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Líderes estudantis da década de 50 relembram incêndio da sede da UNE

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Sete lideranças estudantis da década de 1950 fizeram, hoje (1º), um ato em frente à antiga sede da União Nacional dos Estudantes (UNE), zona sul da cidade do Rio de Janeiro, para relembrar o incêndio do prédio há 50 anos, no primeiro dia do golpe militar. José Frejat, que foi presidente da UNE em 1950, era integrante do Partido Socialista Brasileiro (PSB), em 1964, e testemunhou o ato.

Ele conta que voltava para casa, no Flamengo, mesmo bairro onde fica a sede da UNE, depois de uma reunião do partido, quando viu o prédio sendo incendiado. “Quando desci do ônibus, vi que os móveis estavam sendo jogados na rua e incendiados. Não tinha ninguém fardado. Não sei dizer se eram militares à paisana ou se eram civis, do Comando de Caça aos Comunistas (CCC). Foi muito triste. A UNE tinha uma grande força no país. Era uma entidade conceituada, respeitada pelos estudantes”, conta Frejat.

Outro líder estudantil que presenciou o incêndio foi Alfredo Marques Vianna. Ele presidiu a União Metropolitana dos Estudantes (UME), de 1959 a 1960, e era vice-presidente da Associação Comercial do Rio, em 1964.

“Eu passava de carro, por volta das 10h, e a UNE estava sendo incendiada. Aquilo era um indício de que começava um incêndio no Brasil. Esse incêndio foi o primeiro. O Brasil se incendiou ainda mais depois, com cassações, perseguições, torturas”, destacou Vianna.

Para João Pessoa de Albuquerque, presidente da UNE entre 1953 e 1954, não havia necessidade de incendiar a sede da entidade. “Você pode ser adversário político, sem ser inimigo pessoal. Quando você incendeia um prédio histórico e tradicional, você está cometendo um ato selvagem”, disse Albuquerque.

Por volta das 10h30, os sete líderes estudantis estenderam uma faixa com os dizeres “A UNE de ontem protesta contra o incêndio de sua sede, há 50 anos”. Depois de ter a sede incendiada, o governo militar sancionou a Lei Suplicy (Lei 4.464/64), que colocou a UNE na ilegalidade. A entidade só começou a se reestruturar no final da década de 1970.

Flávio Suplicy de Lacerda, ministro de Educação e Cultura no primeiro ano do golpe, criou a lei extinguindo os movimentos estudantis e substituiu por novos órgãos de representação dos estudantes, atrelados às autoridades governamentais.

O prédio foi demolido no início dos anos 80, pelo governo militar, depois que estudantes tentaram reocupar a antiga sede. A UNE reconquistou a posse do terreno em 2007, por uma decisão judicial. Em 2010, o governo federal deu início às obras de reconstrução do prédio, que ainda estão em andamento.