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Rio, uma economia do conhecimento

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O Estado do Rio atravessa a maior crise econômica de sua história, com queda de mais de 10% do PIB entre 2015 e 2017 e uma taxa de desemprego de 12,2%. Só em 2017, 21 mil lojas fecharam as portas. Junto com a crise econômica, o Rio vive uma aguda crise fiscal, com déficit projetado de R$ 5 bilhões em 2019. Sem contar a crise na área da segurança pública e a verdadeira tragédia na educação, como atestam os resultados do Saeb e do Ideb de 2017. O momento parece sombrio para o futuro do estado.
Mas como diz o velho chavão, crise também é oportunidade. O Estado do Rio, com um PIB de R$ 671 bilhões, além de 80% das reservas de petróleo do país, uma indústria diversificada e um dinâmico setor de serviços está longe de poder ser considerado “falido”. Tem todas as condições de, aproveitando a crise que permite questionar modelos e inventar soluções, buscar uma alternativa de desenvolvimento econômico que o coloque como uma “economia dirigida pelo conhecimento” (knowledge-driven economy).
É um modelo fundado na produção, distribuição e consumo de conhecimento e informação, priorizando investimentos em indústrias e serviços de alta tecnologia, que demandam capital humano qualificado e que resultam em produtos de alto valor agregado. As empresas de alta tecnologia vêm aumentando exponencialmente sua participação nos mercados mundiais e, hoje, respondem por 7,1% do PIB dos EUA e por 17% das exportações da União Europeia. As empresas do Vale do Silício valem, hoje, mais de US$ 2,8 trilhões. A Bolsa Nasdaq, voltada para empresas de alta tecnologia, negocia diariamente cerca de US$ 187 bilhões em ativos, contra R$ 55 bilhões da Bolsa de Nova York.
A economia do conhecimento é o grande drive do desenvolvimento econômico do século 21. E o Rio encontra-se em uma posição privilegiada para se tornar um polo de produção de conhecimento: temos uma forte indústria do petróleo, grande consumidora de produtos tecnológicos e uma grande capacidade instalada, composta por 137 instituições de ensino superior, com 671 mil universitários, quatro universidades federais, três universidades estaduais, além de vários centros e institutos de pesquisa de ponta nas mais diferentes áreas. Já temos experiência na criação de parques tecnológicos, como o da UFRJ e o BioRio. O Rio dispõe de 14 mil doutores, formados por 287 programas de doutorado. Segundo o CNPq, possuímos mais de 3.300 grupos de pesquisa, com 16.500 pesquisadores. Em termos per capita, somos os maiores produtores de ciência e tecnologia do Brasil.
Mas o que falta para entrarmos na economia do século 21? Não há que se inventar muito nessa área. Os exemplos de desenvolvimento induzido abundam na literatura (China, Coreia, Singapura). São necessários, primeiro, uma política pública de Estado para o desenvolvimento articulado da ciência, tecnologia e inovação, com metas e objetivos de médio e longo prazos, estabelecendo marcos regulatórios claros e estáveis, através de um Plano Estadual de C,T&I. Segundo, uma política de financiamento à C,T&I que envolva incentivos fiscais, financiamento público a projetos de desenvolvimento, implantação de infraestrutura de pesquisa em universidades e nas indústrias e engajamento do Poder Público como comprador de produtos e serviços tecnológicos.
Os recursos virão do Fundo Social, criado pela Lei 12.858/15, que destina 75% dos royalties do pré-sal à Educação. Segundo a ANP, graças ao aumento da produção do pré-sal em 135%, cerca de R$ 26 bilhões estarão disponíveis para investimento em Educação só no estado até 2022. Como a pesquisa é parte essencial do processo educacional e está atrelada à construção de laboratórios, bibliotecas e à contratação de docentes-pesquisadores, será possível destinar um valor expressivo para esse projeto, que não só colocaria o Rio na cadeia global de produção tecnológica, mas ainda faria justiça às nossas universidades e centros de pesquisa, contribuiria para melhorar a qualidade da educação básica e superior e aumentaria sensivelmente a renda da população. Vamos perder mais uma janela de oportunidade?

* Sociólogo e professor - Cebrad/Uerj (palestra proferida no II Simpósio JB-Cebrad sobre o Rio de Janeiro)

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