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'Wall Street': polêmicas sobre violência contra a mulher são testadas no Brasil

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"Eu não mereço ser estuprada". A frase pintada no seio descoberto da jornalista brasileira Nana Queiroz e registrada numa foto que circulou amplamente pelas redes sociais em tudo o mundo, polarizou as opiniões no Brasil e ressaltou a contradição da imagem hiper-sexualizada e as suas bases conservadores menos conhecidas no país. A questão é tratada pelo jornal Wall Street Journal, em uma reportagem publicada nesta segunda-feira (7/4), com o título "Testado as atitudes do sexo no Brasil".

A publicação informa que Nana Queiroz tem 28 anos de idade e tirou a foto para uma campanha visando aumentar a conscientização sobre a violência contra as mulheres, que começaram depois de uma agência de pesquisa do governo divulgar recentemente que 65% dos entrevistados em entrevistado para um estudo nacional concordou que as mulheres mostrando demais os seus corpos merecem ser atacadas. Na sexta (4), o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada disse que estava enganado e que o número verdadeiro era 26%.

O Wall Street destaca que a foto foi registrada em frente ao prédio do Congresso, em Brasília, e foi postada na página da campanha no Facebook, onde ganhou mais de 60.000 seguidores, o que tornou Queiroz um fenômeno da televisão nacional. A repercussão da campanha rendeu uma reunião com um assessor da Presidente Dilma Rousseff, a primeira mulher presidente do Brasil. A matéria destaca que Queiroz ouviu do assessor que uma campanha de marketing para educar o público contra os ataques a mulheres antes do Brasil sediar a Copa do Mundo, em junho, deve ser lançada pelo governo, além do acréscimo das questões relacionadas às mulheres no currículo da educação no Brasil. 

A adesão da presidente Dilma à campanha pelas redes sociais também foi comentada na reportagem, citando que Dilma twittou que "Nana Queiroz merece toda a minha solidariedade e respeito". Na entrevista para o Wall Street, Queiroz afirmou que vem recendo milhares de mensagens sobre a campanha, incluindo mensagens de ódio e ameaças contra seu marido, bem como mensagens de apoio de homens e mulheres que foram vítimas de ataques sexuais.

"O Brasil é uma terra de grandes paradoxos", disse Andrew Chesnut, professor de estudos religiosos na Universidade Virginia Commonwealth University. "Na terra de uma mulher presidente, carnaval, biquínis fio dental e cirurgia plástica, ainda persiste algumas atitudes muito tradicionais, que foram reforçadas recentemente pelo crescimento meteórico do protestantismo evangélico, especialmente o pentecostalismo", disse Chesnut para o jornal.

A reportagem destaca ainda que os defensores dos direitos das mulheres, que estão apoiando a campanha, estão pressionando apesar da pesquisa corrigida, argumentando que a estatística de 26% ainda é alta, como é a desigualdade de gênero. "Isto é o que acontece quando você tem maior desigualdade de gênero na sociedade", disse Bárbara Castro, professora de ciências sociais na Fundação Sociologia e Política de São Paulo.

Castro disse que as mulheres ganham 70% dos salários dos homens, em média, em comparação com 76,5% em os EUA, de acordo com o Census Bureau dos Estados Unidos. A professora acrescentou que as mulheres continuam sub-representadas no trabalho e na política, apesar de superar os homens nas universidades. 

Wall Street ressalta que o Brasil tem feito progressos em termos de aumentar a punição para a violência doméstica e tornando mais fácil para as mulheres denunciar os crimes, mas especialistas dizem que a violência contra as mulheres continua a ser um problema generalizado. Cita que em uma recente visita a um centro para vítimas de violência doméstica nos arredores pobres de São Paulo, fotos de dezenas de mulheres que foram mortas por maridos e namorados antigos e atuais foram fixadas nas paredes para incentivar outras pessoas a não ficar em silêncio ou permanecer em relacionamentos abusivos.

Segundo os dados do governo, houve 76.400 casos de violência sexual, física ou psicológica contra as mulheres no Brasil em 2012. Desses casos, 1.281 foram casos de estupro. Mas a grande maioria dos casos não são notificados, dizem especialistas. Queiroz considera que o debate suscitado pela pesquisa é um sinal de que as coisas estão melhorando. "A forma como as mulheres estão reagindo significa que elas não serão atingidas por seus pais quando chegarem em casa para postar uma foto de topless em sinal de protesto", acrescentou ela para o Wall Street.