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Os erros do fanatismo ateísta da esquerda

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Os erros da elites intelectuais do Rio de janeiro foi pensar que o povo pobre, preto e favelado é burro. Para o doce engano da classe média e da esquerda carioca, quem saiu vitorioso no processo politico eleitoral foram aqueles que sempre estiveram ao lado dos pobres, ou seja, o povo religioso, que mudou o cenário eleitoral e consolidou a vitória de Marcelo Crivela no 2º turno. O Bispo da Universal não ganhou as eleições sozinho. Conquistou apoio importante em setores da Igreja Católica e das igrejas protestantes, que em certa medida fizeram em seus púlpitos uma massiva campanha eleitoral.

Para o desespero da esquerda, que abandonou o território periférico e favelado, quem sempre esteve do lado dos pobres foram as igrejas. Haja vista o trabalho social que a Igreja Católica e igrejas evangélicas sempre cumpriram e que se reverberou na ocupação do vazio que o Estado historicamente deixa na favela.

A reprodução do ódio contra os cristãos, por parte de uma pseudo-hegemonia intelectual, mostrou que a esquerda tem muito que aprender com as experiências religiosas. O discurso que foi implementado em torno de críticas à ‘alienação cristã’ não convenceu. O projeto socialideal das esquerdas não soube como dialogar com os pobres, justamente porque os mesmos não se sentiram representados por um purismo ideológico que nunca foi apresentado na favela. 

Falam por ai que as igrejas doutrinam seus fiéis, ou ainda, que “a religião é o ópio do povo”, e por isso todos vão sair perdendo. Mas na verdade, quem saiu perdendo não foi só o ‘povo alienado’ e sim uma elite intelectual, artística e universitária que se apresenta com um purismo esclarecedor, se colocando em lugar de superioridade em relação aos ‘pobres mal educados’. 

Cabe a nós a reinvenção da práxis política. Cabe a nós a retomada dos trabalhos de base. Cabe a nós a ressignificação das nossas atitudes e pré-julgamentos. Cabe a nós impedir que uma casta clerical se aproveite da fé alheia para pedir votos. A fé e a religião nada têm a ver com os desmandos da bancada cristã, muito menos com os Pastores e Bispos que ganharam eleitoralmente Brasil a fora. O voto do povo cristão tem a ver com a representatividade enxergada naqueles que nunca abandonaram o povo necessitado do meio rural ou das favelas.

Cada dia mais se alimenta o discurso do ódio através de uma política sem religião, mas não olhamos para trás para analisar as construções políticas da esquerda no Brasil. Militantes fugidos da ditadura militar eram abrigados e escondidos em igrejas. Em alguns lugares, como no sul do estado do Rio de Janeiro e na Baixada Fluminense, a Igreja foi fundamental para a sobrevivência de políticos perseguidos pelos militares. Até religiosos torturados a história presenciou e nos deixa de legado. 

A consolidação das comunidades de base (CEBS), as lutas pela moradia de favelados que sofreram remoções ou que eram atingidos pela fome obtiveram o apoio de Pastorais importantes como a Pastoral de Favelas e a Pastoral da Criança, que foi determinante para garantia da sobrevivência de inúmeras famílias. 

Foi de dentro de estruturas de fé e de compreensão do bem comum que nos fundamos. Não neguemos as nossas raízes. Olhemos para o passado como possibilidade inspiradora para as ações que temos que ter daqui para frente. Não nos prendamos aos marasmo dos anos 2000 que distanciou a esquerda brasileira do seu lugar de organização. 

O colunista da Folha de S. Paulo, Joel Pinheiro da Fonseca, em recente publicação, encerrou um artigo dizendo “A fé humilde dos crentes possibilitou a esbórnia dos bispos. Curiosamente, não estou falando da Igreja Universal”. Tendo a concordar. 

* Walmyr Júnior é morador de Marcílio Dias, no conjunto de favelas da Maré, é professor, membro do MNU e do Coletivo Enegrecer. Atua como Conselheiro Nacional de Juventude (Conjuve). Integra a Pastoral Universitária da PUC-Rio. Representou a sociedade civil no encontro com o Papa Francisco no Theatro Municipal, durante a JMJ