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Grandes bancos, grandes negócios IV 

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Ao analisarmos a evolução da rentabilidade do sistema bancário nacional, verificamos a existência de elevadas e consistentes taxas de retorno sobre o Patrimônio Líquido (PL). Ao longo dos últimos 15 anos, mesmo quando a economia apresentou taxas modestas de crescimento, o setor conseguiu consolidar seu lucro em níveis e variações absolutas expressivas. 

Comparamos os balanços consolidados de instituições bancárias latino-americanas - Argentina, Chile, México e Colômbia - e da Austrália, país que frequentemente é citado como exemplo de qualidade na gestão de sua supervisão bancária. A análise é pertinente para avaliar se os bancos brasileiros têm taxa de retorno anormal e se são expressivamente superiores às encontradas em instituições congêneres internacionais.  

No período compreendido entre os anos de 2001 e 2016, o Chile é o país com a maior rentabilidade na amostra e o que apresenta a menor dispersão, ou seja, é onde o resultado é mais estável. Na média, o retorno observado sobre o Patrimônio Líquido foi de 18,08% ao ano para o período. Em seguida, estão os bancos brasileiros (17,04% a.a. no período) e, por último, os da Argentina. Os bancos argentinos, assim como os australianos, na média ganham menos, mais ocasionalmente ganham bem mais e sua rentabilidade flutua muito. O desvio padrão – medida que dá ideia dessa oscilação – está apresentado na tabela. 

Um detalhe importante é que, entre os países observados, o Brasil é o que tem a maior dívida pública em relação ao Produto Interno Bruto (PIB) e o que teve a maior taxa de juros real no período: quase 2,5% a.a. acima da média da taxa praticada na amostra. Por isso, o percentual da rentabilidade dos bancos brasileiros decorrente da intermediação financeira, em média, é três vezes superior ao encontrado nos balanços dos cinco países do continente. 

De fato, a rentabilidade das instituições brasileiras é elevada para padrões internacionais, mas o país não é um paraíso isolado para o sistema bancário. O Chile é mais generoso, mesmo com as ressalvas de porte e escala, já que seu mercado bancário equivale a 11% do nosso. O sistema financeiro nacional, em ativos, é cinco vezes superior ao da Colômbia, quatro vezes o argentino, e 30% maior que o do México. 

O mesmo levantamento feito para os Estados Unidos indica uma rentabilidade média para o sistema bancário de 8,05% a.a. e de 10,53% a.a. para o conjunto das instituições financeiras. O sistema financeiro norte-americano é 15 vezes maior do que o brasileiro.

Concentração e pequena abertura internacional

Um fenômeno observado na análise das características do sistema bancário da América Latina foi a enorme tendência de concentração. Entre 2001 e 2016, a participação das cinco maiores instituições dos países analisados aumentou. A observação do índice para Brasil e Colômbia revela que, em 2001, o volume de ativos das cinco maiores instituições fi nanceiras brasileiras representava 50% do total e alcançou 80,47%, em 2016. Na Colômbia, o percentual saiu do mesmo valor e atingiu 78% no fi nal do período.  A trajetória é idêntica no México, Chile e Argentina. 

O sistema bancário brasileiro só destoa da experiência encontrada na América Latina na avaliação da importância dos bancos estrangeiros. No México, 70% dos ativos pertencentes ao sistema bancário estão depositados em instituições estrangeiras. Na Argentina, o percentual é de 35%; na Colômbia, 48%; no Chile, 49%; e no Brasil, apenas 8,5 %. 

No Brasil, somente um banco estrangeiro está entre os cinco maiores bancos. No México e no Chile, quatro têm controle estrangeiro. Na Argentina, são três e, na Colômbia, dois. 

A forte concentração observada no Brasil ocorreu pela diminuição expressiva da relevância dos bancos internacionais no volume de operações e na presença de instituições. O sistema bancário brasileiro privado é o mais sólido na América, com indicadores de solvência e adequação de capital em linha com o recomendado internacionalmente a partir dos Acordos de Basiléia II e III, sendo majoritariamente de propriedade nacional.