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Jovem negro é cuspido em manifestação por parecer ser petista

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A intolerância e a insensatez humana nos deixaram perplexos com sua face mais cruel reveladas nas manifestações do 13 de março de 2016. Já se sabe que a adesão de novos segmentos sociais não aconteceu, porém o extremismo de uma classe econômica no Brasil deixou marcas que serão inesquecíveis. 

As facetas do nazismo e do fascismo foram vistas em diversas faixas e cartazes. Pedidos de intervenção militar, gestos que relembram os exércitos de Hitler, agressões desmedidas pelos simples fatos de cidadãos estarem nas ruas com blusas vermelhas ou com algo que incomodassem os manifestantes. 

O caso que me deixou mais estarrecido, e que apresento nesta coluna, aconteceu com o estudante, Diretor de Combate ao Racismo da UNE e militante do Coletivo Enegrecer, Rodger Richer. Caminhando com um grupo de amigos na tarde de domingo em Brasília para entender os anseios da parcela população que estava manifestando, Rodger e mais cinco amigos - quatro eram negros - sofreram ataques verbais, com palavrões, gritos e uma cusparada na cara apenas por “aparentarem ser petistas”.

Rodger publicou um texto seguido de um vídeo no site de relacionamentos Facebook que compartilho aqui com vocês: 

“CUSPIRAM EM MIM HOJE!!

Lá estou eu caminhando pela Esplanada dos Ministérios no final desta manhã e vejo manifestantes do ato anti-Dilma hostilizarem a mim e a colegas meus no meio do ato apenas pelo fato de "aparentarmos ser petistas": das seis pessoas que estavam comigo, quatro eram negras, das quais duas estavam com camisas estampadas: "A casa grande surta quando a senzala aprende a ler", uma com a estampa de Exu, e eu estava com uma camisa estampada com a imagem dos panteras negras. Todos nós somos militantes do Coletivo Enegrecer e do Movimento Negro Unificado, sendo que eu e Bruna Rocha, diretores da União Nacional dos Estudantes.

Eles não sabiam se éramos petistas, mas o simples fato de sermos negros e estarmos com essas camisas, nossa presença incomodou e os conservadores reagiram agressivamente contra nós. Eu passei a filmar a ação de um manifestante que agia agressivamente e ele reagiu literalmente dizendo que a bandeira do Brasil jamais será vermelha e cuspindo em mim! Nunca me senti tão humilhado! 

O que está nessas marchas golpistas é um verdadeiro ódio de classe e de raça, anti-petismo, ódio aos partidos e à própria política. Essa elite não aguenta mais ver negros e negras nos aeroportos, nas Universidades e ascendendo socialmente. Eu sinto nojo desse cara que está aí estampado nesse vídeo! Nós não queremos um Brasil de antigamente, que era pra poucos. Queremos um Brasil para todas as pessoas, negros e negras, mulheres, LGBTS, trabalhadores e trabalhadoras. Por isso, reafirmamos que a nossa luta é por mais amor, mais igualdade e mais democracia!

Racistas, não passarão!”

O vídeo pode ser acessado pela rede de relacionamentos em: 

httpss://www.facebook.com/rodger.richer/posts/1017545841653328

* Walmyr Júnior é morador de Marcílio Dias, no conjunto de favelas da Maré, é professor, membro do MNU e do Coletivo Enegrecer. Atua como Conselheiro Nacional de Juventude (Conjuve). Integra a Pastoral Universitária da PUC-Rio. Representou a sociedade civil no encontro com o Papa Francisco no Theatro Municipal, durante a JMJ.