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Para senador Paim, Bolsonaro quebrou decoro parlamentar

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Ameaçado por neonazistas no final do ano passado, o senador Paulo Paim (PT-RS) afirmou que está acompanhando "com tristeza" o desenrolar da polêmica envolvendo o deputado Jair Bolsonaro (PP-RJ). Ao ser entrevistado pelo programa "CQC", da Band, o deputado relacionou à promiscuidade um possível envolvimento do filho dele com uma negra - na edição de segunda-feira (4) do humorístico, Bolsonaro recuou, alegando não ter compreendido bem a pergunta feita pela cantora Preta Gil.

Na interpretação de Paim, houve quebra de decoro parlamentar.

- Posições como essa não tem como. Por muito menos que isso, no passado, quando não se referia ao povo negro, teve gente que perdeu o mandato. Agora, como se dirige ao povo negro, falam :"Ah, é bobagem" - opina, acrescentando que há uma certa permissividade no Brasil no que se refere a manifestações racistas.

- Nos Estados Unidos, a lei é muito mais dura. O combate ao racismo é muito duro. Já por aqui, tentam fazer de conta que é, mas não é. A coisa é velada. Lá, se o cara comete racismo numa empresa, por exemplo, ele é posto na rua. Então, ele sabe que se praticar esse tipo de ato, será punido. Inclusive, é tão forte lá, que quando escorregam na fala, entram na Justiça e vem uma indenização fabulosa. As pessoas se cuidam para não usar expressões racistas. Aqui, no Brasil, sabem que não vai dar em nada. Uma hora, dizem que é injúria, outra hora, que o cara escorregou, que se enganou, que não falou por mal.

Aos que argumentam liberdade de expressão para embasar a defesa de Bolsonaro, o senador dá um recado:

- Acho que tem que saber até onde o direito à livre expressão vai. Seu direito termina quando começa a ferir o direito do outro. Vamos entrar, daqui a pouco, num estado de anarquia total. Cada um vai chamar o outro de filho da mãe para cima, e vão dizer que é direito de expressão. Confira a entrevista

Como o senhor, que já recebeu ameaças de um grupo neonazista por ser negro, está acompanhando esta polêmica envolvendo o deputado Bolsonaro? 

Paulo Paim - Com muita tristeza. Até comentei na tribuna que estou aqui há 25 anos e nunca tinha visto de deputados federais - refere-se também aos deputados Júlio Campos (DEM-MT) e Marco Feliciano (PSC-SP) - declarações como estas, que demarcam claramente um cunho preconceituoso e racista. Ao mesmo tempo que vejo isso, vejo aumentar a violência contra negros e índios no Brasil. Os números mostram que a cada três jovens assassinados, dois são negros. É um momento muito dolorido para aqueles que lutam pela liberdade, pela Justiça, pela igualdade. Vejo manifestações de que isso é um direito de livre expressão. Acho que tem que saber até onde o direito à livre expressão vai. Seu direito termina quando começa a ferir o direito do outro. Vamos entrar, daqui a pouco, num estado de anarquia total. Cada um vai chamar o outro de filho da mãe para cima, e vão dizer que é direito de expressão. Se os parlamentares dizem o que bem entende e não acontece nada... Isso é deseducativo, lastimável quando fazemos leis e... Veio a Lei Áurea, a Afonso Arinos, a Lei CAÓ, depois uma lei, de minha autoria. Agora veio o Estatuto (da Igualdade Racial). Tudo para penalizar algo que sabemos que se não for contido, vira uma lambança total.

Para o senhor, a declaração do deputado Bolsonaro pode ser interpretada como quebra de decoro parlamentar? 

Na minha avaliação, sim. Posições como essa não tem como. Por muito menos que isso, no passado, quando não se referia ao povo negro, teve gente que perdeu o mandato. Agora, como se dirige ao povo negro, falam :"Ah, é bobagem".

O senhor acha que há uma tentativa de contemporizar pelo fato de o alvo serem os negros?

 Com certeza. Para o povo negro, tudo é mais complicado.

O senhor, então, acha que há na entrelinha uma naturalização do racismo? As pessoas são mais permissivas? 

 É o que me parece. Recentemente, lá em Porto Alegre, descobriram mais uma célula nazista. Eu era um dos alvos porque defendo negros. Defendo negros, brancos, índios, defendo todo mundo. Sou contra qualquer tipo de preconceito. 
Nos Estados Unidos, a lei é muito mais dura. O combate ao racismo é muito duro. Já por aqui, tentam fazer de conta que é, mas não é. A coisa é velada. Lá, se o cara comete racismo numa empresa, por exemplo, ele é posto na rua. Então, ele sabe que se praticar esse tipo de ato, será punido. Inclusive, é tão forte lá, que quando escorregam na fala, entram na Justiça e vem uma indenização fabulosa. As pessoas se cuidam para não usar expressões racistas.
Aqui, no Brasil, sabem que não vai dar em nada. Uma hora, dizem que é injúria, outra hora, que o cara escorregou, que se enganou, que não falou por mal. Aí, acontece isso tudo, permitindo um momento como esse. Acho que o Bolsonaro não deve estar vivendo um bom momento. Na minha avaliação, ele deve estar chateado com o que fez. Eu convivi com ele. Ele nunca tinha demonstrado uma postura como essa.