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Crescimento econômico em perspectiva – Qual o futuro?

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Apesar do festejado avanço de 1% do PIB em 2017, o mergulho recessivo da economia brasileira nos últimos quatro anos reabre o debate sobre o crescimento e a inserção do país na economia global. 

A retrospectiva dos últimos 80 anos indica uma situação extremamente preocupante. Após a Segunda Guerra, o Brasil alcançou uma expansão impressionante. Veio o milagre econômico dos anos 70, mas o crescimento acumulado de 105,50% foi destruído, em parte, pelos choques externos adversos (petróleo e taxa de juros norte-americana), mas principalmente pelos erros de formulação econômica e pelas crises políticas no ambiente doméstico, na década de 80. 

A virada do século foi marcada por fortes desequilíbrios fiscal e no balanço de pagamentos, o que levou ora a inflação ora a estagnação. O boom das commodities agrícolas e minerais e as políticas de expansão de crédito e inserção social da primeira década dos anos 2000 deram a impressão de que o país finalmente entraria em uma trajetória de crescimento sustentável. Não foi o que aconteceu.  

O crescimento econômico brasileiro acumulado nesse século foi de 41,59% - 3,54% na média, com 1,81% per capita. É ligeiramente superior a taxa de crescimento da América Latina e do mundo - 2,95% e 2,78%, respectivamente. Entre 2011 e 2017, o país viveu o maior ciclo contracionista da sua história, com a destruição de 9,57% do PIB e uma perda de 14,16% na renda per capita. Foi um retorno às décadas perdidas do século passado. É evidente que o Brasil tem dificuldade em manter taxas consistentes de crescimento por períodos longos de tempo e, ainda pior, indicadores econômicos mais abrangentes sinalizam que a taxa de crescimento potencial do Brasil de 3,5% a.a., com a crise dos últimos sete anos, pode ter sido reduzida para um número próximo a 2,4% a.a. para os próximos anos.

A prolongada crise fiscal e a manutenção de taxas de juros reais elevadas podem ter contribuído para uma situação de insustentabilidade na política industrial, com a destruição da capacidade produtiva de vários setores da atividade, em especial o setor industrial e de serviços mais complexos, quadro em parte decorrente de programas inconsistentes de inserção competitiva.

Cautela e esforço

A atual retomada do crescimento deve ser vista com extrema cautela. Mesmo que consistente, está ocorrendo graças ao desempenho da agricultura, à melhora nas exportações, à existência de uma imensa capacidade ociosa na indústria, à redução nos encargos financeiros, e à expansão no consumo. Os indicadores de longo prazo, como o nível de investimento e os índices de geração de emprego, não são animadores. Repetem a tendência das últimas três décadas. 

Abandonar essa vocação para a estagnação exige uma ampla reforma no estado, fortes programas de inserção e qualificação de mão-de-obra e trajetórias consistentes nos indicadores de natureza fiscal. A tarefa é complexa, diante da constatação da existência de grupos de privilegiados, de uma elite com perfil extrativista e de enormes falhas no processo político.

Tendência e Impactos

A diminuição na capacidade do país em manter taxas de crescimento superiores à média observada na economia mundial projeta um quadro de grandes implicações sociais e políticas. Nos últimos cinco anos, a recessão levou a uma redução de quase 14% na renda do brasileiro comparada com a renda média per capita do mundo. 

 Esse diferencial pode provocar uma fuga de talentos e recursos e a incapacidade de manutenção do equilíbrio fiscal, com a construção de um cenário explosivo para a relação entre o endividamento público e a receita global do governo central. 

Reverter esse cenário exige um aumento de quase 300% no nível de eficiência dos fatores de produção. Isso significa que com o mesmo volume de capital físico e humano, o país precisa ser mais competitivo e dinâmico. De outra forma, nossos indicadores econômicos continuarão se deteriorando em relação aos de outros países emergentes.