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As mortes de prestígio e as mortes sem prestígio

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As circunstâncias da morte do dançarino Douglas, que trabalhava em grande empresa de comunicação, tem recebido acusações pesadas. Evidenciadas pela forte mobilização midiática, estas circunstâncias são alvo de graves denúncias por parte dos familiares de Douglas, que acusam e colocam em dúvida para 80 milhões de telespectadores o comportamento das polícias militares e civis. 

As autoridades têm dado ao caso assistência e atenção próprias de homens responsáveis pela segurança e pelos direitos humanos.

Na morte de Douglas houve protestos, incêndios e depredações. A polícia reagiu contra os apontados como homens do banditismo ligados à droga.

Assistimos à reação por parte do povo e à reação por parte da polícia. Reações bem diferentes da dada em solidariedade ao outro morto no episódio no Pavão-Pavãozinho, Edilson da Silva dos Santos, que até agora ninguém quer saber como e por que morreu. O que nós sabemos é que este não tem padrinho.

Como não tinha também Amarildo, cujo corpo até hoje não apareceu e seu desaparecimento, na Rocinha, só começou a ser apurado após inúmeros protestos dos moradores da comunidade. Como não tinha também Claudia, baleada e arrastada por uma viatura da polícia, caso que só veio à tona porque foi filmado por um motorista que passava no local na hora. Ou ainda a menina Maria Eduarda da Silva, de 12 anos, vítima de bala perdida na favela Para Pedro.

O secretário de Segurança, José Mariano Beltrame, afirmou que para se chegar aos culpados pela morte de Douglas "cortará na carne", se for preciso. E quantas carnes já foram cortadas com as inúmeras mortes sem solução que o Rio assiste?

Mas a diferença na forma de tratamento permite aos que pensam e aos 80 milhões de telespectadores perceber que é clara a discriminação de uma população. Como aliás diz hoje o jornal El Pais, no artigo Brasil vive uma crise de segurança há dois meses do Mundial: as autoridades tratam esta comunidade como "cidadãos de segunda".

>> Veja o artigo

E agora, podemos afirmar que os que não têm padrinho são "cidadãos de terceira".