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Grandes bancos, grandes negócios III

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Nos últimos cinco anos, as quatro maiores instituições bancárias reduziram suas despesas operacionais em 18%, enquanto aumentavam o peso dos ganhos financeiros em relação ao resultado operacional em 53%. Ganharam escala e eficiência.

Hoje, o ganho financeiro é 56% maior que o resultado operacional. A razão entre as despesas administrativas e o resultado operacional passou de 62,11% (1T/2005) para 50,88% (3T/2017), ou seja, de cada 10 reais que arrecadam com a atividade hoje, os bancos gastam apenas metade com a manutenção de agências, encargos e salários. 

Além disso, os bancos brasileiros têm nas tarifas um componente relevante de suas receitas. No primeiro semestre de 2017, por exemplo, para o conjunto das instituições financeiras em operação no Brasil, a arrecadação com tarifas (R$ 61 bilhões) foi equivalente a quase um terço da receita com operações de crédito (R$ 187 bilhões). E é ainda mais surpreendente perceber que as quatro maiores instituições capturaram 80% dessa receita, depois de conseguirem aumentar em 10% a arrecadação nessa rubrica em um ano. 

Os bancos também estão mais enxutos, mas têm encargos maiores. Entre 2011 e 2017, o número de empregados no setor bancário diminuiu 5,36%, o que significa dizer que 34 mil pessoas deixaram de trabalhar nas instituições. Mesmo assim, as despesas com pessoal aumentaram 9,4%, enquanto as receitas com serviços e tarifas cresceram 5% no mesmo período, em valores reais. 

No caso das despesas com pessoal, aconteceu que os bancos incorporaram a participação sobre os lucros, Banco do Brasil e Caixa Econômica, como são instituições públicas, adotaram políticas diferentes e algumas instituições implementaram programas de demissões incentivadas. Tudo isso aumentou os gastos. Já as tarifas continuaram a crescer em valores nominais, mas não acompanharam a inflação do período e também sofreram o impacto da redução do número de bancos varejistas. Com isso, a razão entre gastos com pessoal e receitas de tarifas começou a diminuir a partir de 2015, como mostra o gráfico. A tendência é que tal situação comece a se repetir ano a ano não mais em decorrência da inflação, mas de um possível aumento na concorrência, por conta de novas instituições 100% digitais.

Futuro não será tão fácil

Não é possível refl etir sobre o futuro do setor bancário olhando apenas para o retrovisor. No mundo todo, as novas tecnologias estão reduzindo as barreiras de entrada no setor, inclusive com medidas de incentivo de reguladores, como o Banco Central. Eles consideram as Fintechs (as startups do setor financeiro) uma solução para aumentar a competição e reduzir custos e taxas. 

Mais regulados, com menos agências, regras mais rígidas para concessão de crédito e altos custos com sistemas de informática e monitoramento de fraudes, os bancos tradicionais têm cada dia menos empatia por seus clientes e vice e versa.  

Aplicativos e tecnologias como Blockchain, soluções ponto a ponto e o uso de inteligência artificial tornam mais fácil e barato desenvolver sistemas, conectar investidores e tomadores de crédito e comparar serviços. São novidades que oferecem boas perspectivas em mercados como o brasileiro, onde apenas 57% da população tem conta em banco. 

Por outro lado, a concentração em um número pequeno de instituições extremamente fortes como ocorre no Brasil exige fôlego e determinação dos novos entrantes. Na prática, existe um ambiente de conforto regulatório, que funciona como uma muralha de proteção para os grandes bancos, já que um movimento de desregulamentação muito brusco pode se converter em maior fragilidade para todo o sistema.