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Um processo político à deriva

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O filósofo da USP José Arthur Giannotti, do alto de sua dignidade, aos 87 anos de grandes serviços prestados ao país, respeitado por todos, diz: "O PSDB morreu. Quer que eu fale de defuntos? O PSDB não é mais um partido." 

Os tucanos, segunda força eleitoral do Brasil e primeira no comando do segmento empresarial, fundamentalmente ligado ao sistema financeiro, ganha um atestado de um dos seus fundadores de que não existe mais.

Os outros partidos acessórios não podem ser considerados como organização política com líderes partidários. São uma organização partidária com políticos que têm interesse no poder. Por isso, servem ao poder da ditadura até hoje. 

Não é o caso do Partido Comunista, nem do Psol, mas claramente é o caso dos outros partidos que foram umbilicalmente ligados à ditadura, e depois serviram aos governos José Sarney, Itamar Franco e FHC. Participaram de negócios como a prorrogação de mandatos e a aprovação da reeleição.

Nesses partidos, um ou outro político não esteve com a ditadura, mas esteve em quase todos os outros governos. E não se conhece nesse partidos nenhuma liderança de mais de 200 mil votos. Não se discute aqui a possibilidade de haver liderança nacional em deputados com votação igual ou inferior à do deputado Tiririca. 

O ex-ministro da Fazenda, envolvido em vários escândalos desde o tempo em que era político municipal até no governo do ex-presidente Lula - quando o país teve com o segmento mais pobre da população um atendimento mais importante - sempre foi ligado ao sistema financeiro, e foi ainda quem quebrou a indústria paulista, congelando o dólar e facilitando grandes empresários.

Consultor e conselheiro de empresas que lhe pagaram fortunas, nunca teve pudor nem ética para evitar conviver profissionalmente servindo como advogado e facilitando negócios de empresas junto ao governo do qual fez parte ou tinha ainda grande ascendência. Mas são inquestionáveis as ligações desse senhor com o ex-presidente Lula e com o poder da época em que serviu. 

Hoje, os jornais estampam escandalosa denúncia que esse senhor fez ao juiz Sérgio Moro. Médico, de temperamento frio e voz tranquila, ele acaba literalmente - até provem o contrário - com as maiores lideranças de seu partido, o que não significa incluir a ex-presidente Dilma Rousseff. Esta é um apêndice do partido, até porque nunca foi do partido. E, como diz aquela velha frase do ex-ministro Delfim Netto, Lula, naquele momento, elegeria até um poste.

A destruição dirigida ao ex-presidente Lula com o depoimento do ex-ministro Antonio Palocci parece a metáfora na qual se diz que o afogado afoga o pai que tenta salvá-lo. 

Não há como rebater com advogados, porta-vozes ou assessores as denúncias feitas por esse também delinquente. O país mergulhará à deriva se todas essas acusações não forem desmontadas com documentos, não com saliva.

Com esta destruição dos partidos importantes do Brasil, o que nos resta é uma reflexão do que poderá acontecer nas próximas eleições majoritárias de 2018. 

Não há, em nenhum dos dois partidos, sucessores dessas lideranças que até agora vinham convivendo. 

O que se vislumbra é que a liderança saia de um processo de radicalização em que o grande perdedor, com certeza, será o Brasil.