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O povo eternamente injustiçado

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Em depoimento de delação premiada, o empreiteiro Fernando Cavendish apresentou o objeto da corrupção, mas não disse a verdade sobre o sujeito. Quando ele diz que comprou um presente para a mulher de Sérgio Cabral, mente. Quem bancou o regalo foi o povo, não Cavendish. Por isto, o ex-dono da construtora Delta não poderia receber as benesses de uma delação -- roubou da população e disse à Justiça que foi ele quem pagou pelo presente, só que ele apenas transferiu o roubo para a mulher de Cabral, receptadora. Trata-se de um conluio de dois ladrões, um que faz e o outro que recebe. E o povo segue enganado.

O sujeito passivo da corrupção, que recebeu a joia, foi apresentado. No entanto, o sujeito ativo da corrupção, com o corruptor dizendo que foi ele quem doou o anel, foi mostrado de forma falsa, dissimulada. Quem deu o anel, na verdade, foi o povo, que nunca é lembrado, todavia, como merecedor de presentes. O anel, afinal, fazia parte dos arranjos de superfaturamento que o Estado pagava com dinheiro do povo.

Por este crime, deveria se imputar ao criminoso corrupto e ao corruptor várias penas. Mas pena mesmo todos deveriam ter, sim, do povo sofrido, sem escola, sem merenda escolar, sem hospital, sem remédio, sem patrão e sem emprego, sem plano de saúde, sempre sofrido. Esquecido até na hora em que presentes são comprados com o dinheiro dele.

Quem deu o presente fomos nós, o povo, com o dinheiro que nos foi roubado e diluído em um presente sem a nossa autorização. 

No caso narrado por Cavendish, inclusive, não se tratou especificamente de um presente, mas de uma troca. Quem ganhou a joia não passa de um receptador -- outro crime.