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Rio: cenário do caos político

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Desde as primeiras sondagens para as eleições para governador do Rio de Janeiro, os analistas têm verificado um elevado índice de declaração de votos brancos e nulos. A profunda crise de desemprego que o estado atravessa ganha contornos mais assustadores em relação ao desmonte da seguridade social e da capacidade do governo estadual e de grandes municípios em promover investimentos públicos.

A gravidade dessa crise, aparentemente, estaria afastando o eleitor comum da manifestação do voto em níveis que poderão comprometer a legitimidade política do próximo governador para promover articulações políticas e enfrentar situações alarmantes no funcionamento da saúde pública com limites orçamentários impostos pelo acordo de recuperação fiscal do Rio de Janeiro. A “velha política” vai priorizar a conquista de cadeiras na Assembleia Legislativa do Rio (Alerj) para tentar tornar o próximo gestor estadual numa espécie de “refém político”. O clientelismo político não perde força eleitoral em cenário de graves crises e baixa participação política.

O desafio dos assessores dos candidatos ao governo do estado passa pelo diálogo com o eleitor que se acomodou no “não voto”. Praticamente um em cada três eleitores do estado não deseja validar seu voto, o que empurra nossa situação para o caos político. A crise da representatividade é um fenômeno mundial que terá o Rio de Janeiro como um triste “laboratório” se o eleitor confirmar nas urnas as sondagens. Ainda não surgiu uma mensagem que sinalize ser capaz de enfrentar os problemas do cotidiano do eleitor.

O tema da segurança pública predomina nos primeiros debates. Entretanto é a economia a grande ausente das formulações de saídas que possam atrair parte do eleitorado. Salvar a economia do Estado do Rio de Janeiro impõe uma forte frente política que se comprometa com a redução da concentração da renda e gradual recuperação dos serviços públicos. Uma escolha que precisa de adesão do eleitor comum. Esse eleitor se encontra desmobilizado pelo conformismo da “antipolítica”.

A fragmentação do campo progressista em três candidaturas é mais um elemento negativo para a defesa de uma pauta democrática na sucessão estadual. O Rio de Janeiro testemunhou as grandes manifestações de 2013. O debate do afastamento político da presidente Dilma mobilizou manifestações favoráveis e contrárias ao impeachment. Na capital, a trajetória de renovação política foi impactada pelo assassinato da vereadora Marielle Franco. Contudo, os sinais da unidade política não se manifestaram para o eleitor.

Desligado do compromisso com uma escolha política, muitos eleitores ainda não perceberam que estão cancelando o futuro do Rio. A campanha eleitoral é curta para expor as soluções que passam por temas complexos. Os meios de comunicação precisam somar esforços para impedir que a crise da representatividade se consolide no estado. Se a situação não for revertida nesse curto tempo as eleições de outubro serão a “Caixa de Pandora” para as classes subalternas do estado.

* Mestre em Sociologia e professor de História

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