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Um crime bem explicado

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A sociedade brasileira vive as últimas semanas da campanha eleitoral, sem que faltem as tensões previstas e as que surpreendem; e, por isso, tem o direito, com toda certeza, de cobrar das autoridades policiais e judiciárias a rápida conclusão das investigações que cercam o atentado sofrido pelo deputado Jair Bolsonaro, quando cumpria compromisso de sua agenda em Minas, na semana passada. Sobram razões para que se peça urgência nos trabalhos, não só por tratar-se de um candidato à Presidência da República, que, entre os postulantes, não é figurante na relação das escassas possibilidades, mas potencialmente presente na disputa. Junta-se a isso seu perfil, que vinha provocando amplas controvérsias. Tudo concorrendo para que o episódio seja encerrado, nos trâmites da segurança e da Justiça, com todas as explicações devidamente apresentadas ao conhecimento público. Mesmo reconhecidas as deficiências que comprometem a rapidez das investigações, é conveniente reconhecer que se trata de um caso especial, que, como tem sido analisado, não se esgota no atentado com vítima sobrevivente. Na verdade, carrega consigo amplas repercussões e consequências para o processo eleitoral e para a política, de modo geral, no presente e no futuro próximo.
É o caso, para citar o mais delicado, da suspeita de outros envolvimentos e possíveis interesses na tentativa de homicídio, ideia defendida por muitos, desde as primeiras horas. Os que avaliam algo semelhante não sentem no agressor, que elaborou o crime, e para perpetrá-lo preparou-se longamente, razoável capacidade de armar e executar plano tão sinistro. Como também são numerosos os que negam ao episódio qualquer conotação conspiratória, mas apenas obra pessoal e isolada de um destemperado instável, em quem traços psicóticos recomendariam, suficientemente, remover temores quanto a uma armação adredemente preparada para afastar do prélio presidencial um dos favoritos. Entre o real e a suposição mede-se uma considerável distância, que precisa estar logo solucionada.
O primeiro dever dos especialistas que trabalham com investigações, mormente ante casos como esse, que pôs em risco a vida do deputado Bolsonaro, é deixar aberto o campo para todas as possibilidades, nunca afastadas, até que evidências autorizem conclusões definitivas. Pelo que se sabe, seria a conduta observada no presente caso, sob a imposição da desconfiança de agentes externos que podem estar comprometidos.
Conhecidas e reconhecidas as limitações, recomenda-se, não obstante, que as investigações ganhem celeridade, sem perderem de vista o envolvimento direto de um dos principais atores do enredo eleitoral que está sendo encenado. Não podem caber dúvidas, portanto, quanto à origem da agressão e a possível extensão de suas responsabilidades. Para o entendimento político vai diferir, de forma substancial, se tudo foi produto da mão de um radical, lobo solitário, ou executor do plano de outras mentes. A bem pensar, não é concebível permitir que os eleitores caminhem para as urnas carregando uma dúvida dessa gravidade; não apenas os que teriam disposição de votar no candidato vitimado, mas todos os eleitores de boa índole, porque, para estes, repugnam a violência, a intolerância e o inconformismo agressivo.
A apuração – com tudo posto às claras – haverá de contentar a sociedade. Um crime dessa natureza, ainda com alguns aspectos nebulosos, confundiria milhares de votantes, o que seria muito ruim.