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Coordenador diz que transposição possibilita nova fronteira agrícola

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Agência Brasil

BRASÍLIA - A transposição de águas pode transformar o Nordeste Setentrional - região mais seca do país - na nova fronteira agrícola brasileira. A possibilidade é levantada pelo coordenador de Projeto de Integração do Rio São Francisco às Bacias Hidrográficas do Nordeste Setentrional, Rômulo de Macedo Vieira , do Ministério da Integração Nacional. Segundo ele, os sertões de Pernambuco (PE), Ceará (CE), Paraíba (PA) e Rio Grande do Norte (RN) podem se tornar a Califórnia brasileira. Refere-se ao estado norte-americano, também semi-árido, que teve transposições de rios e hoje tem uma rica produção agrícola.

- O Nordeste Setentrional tem excelente clima e terreno para plantação irrigada, por ser próximo da linha do Equador. Só não tem água. As condições são melhores do que na Califórnia, que possui uma economia muito maior que a brasileira - ressalta Vieira, destacando o potencial da Chapada do Apodi, formação montanhosa na divisa entre o Ceará e o Rio Grande do Norte.

- Podemos instalar ali uma das maiores fronteiras hidroagrícolas do mundo. Falta a água para se transformar num grande pólo de desenvolvimento agrícola irrigado, que virá com a transposição do São Francisco- frisa o coordenador.

Para Vieira, a produção de frutas tropicais com alto valor agregado, como manga, açaí e mamão, pode abastecer os grandes mercados consumidores do mundo. Além disso, essa região é estrategicamente bem localizada, ficando próxima da Europa e dos Estados Unidos, sublinha. Ele cita o exemplo do Chile - com muito menos condições que nós, produz e exporta quatro vezes mais frutas que o Brasil. A irrigação dessa fronteira agrícola, segundo garante o coordenador do projeto, só vai receber água da transposição quando houver excedente gerado pelas chuvas, ou seja, a prioridade no abastecimento será a população (na região vivem cerca de 12 milhões de pessoas).

Para abastecer os dois canais da transposição, a Agência Nacional de Águas (ANA) outorgou a retirada contínua de 26 metros cúbicos de água por segundo, ou 1,4% da vazão firme do rio (a mínima garantida), que é de 1.850 metros cúbicos por segundo na foz. No período de chuvas, o volume captado pode chegar a 127 metros cúbicos/segundo.

- Não vai faltar água para a irrigação. O excedente de água no rio ocorre em 40% dos dias durante o ano. É quando vamos retirar essa água que vai se perder no mar, jogando-a nos reservatórios da região, suprindo a demanda da população e da irrigação durante os outros 60% do tempo. Se o excedente for para a irrigação, ótimo, pois gera emprego, combate a pobreza e diminui a miséria na região. A irrigação não pode ser uma coisa maravilhosa no Vale do São Francisco e um pecado no Rio Grande do Norte - explica Vieira.

Ele afirma que relatório do Banco Mundial aponta a atividade como a que mais combate a pobreza no Nordeste. Com US$ 5 mil criam-se três empregos, contra US$ 120 mil necessários na siderurgia. Segundo Rômulo de Macedo Vieira, caberá às companhias de abastecimento dos estados beneficiados pela transposição gerir os recursos hídricos. Ele diz, ainda, que já existem projetos de irrigação já implantados e outros que aguardam a obra para ser efetivados. Se o governo também não garantir água para o crescimento local, ninguém vai querer investir lá. Sem água não há desenvolvimento, finaliza.