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Breves reflexões sobre a encíclica do Papa Francisco - Laudato Si (parte3)

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Dando continuidade a sequencia de artigos referentes a Laudato Si, encíclica ecológica apresentada pelo Papa Francisco, quero também apontar algumas especificidades que nos leva a pensar sobre nossa práxis, ou seja, sobre nosso agir a partir de uma concepção de compromisso com o planeta terra.

A frustação dos movimentos ecológicos no Brasil é fruto da ganância dos poderosos, da acomodação e desinteresse da população. Os caminhos de solução apontados pela Laudato Si nos levam a refletir sobre a urgência de uma ‘nova Solidariedade Universal’. São necessárias muitas mãos unidas para por em prática uma nova cultura política ambiental.

O momento atual exige lutar contra a cultura do descarte; inclusive as relações humanas estão à mercê da instrumentalização e banalização da vida, caindo no erro de ver o diferente como lixo ou passível de ser usado e descartado. Devemos tomar consciência da necessidade de nos reconhecermos uns nos outros, pertencentes à mesma casa comum, e mudar o estilo de vida, de produção e de consumo.

A urbanização das cidades, organizadas em torno dos princípios da economia de mercado, mercantilizou a vida humana. Tudo é pago, tudo é comercializado. O caso da água, muito citado por Francisco, por exemplo, é motivo de conflitos pelo mundo inteiro. Como sabemos, “em alguns países há regiões com abundância de água, enquanto outras sofrem grave escassez” (Papa Francisco, 2015, §29). Como bem descreve Siqueira:

“Inspirados na Laudato Si, cremos que se faz necessário superar a visão fragmentada e utilitarista da água, esvaziando a importância de seu caráter cultural, humano, ecossistêmico e teológico. Trata-se, portanto de pensar uma nova ética para a água – hidroética, onde alguns aspectos são essenciais (Siqueira, 2016, p.27)”.

Quando vemos tudo se tornar mercadoria, inclusive os bens primordiais à vida, como a água e a terra, temos que nos questionar onde estão e quais são os limites entre o que é público e o que é privado. Nas relações cotidianas constatamos que os mais pobres são deixados de lado, estão em segundo lugar, sem os benefícios do esgotamento, coleta de lixo, transporte público, boas escolas, etc., seja em decorrência do não funcionamento dos serviços públicos, seja pelo fato de que o custo dos serviços privados se encontra acima das suas possibilidades econômicas.

Para que a grande família humana possa viver com dignidade e justiça, é necessário um ambiente bem cuidado. Mas não basta apenas refletir. A Laudato Si, tanto quanto o texto-base da CF 2016, nos leva a uma práxis:

“O diálogo e o trabalho conjunto em favor do bem comum são testemunhos importantes que podemos oferecer para a sociedade. Afinal, Jesus sempre se colocou aberto à escuta, às partilhas e a uma boa roda de conversa (conforme João 4; Marcos 8,1-9). Por isso, esta Campanha da Fraternidade Ecumênica deve nos motivar a irmos ao encontro de todas as pessoas – católicas, evangélicas, espíritas, outras religiões e até mesmo não crentes – para que juntos encontremos ações conjuntas que favoreçam o cuidado com a nossa Casa Comum” (CNBB,2016).

*Walmyr Junior é morador de Marcílio Dias, no conjunto de favelas da Maré, é professor, membro do MNU e do Coletivo Enegrecer. Atuou como Conselheiro Nacional de Juventude (Conjuve). Integra a Pastoral Universitária da PUC-Rio. Representou a sociedade civil no encontro com o Papa Francisco no Theatro Municipal, durante a JMJ