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"100% Grã-Bretanha", carioca do vôlei inglês quer enfrentar Brasil 

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Se depender da vontade de um carioca de 24 anos, nativo de Copacabana e torcedor do Flamengo, ele estará em quadra nas quartas de final do vôlei masculino dos Jogos de Londres, na partida entre Brasil e Reino Unido. Mas não do lado verde-amarelo. Único brasileiro entre os 542 atletas da delegação britânica na Olimpíada, Mark Plotyczer não esconde que, defendendo uma nação cujos habitantes mal sabem o que é voleibol, deseja enfrentar seu país-natal, onde a modalidade possivelmente só perde para o futebol em termos de popularidade.

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Em conversa com o Terra, Mark falou das dificuldades enfrentadas pela seleção britânica, que sofreu com um corte orçamentário há dois anos, e das expectativas de enfrentar os compatriotas na Olimpíada - um confronto que ele mesmo define como "difícil" de acontecer. O time de Plotyczer já enfrentou o Brasil no evento-teste dos Jogos, em julho de 2011, mas uma lesão impediu o ponteiro, cujo pai é inglês, de atuar na derrota britânica por 3 sets a 0.

Apelidado de "Samba" na seleção britânica por causa do gosto musical tipicamente brasileiro, Mark é o jogador que mais grita e motiva os companheiros em quadra. "Tento passar um pouco dessa raça brasileira para eles, que são mais focados no trabalho", explicou. E se no futebol a torcida do carioca vai para a Seleção liderada por Neymar, o sentimento pelo país-natal passa longe quando o assunto é vôlei. "Sou 100% Grã-Bretanha", avisou.

Confira a entrevista com Mark Plotyczer, ponteiro da seleção britânica de vôlei

Terra - Você nasceu no Rio de Janeiro e morou até quando no Brasil? Como aconteceu a entrada para o time britânico de vôlei?Mark Plotyczer - Minha criação inteira foi no Rio de Janeiro, em Copacabana, onde meus pais moram até hoje. Comecei jogando vôlei em um clube perto de casa, depois joguei durante alguns anos no Fluminense, e de lá fui para o antigo projeto do Banespa. Fiquei quatro anos em São Paulo jogando pelo Banespa, e em 2007 meu pai viu um anúncio em um site sobre o projeto olímpico que estava sendo montado aqui na Inglaterra, para formar uma equipe competitiva para os Jogos. Entramos em contato e eles se interessaram, fizeram o convite, me conheceram um pouco melhor. A partir de 2008, já passei a integrar o projeto. Fui pela oportunidade de fazer parte de um ciclo olímpico.

Terra - No Brasil, o vôlei é talvez o segundo esporte depois do futebol. Já na Inglaterra é totalmente amador. Como você encara essa diferença?Mark Plotyczer - Na verdade não é nem amador, é quase inexistente. Tem nas universidades meia dúzia de times, mas os jogadores têm que sair para os campeonatos europeus para dar continuidade no programa. Antigamente tínhamos orçamento para ficar o ano inteiro na Inglaterra, mas teve um corte em 2010 devido à crise econômica, e a maioria dos jogadores teve que buscar times em outros países.

É uma diferença enorme, até em condições de trabalho, porque montar uma equipe no Brasil, não precisa nem ser em nível de Seleção, é muito mais fácil que na Inglaterra. Aqui ninguém conhece vôlei, você passa na rua com um uniforme escrito 'voleibol' e logo associam a vôlei de praia. Perguntam: 'mas onde vocês jogam se não tem praia aqui?'. Nem sabem direito que tem vôlei, até dificulta nosso trabalho.

Terra - Qual o nível atual do time britânico? Seria bom levar mais alguns brasileiros?Mark Plotyczer - (Risos) Sem dúvida, se pudesse trazer outros brasileiros com passaporte... não de nível de Seleção, mas um nível um pouco menor, só pela experiência, já ajudaria muito. Mas infelizmente não é possível. Acho que a gente conseguiu durante cinco anos formar uma equipe competitiva, que era nosso objetivo. Começamos do zero, recrutamos jogadores, alguns começaram a jogar só dois, três anos atrás. Hoje o objetivo é passar para as quartas de final. É difícil, mas não impossível, porque já tivemos resultados contra adversários diretos, como a Austrália. Mas as outras seleções sempre serão favoritas contra nós.

A seleção britânica integra o Grupo A na Olimpíada, ao lado de Itália, Polônia, Argentina, Bulgária e Austrália. Para passar de fase, os donos da casa precisam vencer dois jogos; um possível confronto com o Brasil nas quartas de final aconteceria se o Reino Unido ficasse em quarto de sua chave, e a Seleção de Bernardinho vencesse o Grupo B.

Terra - Hoje, seu coração é de que país? Qual hino ia emocionar mais em um Brasil x Reino Unido?Mark Plotyczer - Confesso que, em termos de voleibol, sou 100% Grã-Bretanha. Já são cinco anos de envolvimento, já passamos dificuldades devido ao corte orçamentário, e no voleibol não penso mais no Brasil em termos de Seleção. Acompanho como qualquer outra seleção, tem craques lá que são meus ídolos, mas apenas isso. Eu não joguei porque estava lesionado, mas enfrentamos o Brasil no teste olímpico no ano passado, e seria ótimo jogar contra eles de novo. Seria uma honra, mas ficaria difícil por causa do cruzamento.

Terra - E no futebol, vai torcer para quem?Mark Plotyczer - No futebol é para o Brasil. O futebol não é tão visado na Olimpíada na Inglaterra porque é a única competição em que eles (futebolistas) jogam como Grã-Bretanha, e devido a rivalidades entre Inglaterra, Escócia, Irlanda do Norte e País de Gales eles não têm tanta tradição no futebol olímpico. Mas sem dúvida estou tentando achar ingresso para a final. Futebol é minha paixão, sou flamenguista e acompanho muito. Confio no Brasil na final, gostei bastante da convocação do Mano.

Terra - Os jogadores britânicos são fãs do vôlei brasileiro?Mark Plotyczer - Sem dúvida. O pessoal sempre olha vídeos do Ricardo, Bruno, que são grandes levantadores. Giba e Dante são referências, os centrais daqui sempre comentam do Sidão, do Lucão... o Serginho é uma referência muito grande, não só pelo vôlei, como pela personalidade dentro de quadra. É uma coisa que atrai muito os britânicos, o caráter do brasileiro de se entregar, de não desistir nunca.

Terra - E no time britânico é você quem cumpre esse papel de empurrar os companheiros em quadra? Você tem até apelido no time...Mark Plotyczer - (Risos) É verdade, aqui me chamam de 'Samba'. Mas é mais por ser brasileiro, eu gosto bastante de samba e pagode, escuto sempre. E como já tinha outro Mark no time, o apelido pegou. Eu tento trazer um pouco dessa raça brasileira para os britânicos, já que eles têm a mentalidade mais focada no trabalho e menos na emoção.

Terra - Costuma ir bastante ao Brasil visitar família e amigos?Mark Plotyczer - É muito difícil ir para o Brasil, porque a gente acaba emendando temporada de seleção com clube. Mas sempre que tem uma semana eu vou. Agora, depois da Olimpíada, tem uma semana de folga antes de começar os treinos da seleção para a classificatória do Europeu. Depois, já tem que ir direto para o meu time (Mark vai jogar no vôlei da Bélgica após os Jogos Olímpicos). Já faz um ano que não consigo ir ao Brasil, mas vou tentar desta vez, se tiver condições.