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Lava Jato e os limites do presidente

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Alguns dias depois da capitulação do III Reich, em maio de 1945, já não havia na Alemanha qualquer vestígio do partido nazista. As organizações que deram sustentação ao hitlerismo simplesmente se esfumaçaram. E a burocracia voltou a ocupar seus devidos postos. Em julho de 1945 os bondes já circulavam pelas avenidas de uma Berlim arrasada pelos bombardeios.

Como uma ideologia que impregnou a cabeça dos alemães naquela época pode ter se esfumaçado? E isso alguns dias depois de as tropas restantes do exército e as chamadas Volkssturm (milícias civis de resistência armada) terem resistido ferozmente ao rápido avanço do Exército Vermelho?

O povo alemão não era nazista. Foi dominado por políticos sociopatas e psicopatas que se aproveitaram da então frágil democracia, explorando um sentimento nacionalista alimentado por humilhações e crises decorrentes da derrota na Grande Guerra. Um sentimento que foi se transformando em ódio, especialmente contra os judeus, que insistiam em não acreditar que Jesus teria sido o messias.

Da mesma maneira, o comunismo se esfumaçou no antigo império soviético. O autoritarismo continua presente em várias das ex-repúblicas soviéticas, mas os símbolos com a foice e martelo viraram peça de museu mesmo lá e em toda a antiga Cortina de Ferro. Persistem na Ásia, até que apareça alguma coisa mais viável.

O povo brasileiro também não é nazista, fascista ou comunista. Essas ideologias extremistas, movidas pelo fanatismo, não combinam com o carnaval, o sol, a praia, a dança, o happy hour, ou seja, não combinam com a liberdade que está no âmago do jeito de ser do nosso povo.

Porém, todavia, contudo, há uma insatisfação geral contra a bandidagem que passou a atazanar a vida do país, seja nas ruas ou no aparelho de Estado. À frente do bloco do “eu sozinho” o capitão reformado Bolsonaro conseguiu capitalizar uma parte expressiva dessa indignação. Nunca liderou qualquer partido. Nem vai um dia escrever uma espécie de “Mein Kampf”. Infelizmente foi um dos membros da média oficialidade das Forças Armadas que deram espaço para boçais, trogloditas e psicopatas conduzirem a repressão contra as organizações políticas de orientação comunista que atacaram o regime militar nos anos 1960 e 1970. Só o fato de ter declarado uma vez que apoia a tortura nos interrogatórios é um sintoma que talvez precise de tratamento. Terapia que poderia fazer junto com a deputada Maria do Rosário, outra que defende umas posições estranhas sob a veste dos direitos humanos.

Mas a questão que se impõe não é essa. O centro dificilmente sairá vencedor das eleições de 2018. As pesquisas que detectam as intenções de voto mostram que vamos para um dos extremos. Está tudo perdido? Serão mais quatro anos de martírio? Aqui mais uma vez recorro ao meu complexo de Polyana. Por mais que sejam criticadas, as instituições se fortaleceram nos últimos anos. O Congresso mostrou força ao afastar do Planalto uma presidenta emocionalmente desestruturada; a Justiça condenou e encarcerou um ex-presidente da República e um presidente da Câmara dos Deputados pela promiscuidade com a corrupção, assim como ex-governadores, políticos e empresários antes consagrados. Não seremos o mesmo país depois da Lava Jato.

Se o próximo presidente não reconhecer esses limites, não conseguirá governar.

* Polyana fazia o jogo do contente, só queria ver o lado bom da vida. Quem dera que o jornalista conseguisse de fato ser assim. Na verdade, sou cético até demais