ASSINE
search button

No reinado do Rei Arthur

Compartilhar

Obrigada a assistir na TV, ler nos jornais e na internet e ouvir nas rádios notícias sobre tantos escândalos envolvendo empresários e o ex-governador Sergio Cabral, a população se encontra refém de um governo de corruptos e corruptores.

A Justiça precisa agir com rapidez sobre a bandidagem que tomou de assalto o Estado do Rio de Janeiro, começando por sequestrar integralmente os bens de todos os envolvidos nos complexos esquemas de corrupção que entranharam o poder público nos últimos anos.

O último desdobramento da Operação Lava Jato é Flávio Godinho, ex-vice-presidente do Flamengo, preso desde janeiro e solto nesta quarta-feira, pelo ministro Gilmar Mendes, do STF.

Godinho é considerado braço-direito do empresário Eike Batista, que também foi detido no Rio. Ambos foram alvos da Operação Eficiência sob a suspeita de lavar R$ 16,5 milhões em esquema de pagamento de propinas com uso de contratos fictícios, direcionadas a Cabral entre 2010 e 2011.

Ele entrou no grupo como um dos primeiros funcionários da EBX, na década de 80. Era tão antigo quanto as aspirações de Eike de se tornar o homem mais rico do mundo, e fez fortuna ao lado do empresário.

Godinho deixou a empresa em 2013, mas nunca se afastou totalmente de Eike, que nesse mesmo ano, com os negócios se esfacelando e insatisfeito com a assessoria prestada pelo BTGPactual de André Esteves, decidiu selar acordo com Ricardo Knoepfelmacher, para reestruturar a holding EBX.

Ricardo K, como é conhecido, depois de tentar fazer a reestruturação da dívida da EBX, buscou a reestruturação das dividas da UTC, empreiteira de Ricardo Pessoa, que também foi preso no âmbito da Operação Lava Jato e foi solto após delação premiada.

Godinho voltou a frequentar o escritório de Eike como consultor, quando a crise que acabaria derrubando o conglomerado do empresário já estava instalada.

Rei Arthur e a Távola Redonda

Entre as 17 pessoas levadas na última quarta-feira de março, sob condução coercitiva, à Polícia Federal no Rio, estão o presidente da Alerj, Jorge Picciani, e o presidente da Fetranspor, Lélis Marcos Teixeira. Picciani é suspeito de organizar o pagamento de propina pela Fetranspor ao Tribunal de Contas do Estado (TCE), para favorecer o setor em atos de fiscalização do tribunal.

O STJ também autorizou mandados de prisão contra seis integrantes e ex-integrantes do TCE – cinco conselheiros e um ex-conselheiro. Os mandados tiveram base na delação firmada com a Procuradoria-Geral da República, do ex-presidente do TCE-RJ Jonas Lopes, suspeito de pedir dinheiro à Odebrecht para que o órgão aprovasse o edital de concessão do Maracanã e um relatório sobre as obras da linha 4 do metrô. 

Alguns nomes ligados à empresa do megaempresário Arthur Cesar Menezes Soares Filho, que ficou conhecido no governo de Cabral como "Rei Arthur", estiveram em cargos do governo e representantes vinculados ao Grupo Prol, um dos maiores fornecedores do Governo do Estado do Rio com contratos celebrados em diversas secretarias (entre hospitais, presídios, delegacias e o Detran, cujo contrato chega a R$ 1 bilhão).

Rei Arthur contratou, por exemplo, o escritório de advocacia da ex-primeira-dama Adriana Ancelmo, também presa da Lava Jato, e a empresa de Carlos Miranda, operador de Cabral, também preso num grande esquema de corrupção do ex-governador.

O dono do grupo só pode ser laranja do próprio Arthur, o que se estranha é como não está preso.

O Rio se enterra em uma crise sem fim, e os responsáveis por isso retornam para suas casas com todas as mordomias que nunca perderam – adquiridas por meio dos produtos da corrupção. O carioca, trabalhador honesto, onde fica nessa história toda? Aqueles que diariamente sofrem com a violência agravada pela corrupção, o que os espera? Mais uma bala perdida? Perdida?