US $ 2,5 bilhões, o custo da refinaria de 230 mil barris por dia subiu para US $ 20 bilhões, ou $ 87,000 por barril de capacidade de refino. Isso o torna um dos mais caros já construídos, dizem analistas. O custo médio internacional é entre US $ 13,000 e 39,000 dólares, de acordo com uma estimativa do Credit Suisse, afirma o jornal. 

A Petrobras sempre foi politizada. Mas executivos do petróleo dizem que Lula e seus aliados aprofundaram a prática, com a atribuição de um maior número de altos cargos para indicados políticos. 

Contudo, segundo o jornal, o PT rejeita tais argumentos, dizendo que é apenas propaganda eleitoral da oposição que irresponsavelmente mancha a reputação da Petrobras. O advogado de Costa disse que, embora ele poderia ter tido apoio político, ele tem uma carreira como engenheiro da Petrobras nomeado por mérito. 

Foi também a partir de por volta de 2006 que a Petrobras embarcou em uma série de transações que estão atualmente a ser objeto de investigações de corrupção. Mas, de longe, segundo o jornal, a maior preocupação é a refinaria Abreu e Lima. De acordo com os promotores, a investigação Lavo Jato começou como uma investigação sobre suspeita de lavagem de dinheiro pelo falecido José Mohamed Janene, político de PP. No processo, a polícia descobriu transações fraudulentas cometidas entre 2009 e 2013, supostamente por Youssef e Costa, da Petrobras. 

"Temos indícios de que Paulo Roberto [António Costa] transferiu mais de US $ 400 milhões no exterior por meio de contratos de câmbio", diz promotor público Carlos Fernando Santos Lima, ao FT

A acusação cita, como exemplo, as conclusões do TCU, que os contratos celebrados com um construtor, identificada como Consórcio Nacional Camargo Corrêa, foram inflados no valor de até R $ 446 milhões. Esta empresa, por sua vez, contratou dois outros, Sanko Sider e Sanko Serviços, para fornecimento de materiais e serviços, pagando-lhes R $ 113 milhões ao longo de quatro anos, diz o jornal. 

Estes dois, por sua vez, pagaram R $ 26 milhões para uma suposta empresa de fachada, MO Consultoria, controlada por Youssef, e outras quantias não reveladas. Esse dinheiro, então supostamente fez o seu caminho no mar. 

CNCC disse ao FT, em resposta às acusações, de que ele venceu seus contratos através de concursos públicos legítimos. Ele disse que estava cooperando com os investigadores. Um porta-voz das empresas Sanko disse que todas as operações eram legítimas e feitas através do sistema bancário convencional. Ele acrescentou que as empresas estavam ajudando na investigação. 

Os promotores alegam que provas apreendidas com Costa indicam que negociou com os empreiteiros da Petrobras para fazer doações políticas. Eles apontam para um documento no qual ele escreveu o nome de seis grandes empreiteiras da Petrobras que doaram um total de R $ 35.3 milhões para partidos da coalizão governante durante a eleição de 2010. Os promotores alegam que o documento poderia ser "tratada como uma planilha de doações possíveis de campanha, em que Costa agiu como intermediário para essas contribuições com empresas que tinham contratos com a Petrobras". 

Segundo o jornal, os advogados de Costa disseram que as acusações dos promotores contra ele são "suposições" infundadas. Eles também disseram que não havia nenhuma evidência de inflar de contratos. "Os critérios adotados pelo Ministério Público são contestáveis, e isso ficará claro como o caso progride." Youseff também nega as acusações, disseram seus advogados. 

Políticos do PT também afirmou que é muito cedo para tirar conclusões sobre doações políticas. Eles disseram que o problema da Petrobras é a sua independência comercial e capacidade de adjudicar contratos sem os concursos públicos que seriam necessários de um ministério público, afirma o FT

Mas analistas duvidam que muito do que Dilma seja prejudicada. O jornal lembra que ela foi recentemente inocentada pelo TCU de irregularidade no escândalo de Pasadena. 

"A Petrobras vai continuar a ser uma fonte negativa de notícias para ela durante a eleição, mas o principal fator de risco para ela é um enfraquecimento da economia", diz João Augusto de Castro Neves da consultoria Eurasia Group, ao FT

O jornal destaca que o mais preocupante para o Brasil é a propensão aparente de empresas estatais de ser usada por políticos com a intenção de financiar suas campanhas. Furnas, a empresa de energia federal, também foi envolvido em denúncias de corrupção ligados às eleições, que os ex-administradores da empresa já negaram 2002. 

De acordo com o Financial Times, uma lei mais dura contra a corrupção poderia ajudar, mas a execução seria vital. O texto prossegue afirmando que o sistema legal do Brasil muitas vezes permite que pessoas com bons advogados evitem a prisão. 

O jornal finaliza afirmando que "um homem que parecia compreender o problema da corrupção endêmica foi Costa. Em um notebook apreendido pela polícia de sua casa, ele anotou uma citação de Millôr Fernandes, escritor brasileiro: 'Acabar com a corrupção é o objetivo final de quem ainda não chegou ao poder'."