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PUC-Rio é ocupada por estudantes contra a PEC 55

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Na noite desta quarta-feira (16), foi deliberada em assembleia estudantil a ocupação da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio) contra a PEC 55, popularmente conhecida contra a PEC da Morte. A ocupação é em resposta ao retrocesso econômico apresentado pelo governo do Michel Temer, propondo o congelamento nos gastos públicos da educação e da saúde. 

O movimento começou há mais de um mês, e no último dia 9 os estudantes decidiram organizar a plenária, realizada quarta-feira (16), que propunha de forma pacífica ocupar a universidade sem restringir ou atrapalhar o acesso à sala de aula. 

Lucas Clementino é aluno de Arquitetura e Urbanismo e membro do coletivo Bastardos da PUC. Segundo o estudante, “cerca de 51% dos alunos da graduação na PUC-Rio são bolsistas, desses, 33% são bolsistas integrais. Isso por si só já demonstra a pluralidade da universidade tanto no sentido de haver alunos afetados, quanto no sentido de que os alunos atingidos entendem que há um novo papel no espaço da universidade. O papel de quebrar a imagem da universidade-bolha, que não avança para a sociedade e não se estende na realidade dos alunos atingidos. Também é uma forma de alunos bolsistas e periféricos se organizarem e discutirem o seu espaço na universidade, a permanência estudantil, e diversos assuntos para além dos cortes de gastos. Ocupar a PUC-Rio é uma forma de se colocar na realidade de uma outra maneira, para discutir como se organizar e produzir em cima da realidade atual que atinge a população mais pobre desse país”.

Já Joel Schutz, aluno de História, argumenta suas motivações para a ocupação. Segundo ele “parece importante pensar sobre os movimentos de ocupação pela sua importância histórica. Não só esses movimentos criam uma mobilização que não se vê há anos no Brasil, como constroem toda uma nova narrativa sobre o próprio movimento estudantil. São espaços de reinvenção da luta democrática, e também da própria democracia. Luta extremamente cara em um momento histórico como esse em que a democracia é atentada a todo momento e não representa mais ninguém .”

A gestão atual do DCE da PUC, gerida pela Juventude do PSDB, se colocou contrária à ocupação. Porém, o numero de estudantes pró-ocupação na assembleia foi muito superior à representatividade do DCE. Apesar de os membros do diretório central dos estudantes a todo momento reforçarem um discurso de que os alunos não poderiam organizar uma assembleia se não fosse por meio do DCE, foram vencidos pelo voto dos estudantes que não se sentem representados por eles. 

Natalia Balbino, Aluna de Artes Cênicas, argumentou que a ocupação só tem um sentido: “Ocupar, resistir e produzir”. “Aprendi esses lemas nova ainda com o MST. Aprendi na prática, na carne. Aos 20 anos de idade estou a caminho da terceira experiência de ocupação. A convivência enriquece, promove debates, diálogos produtivos e democráticos e, principalmente, nos afasta da alienação. Ocupar um espaço histórico como a PUC-Rio reaviva a consciência sobre a legitimidade dos movimentos e mobilizações sociais tão marginalizados hoje em dia. Ocupar a PUC-Rio simboliza a redução da distância ainda perceptível entre a Academia e a periferia. O ‘ocupa PUC’ quer garantir que estudantes como eu, negra, pobre e favelada, fixem cada vez mais o seu lugar nas casas do saber”

A ocupação promete ficar até a votação da PEC 55. Os estudantes estão com uma programação extensa, com debates, cine-opinião, rodas de conversas e atividades culturais. Os interessados em contribuir com a ocupação podem entrar em contato com os estudantes a partir das redes sociais no Facebook do movimento: httpss://www.facebook.com/ocupapucrio/?fref=ts

* Walmyr Junior é morador de Marcílio Dias, no conjunto de favelas da Maré, é professor, membro do MNU e do Coletivo Enegrecer. Atua como Conselheiro Nacional de Juventude (Conjuve). Integra a Pastoral Universitária da PUC-Rio. Representou a sociedade civil no encontro com o Papa Francisco no Theatro Municipal, durante a JMJ