ASSINE
search button

Natal virou tempo de violência, tortura e extorsão

Compartilhar

*Walmyr Junior

Mais um escândalo envolve militares da PM do Estado do Rio de Janeiro. Dessa vez, as vítimas eram jovens moradores do morro do Santo Amaro, no Catete, com idades entre 13 e 21 anos. O caso foi mais um, tido como normal, onde supostamente policiais torturaram os jovens com uma faca quente e armas. Como se não bastasse o terror físico e psicológico de uma agressiva tortura, os jovens sofreram ainda abuso sexual, foram obrigados a ficarem nus na rua e praticar sexo oral uns nos outros enquanto um deles filmava a cena.

O caso foi denunciado no dia 24\12 na 6ª DP e ao chegar à delegacia os jovens se depararam com seus torturadores, os mesmos policiais que já teriam baleado uma mulher e extorquido um motoqueiro na mesma blitz em que torturaramos jovens.

Os militares são lotados na UPP do Fallet, Coroa e Fogueteiro, no Centro do Rio, e estão presos administrativamente pela corporação.A PM afirma que vai responsabilizar os policiais diante das justiças comum e militar. Um procedimento julgará a expulsão dos agentes da corporação.

O que causa asco, ranço, repugnância, é saber que esse caso não foi isolado, ele se repete a todo instante.A prática da violência policial fez inúmeras vítimas esse ano e mostram que casos como o descrito acima não são uma exceção.

Afirmo que existe uma normatização desses casos por que a culpa não é só de algumas exceções criminosas da PM (até porque tem policiais coerentes na força), mas sim de um sistema militar patriarcal e preconceituoso criado para defender a coroa imperial e manter os privilégios da elite econômica que detinha o poder nos séculos passados e ainda hoje manda no país. A manutenção da formação, educação e ensino dado os policiais reverberam os interesses de fundação da PM e reproduzemcom naturalidade esses casos. 

Quantas mães choraram nesse ano por causa da PM? Quantas crianças perderam a chance de sonhar com seu futuro por que foram assassinadas pela PM?  Quantos cidadãos tiveram o pior Natal de suas vidas por não terem mais seus meninos, familiares e amigos sentados na ceia do dia 25 de dezembro por fruto da violência policial? 

Não tenho mais paciência para ver na televisão os casos de mortes dos pretos, pobres e favelados que foram e são assassinados pela força de segurança do nosso Estado. A guerra inventada por eles faz mais vítimas do que as grandes guerras que vemos no oriente médio. As cenas de assassinatos são mudadas a todo instante forjando ‘autos de resistência’ para justificar homicídios em massa, escândalos de desvio de verba de hospitais militares ocuparam as capas dos periódicos, abuso de força e autoridade são regras de condutas da corporação que mais mata no mundo, porém é também a que mais morre, além de ser a força militar mais corrupta e com menor prestigio entre a sociedade.

Até quando esse sistema falido de segurança vai dar conta de refletir que essa ferramenta genocida do Estado nos traz mais medo do que segurança? Até quando essa prática de guerra civil vai continuar nos tirando a paz? 

O natal, que é tempo de celebração da vida do menino Deus, vem perdendo seu encanto. Hoje muitas famílias se reúnem, apenas para chorar pela dor, saudade e ausência daqueles que foram vítimas do modelo de segurança publica vigente. Desmilitarizar a PM é preciso, é urgente, é necessário. Pedi ao papai Noel de presente que em 2016 essa pauta entre na ordem do dia.

* Walmyr Júnior é morador de Marcílio Dias, no conjunto de favelas da Maré, é professor e representante do Coletivo Enegrecer como Conselheiro Nacional de Juventude (Conjuve). Integra a Pastoral Universitária da PUC-Rio. Representou a sociedade civil no encontro com o Papa Francisco no Theatro Municipal, durante a JMJ.