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A mentira de pernas curtas 

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Um jurista com quase 80 anos, e com 60 de profissão, tendo prestado serviços a vários governos de São Paulo, como o de Orestes Quércia fundamentalmente, após ser citado em delação premiada da Lava Jato por ex-executivo da Odebrecht, pede para se afastar do governo, mas nunca processou quem o denunciou. 

Na delação em que o ex-assessor de Michel Temer, José Yunes é citado, o ex-executivo da Odebrecht Cláudio Melo Filho afirmou que, em 2014, a empresa combinou de dar R$ 10 milhões para o financiamento eleitoral do PMDB. Do valor total, o delator afirmou que R$ 4 milhões seriam entregues a Eliseu Padilha. Padilha então teria telefonado para Yunes pedindo que recebesse uma entrega em seu escritório de advocacia.

Hoje, com um adjetivo chulo, Yunes diz que recebeu um envelope de uma pessoa conhecida em vários processos e em várias rodas, principalmente da elite corrupta. Não podemos imaginar que esse senhor, com tanta experiência de vida militando na justiça em foros dos mais variados, tendo trabalhado com personagens que enriquecem a vida do Judiciário brasileiro, possa dizer que não sabia o que tinha no envelope dado por esse doleiro. E mais: R$ 4 milhões caberiam em um envelope? Se a entrega foi feita em envelopes, devem ter sido vários. A explicação de Yunes é um verdadeiro deboche para quem ouve.

Vale lembrar que nas investigações sobre o esquema de corrupção do ex-governador Sérgio Cabral, a polícia aponta que a ex-primeira-dama recebia R$ 300 mil em mochilas. Como R$ 4 milhões caberiam num envelope? Ou será que Yunes recebeu mais de um envelope?

De doleiro, não se espera um envelope com rosários ou estampas de santinhos. Quem recebia não era uma freira nem um monge retirado. Quem recebia era José Yunes, incriminando o chefe da Casa Civil, Eliseu Padilha. Não é uma desculpa própria dessa cumplicidade.

Num país com 23 milhões de desempregados, esse senhor cinicamente - sem adjetivo melhor - declarava à imprensa que o salário que ganhava como assessor do presidente Michel Temer, de R$ 14.700 (16,1 vezes o salário mínimo), não dava para pagar suas pequenas despesas de alimentação em Brasilia.

O país torce para que a cadeia seja o retiro ideal para que tipos como esses não percam apenas sua liberdade, mas também seu patrimônio. Resta saber se ele pode também ter servido de "mula" a outros que são apontados como delinquentes. 

Para quem não sabe, "mula", no linguajar vulgar, é o que carrega crimes empacotados, recebendo como "mula" para entregar ao seu destino - outros comparsas do crime - a encomenda.

Como na frase de uma velha raposa política como assim era chamado pelo colunista Zózimo Barroso do Amaral: "É o inicio do fim".