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Pag. 5 - LEANDRO MAZZINI

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Os anjos da guarda A presidente Dilma Rousseff fez duas jogadas políticas certeiras que vão blindá-la no Palácio do Planalto e contra investidas de segmentos tão aliados quanto perigosos em se tratando de um chefe de nação: a política e a sociedade. Dilma chamou para muito perto de si dois craques em lidar com esses setores, e a eles vai recorrer quando necessário. Estarão sempre por perto e vão guiá-la, serão seus anjos da guarda: Antonio Palocci (D), para a convivência com os políticos, e Gilberto Carvalho, o elo com os movimentos sociais.

Nesta jogada, Dilma mostrou que tem, sim, traquejo político.

Provou mais, tem visão de governo. Saber lidar com esses dois segmentos, com respeito, e com as pessoas certas, é o sustentáculo de um projeto público. Principalmente, quando se trata de um projeto de nação.

Palocci , chefe da Casa Civil, e Carvalho, secretário-geral da Presidência, serão seus braços, cabeça e ouvidos.

Engana-se quem pensa que Dilma, apesar de discreta em tudo, receberá sozinha integrantes oriundos de setores distintos da vida pública nacional. Quando se sentir acuada por políticos, será Palocci, com toda a sua experiência em lidar com tais, quem estará com ela no gabinete. Para visitas eclesiásticas, sindicais, patronais e afins, do alto Executivo ao simples catador de lixo, de um cardeal-arcebispo a um pregador de rua, ali estará Carvalho para orientá-la no diálogo com o povo, sem vícios ideológicos ou religiosos.

E Dilma sabe com quem lida.

Confia em ambos, e muito. Durante a campanha, Palocci e Carvalho – ou Gilbertinho, como é chamado carinhosamente pela presidente – foram seus guias.

Poucos sabem, mas foi Carvalho quem segurou junto aos movimentos eclesiais toda a onda negativa a respeito do imbróglio sobre aborto e a posição confusa da então candidata.

Carvalho e Palocci tomaram posse ontem no Palácio do Planalto, em momentos distintos, mas com discursos semelhantes. Pregaram a união. Carvalho, ex-chefe de gabinete de Luiz Inácio nos oito anos, não se vangloriou. Lembrou seu passado como seminarista, soldador e ajudante de produção em fábrica – e voltou a sê-lo, agora em outra função, destacou, para palmas eufóricas. Palocci não disse muito do passado, procurou evitá-lo – para não amargar a nova fase com as lembranças do caso Francenildo, embora seu fantasma estivesse ali, em todos. Palocci preferiu olhar para a frente. O que ele tinha a dizer já disse. Foi numa ligação, o cerne de tudo, a ligação que mudou o rumo da vida de Dilma e a colocou perto de Lula no governo, num longínquo dia de 2003: Oi, Dilma, aqui é o Palocci. E o resto vocês já sabem.

Por Mauro Santayana: [email protected]