SP: contra rolezinho, PM aborda repórteres em shopping
Policiais militares escalados para acompanhar um suposto rolezinho no Shopping Interlagos, zona sul de São Paulo, apreenderam documentos para “cadastrar” jornalistas e usaram uma arma durante a revista de um cinegrafista. As ações aconteceram na tarde deste domingo, depois que os PMs verificaram que seus procedimentos estavam sendo registrados por parte dos profissionais.
A reportagem do Terra teve a carteira de habilitação apreendida, junto com a do cinegrafista e a da repórter de uma rádio. A ação, realizada por um soldado do 22º Batalhão que não quis se identificar - pela lapela, apenas “soldado César” -, ocorreu depois que a abordagem de um rapaz com uma micro-câmera começou a ser fotografada. Os três profissionais de imprensa foram obrigados a comparecer à base móvel da PM, do lado de fora do shopping, mesmo com a identificação funcional.
“(A apreensão de documentos) é para identificação de vocês, que vão ser cadastradas”, disse o soldado. Indagado sobre o significado do cadastramento, resumiu: “Se acontecer alguma coisa com vocês, eu sei quem são vocês”, respondeu.
Sobre o pedido da reportagem para que ele próprio se identificasse, o PM refutou: “Eu sou policial, você, infelizmente, não é, precisa estudar para ser. Aí você pode abordar, isso (estudar) dá esse direito. O Estado me dá esse direito.”
Mochila, bermuda e chinelo no alvo
Outro policial que acompanhou de longe a ação dos colegas alegou que o grupo estava ali para “coibir o rolezinho e algazarra” e descreveu que, dentre os critérios de averiguação de frequentadores, estavam os trajes – sobretudo bermuda e chinelos –, os acessórios – tais como mochila, citou – e se os abordados andariam em grupos.
De tênis, calça jeans e camisa polo Lacoste, sozinho, o cinegrafista abordado depois de usar o celular e uma micro-câmera definiu: “Foi um absurdo. Eu estava dentro do shopping, e os PMs disseram que eu estava em atitude suspeita. Não tinha como ser isso, se eu nem olhei para eles, entendeu?”, alegou. “Eu tinha entrado para ver como estava a movimentação do tal rolezinho, vi que tinha viaturas e fiz imagens delas. Aí, quando voltei para entrar, tomei até um susto: o policial mandou eu por a mão na cabeça, com uma arma nas minhas costas, me levou até a base móvel e pegou todos os meus dados”, relatou.
Para o 2º tenente De Luca, um dos comandantes da “Operação ‘rolezinho’ no shopping Interlagos” - como estava manuscrito em ficha de posse do policial -, o objetivo do policiamento no local era “não proibir, mas o que a gente não quer é algazarra”. Questionado sobre PMs à paisana, De Luca disse apenas que havia desses policiais “de folga” pelo shopping. Durante a conversa sobre o modo de abordar, de uma base móvel um PM ria e fazia fotos dos jornalistas com um celular.
Shopping nega pedido de abordagem e revista
Por meio da assessoria de imprensa, o shopping negou ter pedido à PM que o acesso de quaisquer cidadãos ao local – jornalistas ou não – fossem submetidos a revista ou bloqueio. Segundo a assessoria, o pedido de liminar à Justiça requeria que fosse evitada, na realidade, uma “tarde de autógrafos do MC Brankim” a fim de que se prevenissem eventuais contratempos.
A assessoria também negou que a segurança interna, privada, tenha sido reforçada - apesar de vigilantes andarem em grupos em número de pelo menos 50 deles no local, revelou um desses agentes, sob anonimato, e alguns, com colete à prova de balas.
Liminar mandava PM “acompanhar” rolezinho
Na liminar expedida hoje de manhã, a ordem da juíza Carolina Nabarro Muhoz Rossi, da 1ª Vara Cível do Foro de Santo Amaro, atendia ação judicial da Associação dos Lojistas do Shopping Interlagos (Alsi) e determinava que a PM acompanhasse rolezinho marcado para o local.
No começo da tarde, uma página do Facebook que marcava o rolezinho para hoje e o adiava para o dia próximo dia 9 foi retirada do ar. Já a tarde de autógrafos do funkeiro, por volta das 16h30, também marcado via Facebook, havia alterado o local do evento para um parque. Procurada para comentar a ação no shopping, a assessoria de imprensa da PM, até esta publicação, não deu resposta.