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Falta muito no debate eleitoral

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Não seria possível saber, exatamente, como se faria; mas as campanhas eleitorais deviam ter espaço cativo para que setores mais ativos da sociedade pudessem se pronunciar e influir, de forma que não fosse dado aos candidatos, e apenas a eles, a tranquilidade de dizer coisas às vezes incompreensíveis para o grande público, ou quando recheadas de insinceridades, o que não é raro. Interessante é que em alguns países essa preocupação chegou a ser objeto de debates, mesmo quando se tratava dos orientais, muitos deles até avessos a práticas democráticas. Aqui mesmo, nos velhos tempos do Varguismo, pensou-se em algo parecido, mas logo deturpado com a ideia do voto classista. Ela acabou tendo o mesmo destino do esquecimento que em boa hora foi reservado ao radical projeto integralista das câmaras orgânicas.

Para os tempos atuais, o que se discutiria, como ideia ainda dependente de estudos para sua possível formatação, é a contribuição efetiva e influente das mais expressivas categorias da sociedade, cujas lideranças, presume-se, guardam experiências e conhecimentos proveitosos. Na contestação, dir-se-ia que os candidatos a presidente da República e a governador cercam-se de assessores com qualificação em áreas diversas; mas essas equipes só podem pensar de acordo com as rotas que são traçadas pelo chefe da campanha. As ideias e as propostas são conduzidas, compreensivelmente, sob óticas restritas e pessoais.

Ideal, portanto, é que opinassem os setores social e economicamente produtivos, não apenas para os candidatos, mas também para os eleitores; de forma que esses, não dependentes apenas daqueles, pudessem melhor optar pelos programas que entendessem mais ajustados aos anseios gerais do país. Tanto assim se conclui, que têm sido definida como modesta a contribuição dos encontros que sindicados e outras entidades têm promovido com os concorrentes. O eleitorado merece mais.

Proposta semelhante havia sido levada ao presidente francês Georges Pompidou (1991-1974), que logo a repudiou, pois entendeu que poderia se tornar vassalo dos economistas, categoria que não figurava entre suas principais admirações. É conhecida sua recusa bem humorada: “Há vários caminhos para o desastre do governante, sendo o mais agradável, as mulheres; o mais rápido, o jogo; o mais certo, ouvir os economistas”...

Ressalvado o exagero jocoso do grande estadista, até porque os estudiosos da economia devem estar na primeira linha de um projeto de poder, é preciso considerar que o eleitor, já não se diz apenas o de limitados conhecimentos, mas de todos os níveis intelectuais, deve ter acesso a conhecimentos que o ajudem a qualificar o voto. E caminhar para a urna razoavelmente informado sobre as soluções dos problemas que têm parte no seu dia a dia.

Um exemplo que logo se oferece diz respeito às dificuldades da saúde pública, que a população sente agudamente, mas não conhece os meandros, a intimidade de um sistema complexo, onde se joga com a vida e a morte das pessoas. E, quando ouve a pregação eleitoral, deve perceber que nem tudo se resolve com promessas, muito menos com planos mirabolantes. E, se mostra-se insuficientemente informado, eis aí a vítima ideal para o engodo. Porém, não apenas quando se toca na política sanitária. Há um vácuo, quase um abismo, instalado entre as informações disponíveis ao portador do voto e quem está assumindo compromissos com a nação.

E, mais uma vez, diante desse cenário, é oportuno que se argua a responsabilidade dos partidos políticos. Deviam ser eles os primeiros a acolher, um ano antes das convenções, as diversas classes do organismo social para antecipar preocupações nacionais, numa ampla discussão. É preciso mais luzes na caminhada dos eleitores, e as organizações partidárias não deviam ignorar isso.

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